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Indústria fecha ano com queda de 3,2%, pior resultado desde 2009

 

Veículo: Folha de São Paulo

Seção: Economia

Sob impacto, principalmente, da forte redução do setor automotivo, a indústria fechou o ano de 2014 com queda de 3,2% na produção.

Foi a perda mais intensa desde 2009, quando o país sofria com os efeitos do auge da crise global e o setor registrou um tombo de 7,1%.

Trata-se ainda da primeira taxa negativa desde 2012 (2,3%). Em 2013, a indústria registrou um avanço de 2,1%. Os dados foram divulgados pelo IBGE na manhã desta terça-feira (3).

Em dezembro, a produção fabril manteve a tendência de novembro e seguiu no vermelho, com perda de 2,8%.

O resultado ficou acima das expectativas do bancos e consultorias, coletados pela agência Bloomberg. O centro das apostas (mediana) era queda de 2,6% no acumulado de 2014.

Em novembro, a indústria registrou queda de 1,1%, dado revisado para baixo, originalmente estimado em -0,7%.

Na comparação com dezembro de 2013, as fábricas produziram -2,7%, segundo o IBGE.

  Nacho Doce/Reuters  
Linha de montagem de fábrica da Ford em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo
Linha de montagem de fábrica da Ford na Grande São Paulo; a perda de maior impacto na taxa geral da indústria veio de veículos, com forte retração de 16,8%

Com o ritmo até novembro, já era praticamente certo que o setor industrial fecharia o ano com o mais fraco desempenho desde 2009.

Dentre os motivos para tão fraco resultado, estão o acúmulo de estoques em importantes setores, como veículos, e consumidores e empresários maispessimistas com o cenário econômico –o que posterga decisões de compras e investimentos.

Para se ajustar à demanda mais fraca, a indústria pisou no freio e cortou a produção a fim de evitar mais estoques indesejados, movimento mais forte no último trimestre do ano.

Com esse quadro, algumas empresas já adotaram medidas como demissões, corte de turnos, suspensão de contratos de trabalho ou férias coletivas para lidar com a conjuntura desfavorável.

Pesaram ainda na queda da produção fatores como inflação em alta, custo maior com energia (algumas fábricas decidiram parar para não ter prejuízo), invasão de produtos importados num período de fraca demanda mundial e exportações em declínio.

SETORES

A recessão da indústria em 2014 foi disseminada e atingiu 20 dos 26 setores pesquisados pelo IBGE.

A perda de maior impacto na taxa geral da indústria veio de veículos, com forte retração de 16,8%, a maior da nova série da pesquisa de indústria, inciada em 2013. Trata-se do segundo segmento de maior peso na indústria, atrás apenas de alimentos.

O setor de veículos teve esse fraco desempenho a despeito das medidas de estímulo do governo, com a redução do IPI que vigorou na maior parte do ano como o mesmo desconto praticado em anos anteriores –um redução gradual do benefício só veio a partir do segundo trimestre.

Também puxaram o setor industrial para baixo as quedas de produtos de metal (-9,8%), metalurgia (-7,4%), máquinas e aparelhos elétricos (-7,2%), máquinas e equipamentos (-5,9%) e outros produtos químicos (-3,6%).

Até mesmo a indústria de alimentos, que, em geral, resiste mais em períodos de crises por produzir bens de primeira necessidade registrou perda de 1,4% em 2014.

Entre as poucas altas, destacaram-se apenas a indústria extrativa (5,7%) –esta puxada pela retomada do crescimento da produção de petróleo da Petrobras e a expansão da extração de minério de ferro –e o refino de petróleo e a produção de álcool (2,4%).

INVESTIMENTO

As retrações da produção de máquinas e equipamentos e veículos também lideram as perdas da indústria em dezembro. As quedas de 8,2% e 5,8% foram as de maior peso na taxa geral da indústria de novembro para dezembro.

Segundo André Macedo, gerente da pesquisa do IBGE, os setores sofreram com férias coletivas e redução de jornada para ajustar a produção à menor demanda.

Os dois ramos sentiram ainda o baque das menores exportações, sobretudo para os parceiros do Mercosul e do consumo doméstico —apesar do incentivo do governo, com linhas de crédito subsidiadas do BNDES para bens de capital e caminhões que demandou aportes do Tesouro para praticar taxas de juros, inclusive abaixo da inflação.

O dado de máquinas e equipamentos sinaliza a queda dos investimentos produtivos na economia. Tal tendência fica mais clara com o resultado da categoria de bens de capital (que é mais ampla e incluí veículos usados na produção e no transporte de mercadorias), que teve retração de 9,6% no ano –maior contração desde 2012.

A situação piorou nos últimos meses do ano e, em dezembro, a categoria registrou queda de 23%, a mais intensa desde janeiro de 2012.

Para Macedo, o ambiente econômico de incertezas afetou as decisões de investimento, tendência que se intensificou no final do ano. "A indústria fecha o ano de 2014 com uma queda importante. Há ainda um perfil disseminado de resultados negativos", disse.

Um dado ilustra essa "queda importante, segundo Macedo. A indústria produzia ao final do ano passado num patamar de produção 10,3% abaixo do seu pico de produção, alcançado em julho de 2013.

Outro indicador revela que a recessão da indústria é espalhada, e não concentrada apenas em alguns ramos e itens: a fabricação de 64% dos produtos investigados caiu em 2014.

"O cenário do setor industrial se mostra numa trajetória bem menos dinâmica do que ela já esteve em outros momentos."

A indústria registrou perdas ao longo de praticamente todo o ano. Só no primeiro trimestre teve uma ligeira alta (0,6% frente ao mesmo período de 2013). Nos trimestres seguintes, as perdas foram de 5,3% no segundo, 3,6% no terceiro e 4,1% no quarto. 



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