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Ação da indústria busca aprofundar os debates

Veículo: Valor Econômica

Seção: Economia

O cenário de restrição hídrica estimulou uma onda de iniciativas para aprofundar a discussão sobre o uso da água pelas empresas, boa parte encabeçada por entidades representativas do setor. Em pauta, questões como as melhores alternativas para a gestão do uso do insumo, casos de sucesso e a inter­relação entre os atores envolvidos, incluindo governo e população.

Na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o tema entrou na agenda na crise de desabastecimento de 2004. "A meta foi levar o setor industrial a se preparar para a eventualidade de uma nova crise, já que a indústria não pode prescindir do insumo", diz a gerente de meio ambiente Anícia Pio.

De lá para cá, parcerias com instituições de ensino, organizações como o Centro Internacional de Referência no Reúso da Água (Cirra), órgãos gestores, como a Agência Nacional das Águas, e empresas fornecedoras geraram um repositório de informações e manuais. Anualmente, a entidade organiza seminário e o Prêmio Fiesp Conservação e Reúso de Água, este ano em sua décima edição ­ 89% das empresas inscritas praticam reúso, consistindo economia de 59 milhões de m³ anuais.

Segundo Anícia, o esforço colaborou para a redução de 50% na captação das indústrias instaladas nas regiões dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, entre 2008 e 2012. Na região metropolitana, cerca de 65% das indústrias de grande porte já adotam alguma prática para reduzir o consumo, fazer reúso e fechar circuito.

"Já há consenso entre as empresas que a situação que vivemos não é crise abrupta, inesperada e passageira, mas uma situação em seu momento mais grave. Há algum tempo elas trabalham para o cenário de redução no fornecimento", diz o gerente de meio ambiente do Sistema Firjan (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro), Luiz Augusto Azevedo. Pesquisa realizada pela entidade indica que 30,6% das indústrias fluminenses já sofrem o impacto da crise hídrica e, nos últimos dois anos, 56,7% do setor adotou medidas de racionalização do uso da água, com redução de 25,6% no gasto do insumo.

Azevedo aponta ainda tendências como a redução no custo de tecnologias empregadas em reúso, como membranas para ultrafiltração e osmose reversa, bem como o surgimento de fabricantes nacionais no segmento. A grande novidade, porém, é viabilidade cada vez maior de programas de dessalinização, apesar de barreiras como custo e uso intenso de energia ­ o Estado conta com três ou quatro projetos deste tipo, diz. Além de participar de comitês de bacias, a Firjan também promove anualmente seminários e premiação sobre o tema e publicou manual sobre reúso. "As grandes empresas nos ensinam as inovações e nós temos papel de disseminar para as pequenas", resume.

Na Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), o cuidado com as pequenas gerou o Minas Sustentável, programa de extensão industrial implantado em 2010 para empresas de até 100 empregados que de lá para cá já visitou 2,4 mil empresas, das quais 40% já têm alguma ação para reduzir o consumo de água. "O setor produtivo trabalha neste sentido há cerca de dez anos. Principalmente as grandes empresas e as que têm certificação ISO 14000", avalia o gerente de meio ambiente Wagner Soares Costa. No Estado, o setor de siderurgia crava índice de reúso de 85%, a mineração reutiliza 80% e o setor têxtil, 60%. "A pergunta básica é o que acontece com o produto se faltar água", diz.

O reconhecimento da segurança hídrica como fator vital para a perenidade dos negócios é a linha mestra de publicação do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds) prevista para este mês. Em pesquisa mundial realizada em 2014 pela Iniciativa CDP Water Report com 573 empresas que detêm cerca de U$ 60 trilhões de ativos, 68% dos entrevistados responderam que estão expostos a riscos hídricos que podem impactar seus negócios e 60% acreditam que escassez e problemas com qualidade da água são os riscos mais relevantes.

O estudo preconiza a absorção do conceito de segurança hídrica pelas empresas, a revisão da operação de sistemas integrados (energia, hidroviário, abastecimento humano e demais usos), o estabelecimento de critérios participativos para alocação de água entre os diferentes usuários, o aprimoramento e integração de sistemas de informação de recursos hídricos e o aperfeiçoamento de instrumentos econômicos para gerir oferta e demanda de água. "A Política Nacional de Recursos Hídricos tem um instrumento de cobrança que pode ser aplicado no nível de bacia hidrográfica e é decidido pelo comitê de bacia. Mas são poucas que o implementaram", exemplifica Marina Santa Rosa, coordenadora da Câmara Temática de Água.



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