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Serviços sobem menos, mas "realismo tarifário" puxa elevação do IPCA no 1º tri

Veículo: Valor Econômico

Seção: Economia

O "realismo tarifário" deixou em segundo plano os efeitos do desaquecimento da atividade sobre a inflação, que, para economistas, já começaram a aparecer no primeiro trimestre, ainda que de forma tímida. Enquanto o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado ontem pelo IBGE, aumentou 3,83% de janeiro a março, puxado principalmente pelo salto de 8,47% dos itens monitorados, os serviços subiram 2,48%, segundo cálculos da Tendências Consultoria ­ abaixo do "índice cheio".

Em igual período de 2014, o IPCA havia avançado 2,18%, com aceleração de 2,8% em serviços. Em 12 meses, a influência do choque dos preços administrados sobre o IPCA, aliada à tênue descompressão dos serviços, levou a uma composição rara da inflação: pela primeira vez desde junho de 2005, a variação do grupo que reúne preços como aluguel, empregado doméstico e cabeleireiro ficou aquém da inflação total. Em 12 meses até março o IPCA avançou 8,13%, 0,1 ponto percentual acima da alta acumulada pelos serviços. De fevereiro para março, o indicador passou de 1,22% para 1,32%, maior alta mensal desde fevereiro de 2003, pressionado pelo reajuste médio de 22% nas tarifas de energia elétrica.

Os serviços cederam de 1,04% para 0,57%. Segundo analistas, esse movimento refletiu a saída do impacto dos aumentos em educação, que se concentram em fevereiro, mas também trouxe sinais de que já há dificuldade maior em reajustar preços no setor. Fabio Romão, da LCA Consultores, avalia que as passagens aéreas já refletem em alguma medida a piora do cenário econômico.

Em março, as passagens caíram 15,45%, depois do recuo de 23,8% do mês anterior. "Claro que há redução dos custos do setor por conta da queda do petróleo, mas a trajetória também tem a ver com a atividade. Estamos vendo muitas promoções." Romão também destaca a variação de preços de empregado doméstico, que tem sido uma das principais pressões sobre os preços de serviços nos últimos anos.

Na passagem mensal, esse item teve discreta aceleração, de 0,43% para 0,47%, mas o economista observa que, em igual mês de 2014, a alta foi bem maior, de 1,28%, e de 1,53% em março de 2013. A correção mais modesta do salário mínimo, principal indexador da remuneração das domésticas, e a maior dificuldade em obter reajustes reais explicam o comportamento mais benigno destes preços agora, diz. Para Fernando Rocha, economista e sócio da JGP Gestão de Recursos, os reflexos do ambiente recessivo sobre a dinâmica inflacionária devem ficar mais claros no segundo semestre, e a inflação de serviços pode chegar a dezembro em 7%, após ter encerrado 2014 em 8,3%.

Diante do aumento do desemprego e da alta da inflação, o poder de compra dos consumidores será reduzido, com possibilidade de queda real dos salários, quadro que complica repasses. Rocha menciona também o item recreação, que recuou 0,07% em março. Fora dos serviços, aponta que os segmentos de vestuário e de automóveis parecem não estar conseguindo repassar aumentos de custos, uma vez que a depreciação cambial dos últimos meses foi expressiva.

Na passagem mensal, a alta do item automóvel novo desacelerou 2,88% para 0,46%. Vestuário trocou retração de 0,6% por aumento de 0,59%, devido ao fim do período de liquidações e à entrada da coleção de inverno, mais cara. Adriana, da Tendências, afirma que esse grupo tem mostrado altas abaixo do padrão sazonal, o que pode estar relacionado ao esfriamento da demanda, mas, à exceção da parte de vestuário, não vê efeitos claros do ambiente recessivo já sobre os preços.

Como a inflação total está afetada pela recomposição dos preços administrados, Adriana argumenta que não é correto comparar a variação dos serviços com o "IPCA cheio", mas sim com os preços livres, que estão em 6,58% em 12 meses e 2,44% no primeiro trimestre. Como os serviços cederam menos que o previsto no primeiro trimestre, a Tendências deve revisar para cima a estimativa atual para alta do grupo no ano, de 7,5%. Consequentemente, e também em função do câmbio mais desvalorizado, a previsão de 7,9% para o avanço do IPCA será alterada.

Romão se diz confortável com sua projeção de que os serviços devem chegar a dezembro com alta menor do que 8%, o que não ocorre desde 2010. Segundo ele, o cenário ruim para a renda favorece a descompressão de preços no setor.



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