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Crise energética afeta a indústria e reduz PIB potencial, avalia Ibre/FGV

 

Veículo: Valor Econômico

Seção: Economia

A crise energética, que pode levar a um racionamento e a uma recessão econômica neste ano, diminuiu não somente o crescimento cíclico da economia brasileira, mas também o Produto Interno Bruto (PIB) potencial do país, que hoje estaria ao redor de 1,5%. A avaliação é do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV).

Na edição de janeiro do Boletim Macro, o grupo de conjuntura do Ibre destaca que a média anual de expansão da atividade econômica no Brasil deve cair de 4,6% entre 2007 e 2010 para 1,6% no quadriênio encerrado em 2014, considerando a estimativa do instituto de alta de apenas 0,1% no ano passado.

 

"Como o horizonte de quatro anos para a análise de taxas de crescimento é longo demais para que se possa atribuir essas médias ao ciclo de negócios da economia, é possível que tenha havido uma redução na taxa de crescimento do produto potencial", afirmam, no documento, Silvia Matos, coordenadora técnica do boletim, e Vinícius Botelho, pesquisador de economia aplicada do Ibre.

Se for levada em conta a projeção da entidade de avanço de 0,3% do PIB para 2015 - que ainda não inclui a possibilidade de racionamento, mas pode ser revista para baixo em vista desse risco -, há uma desaceleração adicional nos últimos dois anos. Depois de ter crescido 1,8% ao ano, em média, em 2012 e 2013, a alta será 1,6 ponto percentual menor no biênio seguinte. "Enquanto não resolvermos esse problema, a energia limita nosso potencial de crescimento, pelo canal da falta desse bem e de preços muito altos", diz Silvia.

Em um exercício para identificar se as causas da perda de fôlego mais recente da economia estão ligadas à redução do produto potencial, Silvia e Botelho identificaram que os nove setores industriais mais intensivos em energia explicam aproximadamente 30% da desaceleração da atividade econômica entre abril e novembro de 2014. Nesse período, o Preço de Liquidação de Diferenças (PLD) - que baliza os preços de energia no mercado de curto prazo, onde estão os grandes consumidores industriais - foi o triplo do registrado nos mesmos meses de 2013 no submercado do Sudeste.

Os pesquisadores ainda notam que as importações dos setores mais eletrointensivos aumentaram 9,4% no período observado, enquanto, nos demais segmentos da indústria, houve recuo de 7,7%. Segundo Silvia e Botelho, setores em que há um nível de produção menor, mas com o nível de demanda suprido por compras externas, são "fortes candidatos" a estarem com seu PIB potencial em queda. Possivelmente, dizem, para estes ramos, as condições de produção pioraram de tal forma que deixou de ser vantajoso produzir internamente um determinado bem, e é melhor importá-lo.

De acordo com a coordenadora do boletim, é natural que a economia perca vigor em períodos de aumento da inflação, subida de juros e aperto fiscal, mas a questão energética é algo mais permanente, e que pode continuar causando estragos na atividade. Em uma estimativa aproximada, ela calcula que o PIB pode encolher 1% se houver racionamento de energia em 2015. Já o PIB potencial brasileiro estaria hoje em cerca de 1,5%.

"Não acreditamos que vamos crescer 1,5% para sempre, mas diante das condições atuais, esse número é mais factível", comenta Silvia, para quem uma expansão algo acima de 2% seria uma taxa "minimamente razoável" para o Brasil. Em sua avaliação, as sinalizações da nova equipe econômica vão na direção de um crescimento potencial maior, passados os anos de 2015 e 2016, que será um biênio de ajuste duro.

O primeiro conjunto de medidas anunciado pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, foi destinado a evitar a perda do grau de investimento, diz a economista, mas também existe uma preocupação da nova equipe em aumentar a poupança e a produtividade da economia. As duas questões, se atacadas, teriam impacto positivo sobre a capacidade de expansão do PIB. Nesse sentido, Silvia espera que haja medidas para simplificar a carga tributária e mais reformas na área da Previdência.



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