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Mercado aposta na extensão do ciclo de alta

Veículo: Valor Econômico

Seção: Economia

Apesar de o Banco Central sinalizar, no Relatório Trimestral de Inflação (RTI), que o ciclo de aperto monetário está próximo do fim, o mercado ainda resiste a acreditar nisso.

Ontem as taxas dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) fecharam em alta, com os juros futuros refletindo a maior probabilidade de alta de 0,50 ponto percentual na reunião do Comitê de Política Monétária (Copom) de abril, além de um aumento adicional em junho, cujas apostas estavam divididas entre 0,25 e 0,50 ponto.

A taxa do contrato de DI para 2016 encerrou a 13,55% ante 13,53% do ajuste do pregão anterior. Já o DI para 2021 avançou para 13,05% em relação a 12,95% da véspera, apoiado também pela subida das taxas dos títulos americanos no exterior.

Os analistas ainda veem a necessidade de o BC estender o ciclo de aperto monetário diante de expectativas de inflação ainda altas e do risco de uma desvalorização maior do câmbio. "Olhando as projeções de inflação, seria mais prudente o BC manter o ritmo de alta na próxima reunião e elevar a taxa Selic em 0,5 ponto percentual", diz Luciano Rostagno, estrategista­chefe do Banco Mizuho do Brasil, que prevê um aumento de 0,5 ponto da Selic em abril e uma alta adicional de 0,25 ponto em junho.

No cenário de referência, o BC vê a inflação encerrando 2015 em 7,9% e a 4,9% em 2016, considerando uma taxa de câmbio a R$ 3,15.

Para Rostagno, o BC deveria fazer um ciclo de aperto monetário mais longo e permanecer com a taxa de juros em um patamar elevado por mais tempo. Isso poderia restabelecer a credibilidade e ancorar as expectativas inflacionárias para levar a inflação para o centro da meta, de 4,5%, em 2016. O relatório do BC mostra que o mercado ainda vê a inflação acima de 5% no ano que vem.

Depois de os de juros futuros chegarem a refletir uma possibilidade de corte da Selic no fim de 2015, essa aposta hoje já saiu dos preços, com os contratos de DI incorporando uma pequena probabilidade de isso ocorrer em 2016.

O economista do Itaú Unibanco, Caio Megale, acredita que para a inflação convergir para a meta, o BC terá de subir os juros em mais 0,25 ponto percentual em abril e deixar a Selic em 13% ao ano até o fim de 2015. "O BC terá de ser persistente e manter o aperto, tanto monetário quanto parafiscal, por tempo suficiente para que a inflação convirja para a meta", afirma.

Megale acredita que, mesmo que a atividade fraca contribua para diminuir a inércia inflacionária e o repasse da desvalorização do câmbio para os preços seja menor, como sinalizou o BC, o centro da meta só deve ser alcançado no primeiro trimestre de 2017. Para o ano que vem, sua estimativa para o IPCA é de 5,5%, mesmo com a Selic em 13%. Mas essa perspectiva contempla um recuo ainda mais forte do PIB neste ano, de 1,1%. No cenário de referência do BC, a previsão para o PIB é de queda de 0,5%.

Câmbio e atividade serão os elementos chaves para o BC definir os próximos passos na política monetária. O principal risco no radar, diz Megale, é o câmbio. "O dólar se acomodou nas últimas duas semanas, mas há um risco de que ele volte a subir." Além disso, ele observa que, depois de uma queda forte, os preços das commodities se estabilizaram em fevereiro.

Ontem, o dólar caiu 0,44%, encerrando a R$ 3,1898 diante da perspectiva de que o BC deve seguir com o ciclo de aperto monetário, descolando do movimento no exterior.

Por fim, há os ajustes domésticos, entre eles, o fiscal, que precisam ser concretizados.

Rostagno, do Mizuho, destaca que a intensidade do repasse do câmbio para inflação vai depender da velocidade da desvalorização do câmbio. O banco trabalha com um câmbio a R$ 3,30 para o fim do ano, acima do cenário de referência do BC que considera o dólar a R$ 3,15. "Há um risco grande de ele ser surpreendido com câmbio mais alto do que o usado para projetar a inflação", afirma Rostagno.

Com uma visão diferente da maioria dos analistas, o superintendente do departamento econômico do Citi Brasil, Marcelo Kfoury, vê a possibilidade do BC começar a cortar a Selic a partir de outubro, prevendo uma redução de 0,50 ponto percentual naquele mês e outra em novembro. Ao longo de 2016, a Selic cairia ainda mais, terminando em 10,50%.

O principal fator que sustenta esse cenário é o impacto contracionista do ajuste fiscal, que ele espera que se reflita em um superávit de 1% do PIB neste ano e de 2% do PIB no ano que vem. "Mas é importante lembrar que uma perspectiva melhor para o fiscal depende da articulação política. Para que o corte de juro seja possível, também é preciso que a volatilidade no câmbio diminua, as leituras mensais do IPCA se mantenham durante o segundo semestre mais razoáveis e que o BC não se mostre "dovish" [inclinado ao afrouxamento monetário]", diz. O Citi espera mais duas altas de 0,25 ponto percentual da taxa Selic nas reuniões de abril e junho.



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