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Piora na indústria indica semestre ruim para investimentos, prevê FGV

Veículo: Valor Econômico

Seção: Economia

A piora da avaliação da indústria em relação à situação atual e maior pessimismo sobre o futuro levaram o índice de confiança do setor a recuar 3,4% em fevereiro, depois de subir 1,9% em janeiro.

O Índice de Confiança da Indústria (ICI) indicador da Fundação Getulio Vargas chegou a 83 e se mantém pelo nono mês seguido em nível considerado “extremamente baixo”­ inferior a 90,2, de acordo com a divisão feita pelo Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (Codace), que leva em conta os períodos de recessão enfrentados pelo Brasil.

“É como se a indústria já estivesse em clima recessivo”, pondera Aloisio Campelo, superintendente adjunto para ciclos econômicos da FGV/Ibre. Os dados divulgados nesta manhã, segundo o economista, ainda não dão sinais de que essa fase de contração esteja perto do fim.

A componente de curto prazo do ICI – o Índice de Situação Atual (ISA) – trouxe dados bastante negativos em fevereiro, com queda de 2,1% sobre o mês anterior, mas foi o Índice de Expectativas (IE), que tenta captar a avaliação das empresas industriais das condições de negócios para os próximos seis meses – e, por consequência, a disposição do setor para investir –que apresentou os dados mais preocupantes.

O indicador da situação futura dos negócios manteve a trajetória descendente observada desde o início do segundo semestre e chegou a 96,9 – 22,9% das empresas afirmaram acreditar que os próximos seis meses serão piores e 19,8% esperam que o semestre seja melhor.

Segundo Campelo, é raro que na sondagem o número de empresas com expectativa de um cenário futuro pior seja superior ao de otimistas. “Mesmo quando a economia está mais difícil, os empresários costumam se manter no campo neutro. Quando eles dizem que as coisas estão ruins, é porque elas estão ruins mesmo”.

Apesar da melhora no nível do câmbio, que em um primeiro momento pode beneficiar os exportadores, outros fatores estão pesando mais para a indústria neste começo de ano, avalia o economista. Em fevereiro, o nível de utilização da capacidade instalada (Nuci) se manteve, como nos três meses anteriores, abaixo da média de 84% dos últimos 60 meses, em 81,6%.

A parcela de empresas que disse acreditar em uma redução da produção nos próximos três meses, por sua vez, subiu de 13,3% para 21,4%, reforçando a avaliação, segundo Campelo, de que o primeiro trimestre de 2015 deve ser o sétimo seguido de retração da produção industrial.

Câmbio

A desvalorização cambial observada neste início de ano ainda não se reflete nos índices de confiança da indústria exportadora, embora algum otimismo já apareça nas expectativas de médio prazo. Divulgado nesta manhã, o índice de confiança do setor calculado pela Fundação Getulio Vargas (FGV) mostrou uma queda no nível de demanda externa em fevereiro de 9,4% em relação a janeiro e de 7,6% sobre o mesmo mês de 2014.

O número de empresas entre as 1.133 respondentes que declararam que a demanda vinda de fora foi fraca neste mês subiu de 12,1% em janeiro para 20,2%. Apenas 4,2% relataram demanda forte. Com a diferença, o indicador chegou a 84, nível inferior ao da média dos últimos 60 meses, 90,9.

“A conjuntura deve estar pesando mais neste momento do que a desvalorização do real”, avalia Aloisio Campelo, superintendente adjunto para ciclos econômicos da FGV/Ibre. É provável, afirma o economista, que as empresas estejam ainda buscando fechar novos contratos no exterior ou recuperar a fatia do mercado internacional que perderam no último ciclo de valorização do real. Ao mesmo tempo, têm de lidar com fatores como o aumento de custos de insumos, como a energia elétrica, o encarecimento do crédito e os riscos de racionamento.

Apesar de ter melhorado desde agosto, o nível de estoques da indústria continua elevado – neste mês, 10,8% dos entrevistados relataram que eles são excessivos, contra 14,6% em outubro e 8,7% no mesmo período de 2014. Gêneros bastante vulneráveis à concorrência externa, ressalta Campelo, como têxteis e de vestuário e calçados seguem com os níveis bastante elevados.

As empresas esperam, entretanto, que o novo nível do câmbio as ajude a recuperar as vendas no exterior nos próximos meses – o nível de demanda externa prevista subiu quase 1% em relação a janeiro. “O setor externo pode ser um válvula de escape importante para a indústria neste ano”, comenta o economista, referindo­se ao pessimismo do setor em relação à recuperação da demanda interna. Em fevereiro, essa variável caiu 4,8% sobre janeiro e 20% em relação ao mesmo período do ano passado.



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