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2015: o ano dos sobreviventes

Veículo: Valor Econômico

Seção: Economia

O ano teve início com expectativas deterioradas para diversos segmentos da economia. Em 2014, o esgotamento do modelo de crescimento baseado em incentivos ao consumo e desoneração de impostos, somado aos efeitos negativos dos dias parados em razão da Copa do Mundo e a uma disputa eleitoral intensa, com os agentes econômicos em "modo de espera", resultou na progressiva revisão para baixo da projeção de crescimento. De 2% de alta no Produto Interno Bruto (PIB), a previsão caiu a 0% de crescimento esperado.

Aos principais riscos já existentes para um fraco desempenho econômico ao longo de 2015, como o ajuste fiscal em curso, o aumento de juros, a inflação acima do teto da meta, a queda no preço das commodities (minério e petróleo) e a recente perda de grau de investimento da Petrobras, determinada pela agência Moody's, foram acrescidos o risco de racionamento de água e energia e os impactos das investigações da operação "Lava­Jato" na economia real. Acrescenta­se a eventual necessidade de demissões, caso o prolongamento do quadro recessivo contagie a dinâmica potencial de crescimento do PIB nacional.

As dificuldades econômicas e a ausência de um maior grau de previsibilidade para os próximos anos levam a um comportamento de redução de investimentos das empresas, ou postergação, além da reavaliação das estratégias de crescimento, contemplando um período de ajustes na economia que afetam potencialmente a rentabilidade futura dos negócios.

O atual quadro político­econômico exige atenção maior na tomada de decisões dos gestores de recursos e investidores. Não basta avaliar as possibilidades de ganho da carteira de investimento; será necessário um olhar atento às probabilidades de perda, à capacidade de preservação do patrimônio dos investidores e à busca de oportunidades de valorização do capital.

As oportunidades associadas a um nível de risco­retorno compatível ao atual momento estão presentes para aqueles investidores capazes de identificar as variáveis fundamentais das empresas analisadas, ou seja, é essencial o detalhamento da dinâmica do setor ao qual a empresa está inserida. As empresas que apresentam tal resiliência, acrescida de uma capacidade de crescimento sustentável, elevada geração de caixa e retorno sobre o investimento, estão mais propensas a alcançarem resultados melhores.

Destacamos duas empresas com este perfil de "sobrevivência" ao cenário atual: Ultrapar e Cielo. São companhias eficientes nos setores em que atuam e que mostram plena capacidade de execução das estratégias de negócio, com resultados econômico­financeiros bastante sólidos nos últimos anos.

A Ultrapar é uma holding com negócios em varejo de combustíveis (Ipiranga), especialidades petroquímicas (Oxiteno), distribuição de gás GLP (Ultragaz), logística de granéis líquidos (Ultracargo) e varejo farmacêutico (Extrafarma). Possui notório histórico de resiliência nos mais diversos ambientes econômicos, pois seus segmentosde atuação possuem "avenidas de crescimento" independentes das adversidades conjunturais. É também reconhecida pela excelência da gestão do "top management" [alto escalão].

O mercado de combustíveis no Brasil fechou 2014 com crescimento consolidado de 6,3%, favorecido pelo bom desempenho dos combustíveis de ciclo Otto (gasolina, etanol e GNV) e pelo descolamento histórico das vendas de diesel com relação ao PIB, que teve avanço de 3,1% em relação a 2013. O crescimento é sustentado pelo acréscimo de veículos na frota nacional total.

Já na parte dos petroquímicos, o benefício é sentido pela característica de seus produtos, muitos deles com contratos de longo prazo e demanda cativa e, também, pela desvalorização do real em relação ao dólar. A distribuição de GLP, as farmácias e a logística são os outros segmentos de destaque, que proporcionam certa previsibilidade para os fluxos de caixa futuros.

A Cielo possui uma característica marcante: líder em seu segmento de atuação, investe com muita ênfase em tecnologia e busca por inovação. Em pesquisa de campo, aprendemos que alguns estabelecimentos aceitam pagar um pouco mais para ter a Cielo como parceira. Investimentos relevantes, inclusive por meio de aquisições, vêm sendo feitos nesta área e acabam se tornando diferenciais importantes no ambiente competitivo.

A empresa segue entregando bom crescimento de lucro, boa geração de caixa e dividendos atrativos, tendo como características a proteção contra a inflação e vetores próprios de crescimento. Também não se observa uma competição irracional dentro do setor que resulte em quedas de rentabilidade mais a frente.

A arte na gestão de um portfólio de ações ocorre nas escolhas certas em momentos difíceis e na capacidade de leitura adequada dos cenários mais distintos. Algumas empresas respondem melhor que outras aos desafios apresentados a elas. Tais virtudes são relevantes e são colocadas em evidência quando os resultados financeiros surpreendem positivamente o mercado, fazendo a diferença na rentabilidade do portfólio.

Em 2015, as sobreviventes podem continuar entregando um ótimo retorno aos investidores. 



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