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Para empresários, incertezas na economia condenam país à ineficiência
Veículo: Folha de São Paulo
Seção: Economia
Empresários brasileiros relatam que a sobrevivência aos frequentes altos e baixos da economia do país exige planejamento para guerra.
"Aqui você precisa ter sempre um colchão muito maior para imprevistos", afirma Antonio Setin, dono e presidente da construtora Setin.
O problema, ressalta, é que esse colchão implica operar com ampla sobra de caixa, o que reduz a eficiência do negócio. Recursos que poderiam ser aplicados em reinvestimento, ampliação de operações ou mão de obra acabam parados.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
"No Brasil, você precisa operar com 20% a 30% mais caixa do que se estivesse em um país mais estável, com regras claras e confiáveis", diz.
A opinião é parecida à do empresário Arri Coser, que ficou famoso com a churrascaria Fogo de Chão e hoje tem outras marcas no setor. O segredo, diz, é não ter dívida.
"Tivemos crescimento lento, mas nunca nos endividamos. O Brasil vai e volta porque você faz planejamento com juros a 5% ao ano e capta o dinheiro, mas aí os juros passam para 12% ou 13%."
VOO DE GALINHA
Booms e estouros têm marcado a história econômica do Brasil desde sempre. O crescimento acelera, o país parece pronto para decolar rumo ao desenvolvimento, mas, de repente, sofre uma freada e o ciclo é abortado.
Esse tipo de surto de expansão interrompida ocorreu no período do "milagre econômico", nos anos 1970, durante a ditadura militar.
Voltou a se repetir brevemente em meados da década de 1980. Ensaiou nova aparição com a estabilização da inflação entre 1994 e 1995.
A fase mais recente teve início em meados da década passada e culminou com uma taxa de expansão em níveis asiáticos, de 7,5%, em 2010.
A prosperidade, impulsionada por políticas que ajudaram a arrumar a economia e pela forte demanda externa por commodities brasileiras, chegou a surpreender.
"Em 2010, tivemos um empreendimento de 935 unidades residenciais e comerciais que esgotou dois dias antes do lançamento. Isso eu nunca tinha visto", diz Setin.
A percepção de que a hora do Brasil tinha chegado alçou o Cristo Redentor à condição de foguete na capa da, prestigiada revista britânica, em 2009.
Mas já em 2013, a revista parodiou sua própria capa, agora com o Cristo transformado num projétil desgovernado rumo ao chão. Há duas semanas, o país protagonizou nova capa da "Economist", dessa vez atolado.
Colunista da publicação, Michael Reid, coautor da reportagem de capa de 2009, quando era editor da revista para América Latina, disse à Folha que a imagem se justificava jornalisticamente por refletir o momento.
Ele lembra que o texto ressaltava riscos e dificuldades que o país ainda enfrentaria.
Para ele, a crise atual deriva de erros de política econômica, e o país enfrenta uma difícil combinação: grande recessão com governo fraco.
"A história se repete muitas vezes, mas a história achará difícil explicar isso. Esta recessão era evitável. Não há elemento externo que justifique. Fatores estruturais agravaram o contexto."
Reid cita a baixa poupança doméstica, que desencadeia altos deficit em conta-corrente, e a economia fechada como entraves. O país tem a menor participação do comércio exterior no PIB entre os 179 países sobre os quais o Banco Mundial tem dados.
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