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Em ano de ajuste fiscal, política industrial deve perder espaço no país

 

Veículo: Valor Econômico

Seção: Economia

Em ano de ajuste fiscal, há dúvidas entre os economistas sobre a política industrial - tanto a que será praticada quanto a que será possível.

Para Mauricio Pinheiro, pesquisador do Ibre-FGV, o cenário atual dificulta a manutenção do plano Brasil Maior. "Por conta do acúmulo de problemas, 2015 e talvez 2016 sejam anos de arrumar a casa. A questão fiscal é um problema maior. E talvez a política industrial vá ser empurrada com a barriga."

Apesar disso, ele acredita que, dentro de alguns meses, deve haver "algum anúncio de política industrial", mas bem menos ambicioso do que o Brasil Maior em termos de gastos do governo.

Para Julio Gomes de Almeida, professor da Unicamp, se o real permanecer desvalorizado, o ganho de rentabilidade nas exportações pode estimular uma maior inserção internacional do país - algo que não demandaria recursos adicionais em termos de política industrial. "Agora, se não requer acréscimos de financiamento subsidiado, por outro lado, requer que você não volte muito atrás nisso".

Entre os estímulos que Almeida defende que sejam mantidos ao setor industrial mesmo em ano de ajuste fiscal estariam as políticas horizontais (aquelas que atendem a todos os setores, sem selecionar alguns), como o Reintegra. "Se retirado, ele poderá ter efeitos negativos fortes", afirmou.

Até agora, Almeida avalia que o governo foi "com muita sede ao pote" no ajuste, atuando em contração de políticas que afetam o setor industrial, como a elevação dos juros de financiamentos ao mexer na TJLP (taxa de juros de longo prazo) e das alíquotas do Programa de Sustentação do Investimento (PSI). Para ele, esse tipo de ação deveria ser gradual. Ao fazer dessa forma - uma subida repentina da taxa de juros de financiamento de longo prazo - o governo vai assustar o investimento e o levar a uma queda neste início de 2015. Para Almeida, é "muito importante" retirar alguns subsídios, mas não a esse ritmo.

Para o professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) André Nassif, os desequilíbrios macroeconômicos tiraram muito da eficiência que a política industrial poderia ter tido nos últimos anos. A combinação de taxas de juros altas e câmbio apreciado que marcou os últimos quatro anos - entre muitos outros ciclos econômicos do país - foram bastante danosos ao setor produtivo.

O Brasil Maior, afirma Nassif, pode ter pecado por contemplar setores demais, mas não por ter sido mal desenhado. A política industrial, defende, deve ser seletiva para impedir que a "livre flutuação dos preços relativos defina sozinha a alocação dos recursos", que tendem a ir para setores de maior rentabilidade - no caso do Brasil, o agropecuário, que ganhou produtividade e passou a dominar a pauta de exportações. O ideal, diz, seria privilegiar setores inovadores, que são "o motor dinâmico do desenvolvimento no longo prazo", e investir em "upgrades de inovação" em segmentos em que o país tem vantagens comparativas.

O ramo de petróleo, apesar do impacto recente da Operação Lava-Jato sobre a Petrobras, poderia fomentar o segmento de máquinas e equipamentos para extrair o óleo em alto-mar, exemplifica. A indústria petroquímica, por sua vez, poderia estimular o desenvolvimento da cadeia de plástico ou mesmo a do ramo farmacêutico.

Antes disso, entretanto, é urgente ajustar os preços macroeconômicos - algo que ele acredita que pode começar a ocorrer neste ano. "As políticas industriais têm que ter estrita e fina coordenação com a política econômica", diz Nassif.

Ao lado da depreciação gradual do real - que considera positiva -, o professor da UFF defende o aumento do horizonte do regime de metas de inflação, hoje de um ano, para a inclusão de outros alvos na política do Banco Central, como metas de crescimento.



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