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"Pode haver trimestre de recessão"

 

Veículo: Valor Econômico

Seção: Economia

O choque de realidade aplicado pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, chegou às projeções oficiais para o desempenho da economia brasileira. Em contraste com o reiterado otimismo da antiga equipe econômica, que se transformou em motivo de piada entre analistas do mercado, Levy admitiu que a sucessão de medidas anunciadas nas últimas semanas, com cortes de gastos e aumentos de impostos, pode levar a economia a um trimestre de contração.

"A gente pode ter um trimestre de recessão", afirmou a jornalistas brasileiros, depois do primeiro dia de reuniões em Davos, onde participa do Fórum Econômico Mundial. À noite, no entanto, a pedido do ministro, a assessoria da Fazenda esclareceu que Levy se enganou e que ele se referia a um trimestre de "contração", lembrando que não existe recessão em um único trimestre.

Para o ministro, a importância de um dado nessa direção deve ser relativizada, já que o essencial é recuperar a confiança dos investidores no desempenho de longo prazo. "Para o investidor internacional, é importante saber que não estamos trabalhando no curtíssimo prazo, com remendos, mas com um crescimento sólido."

Sem citar a equipe anterior, Levy mencionou duas vezes a "inércia" do ano passado e fez uma comparação insólita da economia brasileira com um carro que anda "engasgando", tentando acelerar com a quarta marcha e sem pegar no tranco. Agora é a hora, segundo ele, de reduzir a velocidade para reacelerar.

"Engrenamos uma segunda [marcha] e aí aceleramos. Aquela [história] de ir pisando no acelerador com a quarta, com incentivos, isso e aquilo, vimos que não estava mais tendo tração", disse. "Quando a gente acerta as peças, a retomada vem com relativa velocidade."

Ao fazer um balanço de seu primeiro dia em Davos, Levy disse ter notado interesse e torcida pelo Brasil, mas pediu paciência para a retomada do crescimento. "Temos que ir construindo passo a passo", explicou o ministro, ressaltando a necessidade de insistir nos ajustes. "Precisamos ter paciência e humildade. Não adianta fazer previsões ultraotimistas", afirmou Levy.

Com isso, Levy deixa clara sua diferença em relação ao antecessor, Guido Mantega, que costumava "bombar" suas previsões de crescimento, mesmo diante de resultados seguidamente negativos. Em resposta às críticas, Mantega chegou a dizer que sua bola de cristal "podia ter alguns defeitos, mas costumava funcionar".

Na semana do blecaute que afetou dez Estados, além do Distrito Federal, Levy considerou o realinhamento de preços no setor elétrico uma decisão "bem tomada" e procurou desidratar os rumores de que a Fazenda poderia voltar parcialmente atrás no fim dos aportes do Tesouro à Conta de Desenvolvimento Energético (CDE).

O ministro afirmou "não ver dúvidas" sobre a suspensão dos repasses do Tesouro, que ajudavam a amenizar as altas nas contas de luz, ao pagar subsídios como a tarifa social para consumidores de baixa renda e combustíveis para a geração térmica em sistemas isolados.

Mesmo com o anúncio de que isso não ocorreria mais, o orçamento da CDE não foi aprovado até agora, alimentando especulações sobre a possibilidade de recuo parcial A previsão inicial era de aportes de R$ 9 bilhões do Tesouro em 2015. Sem os repasses, o fundo setorial deve ter um rombo de R$ 23 bilhões, que seria pago integralmente pelos consumidores - caso prevaleça a lógica da equipe econômica. O impacto nas tarifas de energia pode chegar a 20 pontos percentuais.

Questionado sobre o assunto, Levy evitou responder de forma clara. "Não vejo dúvidas em relação a isso", afirmou. Em seguida, elencou qualidades do ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, a quem chamou de "profundo conhecedor" do assunto. Mais adiante, lembrou que Braga também sabe como são as "restrições orçamentárias", por ter sido governador do Amazonas.

Apesar do acúmulo de dívidas, Levy disse que o setor elétrico vive um processo de recuperação da confiança. "A gente vai ter condições de passar essa fase com muita segurança e de forma positiva para o setor."

O ministro também comentou o impacto da forte queda do preço do preço do petróleo no mercado internacional sobre a economia nacional e a Petrobras, argumentando que se trata de "boa notícia" para o país. Segundo Levy, o barateamento da commodity reduz custos de produção da economia global e abre espaço para o crescimento da demanda por parte de consumidores nos países desenvolvidos. Esse processo tem reflexo positivo nas exportações brasileiras de manufaturados e beneficia a Petrobras com economia em suas importações e despesas de seu processo produtivo.

"Se a economia mundial cresce, fica mais fácil exportar. Com a melhora da atividade dos Estados Unidos já aumentamos nossas vendas, principalmente de manufaturados. A queda do petróleo é boa notícia para a indústria porque abre novos mercados para a gente", avaliou Levy.



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