Notícias

Após dois anos de penúria, expansão do PIB em 2016 desafiará Copom?

Veículo: Valor Econômico

Seção: Economia

Após crescimento econômico zero ou negativo em 2014 e 2015, como prevê o mercado financeiro, a perspectiva de expansão gradual da atividade a partir de 2016 torna­se mais relevante para as projeções de inflação. A partir do momento em que a economia voltar a mostrar sinais de crescimento, as empresas irão transferir parte do aumento de custos que tiveram nos últimos anos – e que estão represados ­­ para os preços ao consumidor. Quem alerta é o economista Mauricio Nakahodo, do Banco de Tokyo­ Mitsubishi UFJ Brasil, em entrevista ao Valor PRO para a pesquisa que reuniu a opinião de 34 instituições financeiras e consultorias sobre os rumos da política monetária brasileira.

Nakahodo, que projeta expansão de 1,3% para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2016, lista outros fatores de pressão de custos sujeitos a repasse nos preços finais: ‘pass­through’ da depreciação cambial, energia elétrica mais cara, aumento do diesel via custo de transporte e reajustes reais de salários.

Essa perspectiva ­­ somada ao fato de que a economia brasileira permanecer muito indexada, com um elenco importante de contratos sendo reajustados com base na inflação passada, carregando, portanto, a inflação para o ano seguinte – justifica a desaceleração não tão intensa do IPCA esperada por Nakahodo para 2016, de 5,80%. O economista explica que os impactos acumulados e defasados da política monetária, junto a uma política fiscal austera, devem contribuir para a desaceleração gradual da inflação a partir de 2016, mas não a ponto de fazê­la atingir o centro da meta de inflação, de 4,50%. E, neste ano, calcula o economista do Tokyo­Mitsubishi , a inflação ficará o tempo todo acima do teto da meta em função de reajustes de preços administrados, sobretudo energia elétrica, e da taxa de câmbio que deve permanecer depreciada ao longo do ano.

Para Cristiano Oliveira, chefe do Departamento de Pesquisa Macroeconômica do Banco Fibra, o fato de as expectativas de inflação para 2016 e 2017 estarem acima do centro da meta justifica o aumento da Selic amanhã, para 12,75%, mesmo com a atividade econômica bastante enfraquecida. “Na ata referente à reunião do Copom de janeiro, o comitê indica que o patamar alto da inflação atual, reflete, em parte, a ocorrência de dois importantes processos de ajustes de preços relativos na economia – realinhamento dos preços domésticos em relação aos internacionais e realinhamento dos preços administrados em relação aos livres. E é provável que Imprimir () Casa das Caldeiraso ciclo de alta da Selic esteja perto do final já que a taxa real de juros aproxima­se da estimada taxa neutra. Para o último trimestre do ano contamos com o início do ciclo de afrouxamento monetário que deve levar a Selic a 12% ao final de dezembro”, explica Oliveira para quem, naquele momento, o balanço de riscos deverá indicar alguma convergência da inflação de preços livres ao centro da meta para o período de dois anos à frente e atividade econômica ainda mais enfraquecida.

O economista-­chefe da MB Associados, Sergio Vale, que também trabalha com perspectiva de recuo da Selic ainda neste ano, associa a possibilidade de a inflação cair, dos 7,30% que estima para 2015, para os 4,50% em 2016 aventados pelo Copom com uma recessão “muito mais profunda do que teremos”.“Pode até acontecer, mas teremos mais clareza sobre isso em abril, quando o período de chuvas tiver passado e soubermos como será a necessidade de racionamento de água e energia. Por exemplo, um corte de energia de 15% pode levar o PIB a cair 2,5% na nossa estimativa. Por enquanto mantemos 1% de queda de PIB, mas isso não será suficiente para diminuir a inflação dado os reajustes de energia que teremos. De qualquer maneira, inflação de 7,3% precisa de ação efetiva do BC para impedir que ela permaneça nesse patamar nos próximos anos, independentemente da fonte de elevação.”

O momento leva Sergio Vale a lembrar do lendário presidente do Federal Reserve, Paul Volcker. “Nos anos 70, nos Estados Unidos, o Fed pré­Volcker achava que a inflação era um problema de choque de oferta e que não havia muito o que o banco fazer, até que Volcker chegou ao comando da instituição e chamou a responsabilidade para si. A paulada de juros foi forte, mas necessária para ajustar a inflação para baixo.

Uma ação firme do BC é inevitável, quando a inflação ganha vida própria e reina a descrença de que haverá algum controle sobre os preços. Na semana passada, o núcleo do IPCA­15 acumulado em 12 meses chegou a 6,6% e subindo, relata Vale. “A esse ritmo, o que se vê é que a política fiscal terá dificuldade em fazer um ajuste significativo e o BC não poderá esperar para saber se a Fazenda conseguirá entregar o [ajuste] que prometeu. Depois de quatro anos de decisões que não nos pareceram as mais acertadas, especialmente pelo patamar de inflação em que estamos, o BC precisaria de um choque de credibilidade muito maior. Esse choque até agora não aconteceu.”

Rodrigo Alves Melo, economista­chefe da Icatu Vanguarda, prevê inflação de 5,70% em 2016, e diz que para a credibilidade do regime de metas para a inflação seria interessante uma elevação transitória da meta para 2015 e 2016 e a volta para a meta central de 4,5% em 2017. Para 2016, Melo sugere meta de 5,50%. “Teríamos um número, na nossa opinião, mais crível e simétrico para o próximo ano. Uma meta de 4,5% em 2016 exigiria doses cavalares de juros e ajuste fiscal, tornando o objetivo de inflação pouco crível. Nosso cenário base contempla inflação rodando acima de 7,5% em 12 meses em todos os meses restantes do ano”, informa.

Roberto Luis Troster, da Troster & Associados e ex­economista­chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), embora considera “pouco provável, mas possível” a convergência da inflação para a meta em 2016, julga mais oportuno a mudança da meta de inflação para este ano, 2015, “digamos para 6%, e colocar uma meta de longo prazo para a inflação. Isso daria mais credibilidade à autoridade monetária”, conclui.



Compartilhe:

<< Voltar

Nós usamos cookies em nosso site para oferecer a melhor experiência possível. Ao continuar a navegar no site, você concorda com esse uso. Para mais informações sobre como usamos cookies, veja nossa Política de Cookies.

Continuar