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Preocupação com futuro político derruba bolsa e faz dólar disparar

Veículo: Valor Econômico

Seção: Economia

O aumento do risco político permeia os negócios no mercado brasileiro nesta segunda­feira. O dólar testa novas máximas, desta vez na casa de R$ 3,10, movimento acompanhado pelos juros, enquanto a Bovespa perde o suporte dos 50 mil pontos.

Os investidores reagem à confirmação da “lista de Janot”, com os nomes de políticos envolvidos na Operação LavaJato, apresentados na semana passada ao Supremo Tribunal Federal (STF) pelo procurador­geral da República, Rodrigo Janot. A lista reforça a avaliação de que o governo terá dificuldades em aprovar as medidas de ajuste fiscal no Congresso.

O mercado também digere o pronunciamento feito ontem à noite pela presidente Dilma Rousseff. A presidente aproveitou a homenagem ao Dia da Mulher para defender o ajuste fiscal e pedir apoio da população e do Congresso na implementação das medidas que afetam a “todos”. A reação da população foi imediata, com panelaços, buzinaços e vaias em várias cidades durante o pronunciamento.

A preocupação com um possível impeachment da presidente também está na pauta, movimento que pode ganhar força no próximo dia 15 com o protesto que está sendo organizado nas redes sociais.

E a instabilidade política no Brasil já se reflete na Bolsa de Madri, onde várias empresas possuem exposição a negócios no Brasil. Lá fora, a Grécia volta ao centro das atenções, com a retomada das conversas sobre o pacote de resgate do país.

Câmbio

Fuga do risco e pânico irracional. Essas são algumas das definições usadas por profissionais para tentar explicar a forte alta do dólar hoje, que testou o limite dos R$ 3,10 e tocou na maior cotação intradia desde 28 de junho de 2004, aos R$ 3,1098.

O que está claro é que o movimento tem fundamentos domésticos, uma vez que outras moedas emergentes hoje tiveram um dia de correção e operaram com ganhos na comparação ao dólar pela manhã. Às 13h33, o dólar caía 0,34% ante o peso mexicano, recuava 0,74% ante a lira turca e perdia 0,18% na comparação com a rupia indiana.

“Há um pânico irracional, descontrolado, movendo os ativos nesta manhã”, define um experiente operador de um grande banco paulista. O receio de uma crise institucional que paralise o governo está por trás dessa piora de humor e justifica um movimento de proteção por parte de investidores, que acaba gerando também uma onda de ordem de paralisação de seus negócios (Stop loss) nos mercados. “Ainda que exista a chance de tudo isso passar dentro de duas semanas, ninguém quer pagar para ver”, define um operador.

Às 13h21, o dólar comercial era negociado a R$ 3,1051, com alta de 1,61%. Dólar futuro para abril sobe 1,24%, para R$ 3,1227.

Juros

Alinhados com a forte alta do dólar, os juros futuros dispararam nesta manhã. Os contratos mais longos ampliaram o prêmio de risco, refletindo a clara deterioração dos cenários político e econômico. Já os mais curtos ganharam tração demonstrando que, para agentes, é maior a probabilidade de o Banco Central ter de ser mais firme no ciclo de aperto monetário diante da forte desvalorização do câmbio. Na curva, os contratos já contemplam praticamente mais duas altas de 0,75 ponto.

“Na visão do mercado, a política monetária pode ser hoje o único instrumento disponível para o governo fazer frente à onda de instabilidade que provoca a disparada do dólar”, afirma o economista­chefe e gestor de Investimentos da INVX Global Partners, Eduardo Velho, referindo­se aos sinais de instabilidade política do governo.

Para o economista-­chefe da Opus Gestão de Recursos e professor da PUC­Rio, José Marcio Camargo, além do aumento de alguns riscos, como o político e o fiscal, há questões já “inexoráveis” pressionando o mercado, como um quadro recessivo e a inflação muito alta. Marcio Camargo diz que revisou sua estimativa para o PIB neste ano de queda de 1% para uma retração entre 2% e 2,5%. “Isso, sem racionamento”, afirma.

Para a inflação, sua estimativa é de alta de 8,5% este ano. “Mas não me surpreenderia se a inflação alcançasse dois dígitos”, diz. Por isso, a clara intenção do Banco Central de parar de subir os juros em breve não deverá ser possível. “O BC vai ter que subir a Selic na próxima reunião em, no mínimo, 0,5 ponto percentual”, afirma.

Hoje, a pesquisa Focus mostrou aumento da mediana das estimativas para o IPCA em 2015 de 7,47% para 7,77%. Já para o PIB em 2015, a projeção caiu de ­0,58% para ­0,66%.

Na BM&F, às 13h16, o DI janeiro/2016 era negociado a 13,69% ao ano, ante 13,51% ao ano na sexta­feira. DI janeiro/2017 subiu de 13,43% ao ano para 13,66% ao ano. DI janeiro/2021 tinha taxa de 13,07% ao ano, ante 12,85% ao ano.

Bolsa

A semana começa pesada na Bovespa, com preocupações sobre o ambiente político, impactos da operação Lava­jato em várias empresas e também tensão com o cenário externo.

Às 13h16, o Ibovespa recuava 1,79%, para 49.086 pontos, com volume de R$ 1,9 bilhão. Entre as principais ações do índice, Itaú PN (­3,20%) e Bradesco PN (­3,07%) puxam as perdas, seguidas por Petrobras PN (­1,08%) e Vale PNA (­1,17%).

“O mercado está mais pessimista do que na semana passada. A crise política continua, o dólar está forte e o cenário para os emergentes, mais vulnerável”, afirma o estrategista da Guide Investimentos, Luis Gustavo Pereira.

Além das questões domésticas, Pereira lembra que o dado de geração de empregos nos Estados Unidos, divulgado na sexta­feira, alimentou as expectativas de que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano ) eleve os juros no meio deste ano, o que colabora para a fuga de recursos de mercados emergentes e para o fortalecimento do dólar perante outras moedas.

No setor bancário, a possibilidade de rebaixamento da nota risco de crédito das instituições pela Moody’s pressiona os papéis. Segundo reportagem do “Brasil Econômico, a reavaliação dos ratings está ligada aos riscos impostos pela investigação de 24 empresas na Operação Lava­Jato, todas com empréstimos nos bancos.

Os desdobramentos da Lava­Jato hoje atingem indiretamente as ações da Cetip (­5,79%), que lideram as perdas do Ibovespa e figuram como o segundo maior volume do dia, com R$ 133 milhões. Investidores reagem à denúncia feita pelo doleiro Alberto Youssef de pagamento de propina no convênio realizado entre a Fenaseg e o Denatran no sistema de registro de restrições (gravames) de financiamento para aquisição de veículos. O sistema foi desenvolvido pela GRV, empresa adquirida pela Cetip no fim de 2010. A informação sobre a denúncia foi publicada neste domingo pelo jornal “Folha de S.Paulo ”.

Entre as maiores altas do Ibovespa estão CSN ON (2,63%), Braskem PNA (2,20%) e Gerdau PN (1,04%). Na safra de balanços, o destaque do dia é Light ON (­2,40%). A distribuidora de energia trouxe lucro de R$ 520,1 milhões no quarto trimestre, aumento de 303,2% sobre igual período de 2013.

Internacional

A instabilidade política no Brasil, que levou hoje o dólar à marca de R$ 3,10, teve reverberações em mercados do exterior nesta abertura de semana. Uma das razões apontadas por analistas para a queda de 0,5% no índice IBEX 35, da Bolsa de Madri, pela manhã, é a forte exposição de empresas do país a negócios no Brasil.

A analista Estefania Ponte, do BNP Paribas, avalia que o risco político da Espanha – às vésperas de eleições regionais, no dia 22, na Andaluzia – foi acentuado nesta segunda­feira pelo fluxo negativo de notícias que chegam da América Latina, em particular do Brasil e da Venezuela ­ neste caso, as preocupações derivam de vencimentos de dívida previstos para este mês.

A Grécia, contudo, segue como o foco das preocupações dos investidores estrangeiros, especialmente os europeus. A Grécia e seus credores internacionais precisam retomar, rapidamente, as conversas quanto ao pacote de resgate do país, de forma que o governo grego possa ter a financiamento, disseram nesta segunda­feira ministros de Finanças da zona do euro, que integram o chamado Eurogrupo.

Os ministros voltam a se reunir hoje em Bruxelas, após a apresentação, na sexta­feira, de uma nova lista de propostas de reformas econômicas. O Banco Central Europeu (BCE) iniciou hoje, conforme esperado, o programa de compras de títulos, embora, até o momento, os mercados acionários do continente tenham reagido com indiferença, seguindo pouco acima ou pouco abaixo da estabilidade.

Às 12h41, o DAX, de Frankfurt subia 0,27%, aos 11.582,22 pontos, o FTSE 100, de Londres, caía 0,53%, a 6.875,30 pontos, e o CAC 40, de Paris, recuava 0,45%, aos 4.941,80 pontos.

Os índices acionários de Nova York, por sua vez, abriram nesta segunda­feira em alta, buscando se recuperar das fortes vendas observadas na sexta­feira, sob o efeito da forte leitura do relatório de empregos nos EUA, o qual reforçou a expectativa por aumento de juros do Federal Reserve em junho.

Às 12h23, o Dow Jones subia 0,57%, aos 17.9571 pontos, enquanto o S&P 500 avançava 0,23%, aos 2.076 pontos, e o Nasdaq caía 0,05%, aos 4.925 pontos.

Os preços dos Treasuries operam em alta – e os rendimentos, em queda – nesta segunda­feira, após terem registrado, na sexta­feira, sua maior onda de vendas desde novembro de 2013. Às 12h40, os juros dos Treasuries de 10 anos caíam para 2,211%, ante 2,240% do fim da sexta­feira, enquanto os dos papéis de 30 anos recuavam para 2,813%, ante 2,839% na mesma base de comparação.

Os preços do petróleo – que mais cedo operavam sem direção única – sobem nesta segunda­feira, com os números de uma empresa provedora de dados sobre o setor, a Genscape, tendo apontado que os estoques de petróleo em Cushing, Oklahoma – centro de distribuição da commodity negociada na Bolsa de Nova York (Nymex) – cresceram em 1,7 milhão de barris, menos do que o esperado para a semana passada.



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