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Químicos sob suspeita

Veículo: Textile Industry
Seção: Economia

Um grupo de cientistas internacionais apela aos fabricantes, retalhistas e consumidores para limitarem a produção e uso de químicos de impermeabilização e agentes antinódoa, de comum utilização na indústria de vestuário. 

Cerca de 200 cientistas de 40 países publicaram um comunicado no jornal americano “Environmental Health Perspectives”, advertindo para a emergência de novos compostos perfluorados (CPF) e a necessidade de os evitar.

Os químicos altamente perfluorados, como o ácido perfluorooctanóico (PFOA) ou o ácido perfluorooctanessulfônico (PFOS), eram comummente usados na indústria da moda e de outdoor, assim como no fabrico de tapeçaria, mobiliário, utensílios de cozinha e cosméticos. Contudo, a sua utilização tem sido significativamente reduzida nos EUA e eficazmente banida do território europeu, estando, no entanto, a ser substituídos por perfluoroalcoxialcanos (PFAS) de estrutura similar. 

Enquanto algumas alternativas fluoradas de cadeia curta aparentam ser menos propensas a bioacumulação, os cientistas afirmam que estas são tão persistentes no ambiente como as alternativas de cadeia longa ou apresentam produtos de degradação persistentes. Isto significa que a adoção de alternativas fluoradas poderá não reduzir a quantidade de PFAS no ambiente. Pelo contrário, devido à menor eficiência do PFAS de cadeia curta, é necessária a aplicação de uma maior quantidade de forma a obter resultados equivalentes aos tradicionais.

Apesar da comercialização de diversas alternativas fluoradas, os autores referem que pouca informação se encontra publicamente acessível sobre a sua estrutura química, propriedades, usos e perfil toxicológico.

O relatório destaca que o aumento da utilização de alternativas fluoradas conduz a níveis crescentes de produtos de degradação estáveis perfluorados no ambiente e, possivelmente, também na biota e seres humanos, aumentando o risco de efeitos adversos para a saúde humana e para o meio.

Os esforços iniciais que pretendiam estimar as emissões de PFAS foram condicionados pela incerteza relativa à formulação do produto, quantidades e localização de produção, eficiência no controlo de emissões e histórico de produção, aponta o relatório. Em acréscimo, a capacidade técnica de destruir PFAS é, atualmente, insuficiente em várias partes do globo.

Em resultado, os cientistas apelam à cooperação da comunidade internacional na limitação da produção e uso de PFAS e no desenvolvimento de alternativas mais seguras. Eles instigam cientistas, governos, fabricantes de químicos e produtos, organizações, retalhistas e consumidores a tomar um conjunto de ações modificadoras.

Junto dos produtores, os cientistas recomendam uma paragem no uso de PFAS quando não são essenciais ou caso existam alternativas mais seguras, rotulagem de produtos que contêm esse químico e desenvolvimento de métodos acessíveis e sensíveis de quantificação de PFAS a aplicar em testes de conformidade.

Simultaneamente, o relatório sugere às organizações, retalhistas e consumidores que evitem produtos que contenham, ou tenham sido produzidos com recurso a PFAS. Apela ainda ao questionamento sobre o uso de químicos fluorados de desempenho, frequentemente integrados em produtos com características antinódoa, de impermeabilidade e não aderentes.

Os fabricantes de produtos químicos estão a ser compelidos a disponibilizar publicamente informação sobre os PFAS, assim como a cooperar com investigadores e autoridades governamentais no desenvolvimento de métodos de eliminação seguros e divulgação de dados sobre o conteúdo de PFAS e diretrizes de eliminação segura junto da cadeia de aprovisionamento. Além disso, apelam também ao desenvolvimento de alternativas não fluoradas.

De igual forma, os cientistas destacam o papel das autoridades governamentais, através da aprovação de legislação que permita apenas aplicações essenciais de PFAS e execução de rotulagem que identifique usos. Sugerem, igualmente, a exigência da realização de testes toxicológicos mais extensos por parte dos fabricantes de químicos, divulgação pública da estrutura química e fornecimento de métodos analíticos validados para a deteção da presença de PFAS.



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