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Menor renda disponível afeta varejo e vendas caem 1,2% no 1º bimestre

Veículo: Valor Econômico

Seção: Economia

Aliado ao desaquecimento do mercado de trabalho, o "realismo tarifário" reduziu a renda disponível das famílias e afetou o desempenho do comércio varejista no começo deste ano, tônica que deve persistir nos próximos meses.

Divulgada ontem pelo IBGE, a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) mostrou que o volume de vendas do varejo restrito (que não inclui automóveis e material de construção) caiu 0,1% de janeiro para fevereiro, feitos os ajustes sazonais, depois de ter crescido apenas 0,3% na abertura do ano ­ dado revisado de alta de 0,8%. Com isso, o resultado de fevereiro mostrou­se pior do que a estimativa das instituições ouvidas pelo Valor Data, que projetavam ligeira alta, de 0,1%, para o indicador na passagem mensal.

No primeiro bimestre, o comércio restrito diminuiu 1,2% em relação a igual período do ano passado, mas o tombo mais forte ocorreu na comparação entre fevereiro e o mesmo mês de 2014: nessa ótica, as vendas caíram 3,1% ­ a maior retração para o segundo mês do ano desde 2001, quando houve recuo de 5%. Os resultados do segmento ampliado ­ que, além dos oito setores pesquisados no restrito, engloba os de veículos e material de construção ­ são piores.

As vendas nesse conceito tiveram queda de 1,1% sobre janeiro, e diminuíram 10,3% sobre fevereiro do ano passado, recuo mais forte de toda a série histórica do varejo ampliado, iniciada em 2004. Esse número, no entanto, também sofreu influência do Carnaval, uma vez que o feriado caiu em fevereiro neste ano e, no ano passado, foi em março.

Para economistas, os dados do comércio se somam a outros indicadores ruins já conhecidos e reforçam a percepção de que o Produto Interno Bruto (PIB) voltou ao campo negativo no primeiro trimestre de 2015. Nos próximos meses, a expectativa é que as vendas continuem a desacelerar, influenciadas principalmente pela esperada trajetória de alta do desemprego.

Em fevereiro, a queda mensal foi espalhada em sete dos dez segmentos da PMC e atingiu tanto setores mais sensíveis à renda, como o de hiper e supermercados (­0,2%) quanto aqueles mais dependentes de crédito. Segundo Flávio Combat, economista­chefe da Concórdia Corretora, o perfil disseminado indica que o esfriamento do mercado de trabalho está se refletindo sobre o comércio.

Além dos supermercados, Combat menciona como exemplo de segmento que responde mais à renda o de tecidos, vestuário e calçados, cujas vendas diminuíram 0,7% no mês. "O bimestre está começando como 2014 terminou: restrição orçamentária e economia em baixa e, com isso, as famílias estão reduzindo o consumo", disse a gerente da coordenação de serviços e comércio do IBGE, Juliana Vasconcellos. Ela citou que a massa real de rendimentos caiu 1,5% entre fevereiro deste ano e igual mês do ano passado. Em 2014, a massa havia aumentado 4,2% na mesma comparação.

O desemprego e os salários, diz o economista da Concórdia, começaram a responder mais nitidamente ao enfraquecimento da atividade econômica ao mesmo tempo em que o governo iniciou a retirada de estímulos ao consumo, conjunção que acentuou o desempenho negativo das vendas de bens duráveis. Em fevereiro, as vendas de automóveis diminuíram 3,5%, e as de móveis e eletrodomésticos, 1,3%. "Isso já era esperado e, agora, o crédito ficou mais caro e os incentivos foram retirados. São dois movimentos que se complementam."

A recomposição de preços administrados também moderou o comportamento das vendas, acrescenta Natalia Cotarelli, do banco BI&P. A maior baixa na comparação com janeiro ocorreu no ramo de combustíveis e lubrificantes, que registrou queda de 5,3% nas vendas, trajetória que Natalia associa aos maiores preços destes itens. No primeiro trimestre, a gasolina subiu 9,8%. Ainda há poucos indicadores antecedentes divulgados referentes a março, mas Natalia avalia que as vendas de veículos apontam para novo recuo do varejo ampliado.

Com base em dados da Fenabrave, entidade que reúne as concessionárias, ela calcula que o volume comercializado de automóveis cedeu 2,8% entre fevereiro e o mês passado, feitos os ajustes sazonais. Para a economista, os números já conhecidos indicam que o PIB terá uma queda "razoável" de janeiro a março, acima de 0,5%. Combat, da Concórdia, também afirma que os dados estão em linha com a retração da atividade no começo do ano.

Em suas estimativas, o PIB recuou 0,5% em relação ao último trimestre de 2014. Em sua avaliação, 2015 será um ano difícil para a economia como um todo, e também para o consumo. Atualmente, a Concórdia trabalha com alta de 0,8% das vendas ampliadas no ano, mas Combat ressalta que essa previsão deve ser revista para baixo. "A questão dos combustíveis vai continuar pesando, projetamos alta de 8,1% para a inflação, que reduz a capacidade de consumo das famílias, e o endividamento não se dissolverá no curto prazo", disse o economista.



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