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Núcleo político da Presidência começa a divergir

 

Veículo: Valor Econômico

Seção: Economia

Mercadante: no PT, ministro é responsabilizado pelo isolamento da presidente da República no Palácio do Planalto Com pouco mais de 40 dias de funcionamento, o G-6 - grupo de aconselhamento político criado pela presidente Dilma Rousseff - exibe os primeiros sinais de fratura. O mais claro são as versões desencontradas do Palácio do Planalto e do Partido dos Trabalhadores para a presença da presidente Dilma Rousseff na festa de comemoração dos 35 anos do PT, celebrados na sexta-feira, em Belo Horizonte. Pivô da discussão, o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, havia sido levado na manhã de quinta-feira para depor na Polícia Federal no inquérito que apura as denúncias de corrupção na Petrobras. O G-6 discutiu se a presidente deveria ou não ir ao encontro, na própria sexta-feira, 6. O chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, teria se posicionado contrário à presença de Dilma - o que o ministro nega com veemência -, e contraditado, na reunião, pelos ministros Jaques Wagner (Defesa) e Ricardo Berzoini (Comunicações). Mercadante é responsabilizado no PT pelo isolamento da presidente da República no Palácio do Planalto. O assunto animou as conversas da reunião da Executiva Nacional do PT, na capital mineira. Do G-6, apenas o chefe da Casa Civil não esteve presente ao encontro. Os outros cinco estavam na festa: Wagner, Berzoini, Miguel Rossetto (Secretaria-Geral da Presidência), Pepe Vargas (Secretaria de Relações Institucionais) e Giles Azevedo (assessor especial) - eventualmente Dilma chama um ou outro ministro, como aconteceu agora com José Eduardo Cardozo (Justiça), encarregado de dar o laço final no pacote anticorrupção. Relatos feitos nos bastidores do encontro do PT, segundo apurou o Valor, informaram que Mercadante, à certa altura da reunião do G-6, pediu a palavra e falou sobre a conveniência da viagem de Dilma a Belo Horizonte. O ministro, segundo esses relatos, lembrou que todos ali sabiam da intimação da PF a Vaccari para depor no inquérito. E então advertiu que Vaccari era integrante do Diretório Nacional do PT, que se reuniria antes da festa dos 35 anos, e estaria presente aos dois eventos. Para preservar a presidente da República, talvez valesse a pena Dilma não comparecer ao evento comemorativo. O primeiro a contraditar foi Ricardo Berzoini, ex-presidente do PT. O ministro das Comunicações, segundo os relatos, argumentou que Dilma não ir provocaria ainda mais especulações. Ela também não tinha nada a temer dos petistas. O PT tem queixas de Dilma. A ala majoritária julga que foi retirada do centro das decisões, quase todos reclamam por uma presença maior da presidente nos Estados e na imprensa, e até o grupo mais ligado ao deputado Arlindo Chinaglia (SP) se mostrava inconformado com a ajuda que o Palácio do Planalto deu à sua candidatura a presidente da Câmara dos Deputados. Wagner e Rossetto tentavam por panos quentes. Os dois argumentaram que o governo fez o que podia. Na realidade, segundo os dois ministros, o Palácio do Planalto avançara no limite do tolerável na ajuda a Chinaglia, sobretudo nos últimos dias, quando os ministros intervieram com força. O ambiente da reunião petista também era de proteção ao tesoureiro João Vaccari Depois que Berzoini falou, Jaques Wagner fez uma intervenção considerada "duríssima", segundo os petistas. O ministro da Defesa disse que há certos momentos da história em que é preciso "mostrar a cara" e que não havia nenhum motivo que justificassem a ausência de Dilma. De acordo com os testemunhos, Wagner disse que a presidente da República fora eleita pelo Partido dos Trabalhadores. Se não fosse à festa, isso serviria apenas para aumentar as especulações de que Dilma e o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva estão brigados. E Dilma é quem está mandando investigar as denúncias contra a Petrobras. Não haveria problema nenhum se Vaccari estivesse presente. Dilma decidiu ir. Mas os relatos sobre a reunião disseminaram no PT a versão de que é Mercadante é quem está por trás do retraimento da presidente, quando uma parte do governo e do PT acha que ela deve aparecer mais em público, viajar pelo país e falar mais com a imprensa. Não é de hoje que circula no PT uma frase atribuída ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva segun-do a qual Mercadante "sequestrou a presidente da República". Por meio de sua assessoria, Mercadante negou que tenha aconselhado a presidente a não ir à festa do PT. Auxiliares do ministro dizem que ele não foi à festa do partido porque tem um acordo com a presidente: quando Dilma está ausente, ele fica a postos em Brasília. Na festa Vaccari em nenhum momento cruzou com Dilma, mesmo acidentalmente. Ela não se dirigiu a ele, e também teve o cuidado de não esbarrar com a presidente para não causar problemas nem pra ele nem pra Dilma, segundo confidentes do tesoureiro. A convicção que o episódio deixou no PT é que dificilmente Aloizio Mercadante e Jaques Wagner terminam o governo no mesmo lugar.


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