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Instabilidade do dólar paralisa empresas

 

Veículo: Folha de São Paulo

Seção: Economia

Incertezas sobre o rumo da taxa de câmbio travam planejamento de indústrias como química, eletrônica e têxteis

Problema é mais grave para setores que agora importam insumos porque cadeia nacional de fornecimento ruiu

Os altos e baixos do dólar complicaram o planejamento das empresas, em um ano já marcado por demanda fraca e crédito escasso.

As incertezas sobre o rumo da taxa de câmbio afetam diferentes setores: de importadores ao turismo, passando também pela indústria.

A situação é mais preocupante nos setores com percentual relevante de insumos importados. Em alguns casos, não há substitutos no Brasil.

É o que acontece com fabricantes de eletrônicos, que têm pelo menos 80% dos componentes importados.

"Essa volatilidade do câmbio deixa as importações numa situação muito difícil, os negócios ficam paralisados", diz Humberto Barbato, presidente da Abinee (associação da indústria elétrica e eletrônica). Em 2014, o setor importou US$ 18 bilhões em componentes eletrônicos.

Fabricantes de produtos químicos vivem o mesmo drama. Embora os insumos importados representem 36% do mercado nacional, em alguns casos, como o do metanol, não há alternativa no país.

Isso ocorre porque alguns elos da cadeia local de fornecedores desapareceram ao longo dos anos, devido à falta de competitividade provocada pelo câmbio valorizado.

O presidente-executivo da Abiquim, Fernando Figueiredo, diz que os negócios não estão paralisados e que as compras de insumos ocorrerão à medida que os estoques acabem. Como a maioria das empresas tem trabalhado com estoques baixos, a pressão já existe. "As empresas não têm alternativa a não ser comprar e repassar esse aumento para o preço final."

"Há necessidade de reajustes, mas o espaço é limitado porque a economia está enfraquecida", diz Fernando Pimentel, da Abit (indústria têxtil e de confecções).

Segundo Pimentel, a volatilidade do câmbio atrapalha a programação para a próxima coleção. Em algumas grandes redes de varejo, diz ele, o percentual de insumos importados chega a 80%.

CONSUMO

O câmbio também está tirando o sono de importadores de alimentos e bebidas. "O problema não é o dólar alto, mas instável. Não sabemos o que fazer, quando e como", diz Adilson Carvalhal Júnior, presidente da ABBA (associação do setor).

De acordo com ele, a tabela de preços de bebidas importadas foi reajustada em janeiro, mas precisará passar por um novo aumento. "A que dólar? Não sabemos. Tentaremos nos manter competitivos, mas provavelmente perderemos mercado."

Já o setor de turismo diz ainda não ter percebido o impacto do câmbio, pois a alta mais forte do dólar ocorreu após o Carnaval, já em baixa temporada. "Isso foi até um certo alívio para nós", diz Magda Nassar, vice-presidente da Braztoa (associação das operadoras de turismo).

Para Edmar Bull, da Abav (associação das agências de viagens), os turistas esperam a instabilidade passar para programar as próximas férias. "O brasileiro não vai deixar de viajar", diz. A crise pode, no entanto, afetar a "nova classe média".



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