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População produtiva brasileira cairá a partir de 2023

Veículo: F. de São Paulo

Seção: Mercado

Pelas projeções mais recentes e consensuais para o crescimento econômico brasileiro, o país deixará de aproveitar o melhor momento de uma vantagem demográfica única em sua história para acelerar o desenvolvimento.

Com perspectiva de recessão neste ano e recuperação modesta nos próximos, a economia ainda terá de enfrentar, a partir dos anos 2020, a reversão do processo de crescimento da parcela da população em idade produtiva.

Chegará ao fim o período, iniciado nos anos 1990, de queda da proporção de dependentes –crianças e idosos– na população, que cria maior folga potencial para a poupança e recursos para educação, saúde e infraestrutura.

Diversos países conseguiram aproveitar o chamado bônus demográfico para dar um salto de patamar. É o caso do Japão e de nações europeias, que alcançaram o status de economia desenvolvida a partir dessa janela.

LIMITES

O Brasil, apesar de avanços observados na redução da pobreza e na inclusão educacional nas últimas décadas, não sofreu uma transformação equivalente até o momento –e avanços adicionais serão limitados pelo fraco desempenho esperado da economia no momento demográfico mais favorável.

O FMI previu, neste mês, que o Brasil crescerá, até o fim desta década, apenas 1,8% ao ano, em média –a metade da década anterior. Economistas de mercado consultados pelo BC também preveem um crescimento médio nesse patamar até 2019.

Nesse cenário, o mercado de trabalho deve manter a marcha lenta, limitando na prática o aumento da parcela da população que sustentaria o crescimento.

"Se a economia não se recuperar, no restante da década o Brasil vai perder as últimas vantagens trazidas pela janela de oportunidade demográfica", diz o professor e especialista em estudos demográficos José Eustáquio Diniz Alves, da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do IBGE.

ENVELHECIMENTO

A partir de 2023, a população produtiva deverá começar a cair no Brasil, refletindo o envelhecimento médio como resultado da maior longevidade.

Com isso, a contribuição da demografia para o crescimento passará a cair ano a ano, pressionando os gastos com saúde e aposentadorias.

"O país vai ter que rodar com custos maiores, sendo ainda um país de renda média", diz Jorge Arbache, professor de economia na Universidade de Brasília.

Ele vê como inevitáveis mudanças na Previdência e no SUS, além de um aumento da carga tributária.

Diante das restrições fiscais crescentes, a avaliação é que o país terá ainda mais dificuldade para superar o seu principal problema de competitividade: a baixa qualidade da educação.

O Brasil não conseguiu progredir de forma significativa nos rankings internacionais nas últimas décadas, mesmo com a redução relativa do número de alunos. E o número de jovens que não estudam nem trabalham continua expressivo –em 2013, havia 10 milhões de pessoas de 15 a 29 anos nessa situação, segundo dados do IBGE.

"Se foi assim no período de vacas gordas, dificilmente vai mudar no período de vacas magras", diz José Eustáquio.



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