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Com economia fraca, vendas desaceleram no varejo

 

Veículo: Valor Econômico
Seção: Economia

Ainda que no quarto mês seguido de alta e acima de algumas expectativas, as vendas do varejo em novembro engrossaram as previsões pessimistas para o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) de 2014, que já haviam sido negativamente influenciadas pela queda de 0,7% da produção industrial no mesmo mês.

As vendas do varejo aumentaram 0,9% em novembro em comparação com outubro, após os ajustes sazonais feitos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em relação a novembro de 2013, também houve aumento, de 1%. No entanto, a comparação com os meses anteriores mostra a desaceleração e o enfraquecimento da economia no 4º trimestre. Em outubro, as vendas haviam aumentado 1,3% sobre setembro e 2,2% sobre o mesmo mês de 2013.

Cinco das oito atividades pesquisadas no varejo restrito pelo IBGE tiveram expansão em novembro. Os destaque foram os setores de livros, jornais, revistas e papelaria, cujas vendas saltaram 9,6%; e o de móveis e eletrodomésticos, que vendeu 5,4% a mais, com a demanda animada a aproveitar os últimos meses de isenção de IPI, que terminou no início deste ano. Mas mostrou recuo no grupo de hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo, o que não é um bom sinal a respeito do consumo das famílias. Nesse segmento, as vendas caíram 0,8% em comparação com outubro, quando haviam subido 1,9% sobre setembro.

Na comparação com novembro de 2013, o IBGE destacou a alta de 9,3% das vendas do grupo que inclui outros artigos de uso pessoal e doméstico, de 5,9% em artigos farmacêuticos e de perfumaria, e de 5,3% em eletrodomésticos, produtos que podem ter sido beneficiados pelas antecipações das compras de Natal.

No varejo ampliado, que inclui automóveis e material de construção, o IBGE registrou aumento de 1,2% em novembro sobre outubro, impulsionado pelo avanço de 5,5% em veículos e motos, partes e peças, também incentivado pela proximidade do fim da isenção do IPI, e de 0,4% em material de construção. Mas na comparação com novembro de 2013, a queda foi de 2,7% na média, com 9,9% em veículos e de 2,4% em materiais de construção.

Apesar de faltar dezembro, normalmente o melhor mês do varejo, para fechar a conta do ano, as previsões não são animadoras. O desempenho de novembro, acumulando expansão de 2,4% no ano e 2,6% em 12 meses, indica que o varejo pelo conceito restrito deve ficar no positivo em 2014, mas abaixo dos 4,3% de 2013 e com o pior resultado desde 2003, quando houve recuo de 3,7% nas vendas.

O pico recente do varejo foi registrado em 2010, quando as vendas saltaram 11% e o PIB cresceu 7,5%. Desde 2012, quando aumentou 8,4%, o comércio registra variações cada vez menores, afetado pelo vaivém da política de desonerações, pelo aumento da inflação, pela elevação dos juros e pela piora nas condições de crédito. No ano passado, o clima adverso foi acentuado pelos feriados da Copa do Mundo, evento que estimulou a venda de alguns produtos específicos como eletrônicos, mas prejudicou as vendas de um modo geral. As eleições presidenciais também esfriaram o nível de atividades.

Mais recentemente, aumentou a preocupação com o mercado de trabalho e com as mudanças econômicas em estudo. Apesar de o nível de desemprego se manter no patamar baixo, há o sentimento de que isso pode mudar, como sinalizam demissões feitas por algumas montadoras. Outro fator que influencia negativamente nas decisões de compra é a desaceleração do rendimento salarial, que amplifica a baixa confiança do consumidor. Em relação às mudanças que têm sido cogitadas na economia, já se espera impacto no aumento da inflação e dos impostos, o que também esfria a demanda e leva à estratégia de adiar compras e trocar produtos mais caros pelos mais baratos, reduzindo a receita do setor.

Todos esses elementos aumentam a expectativa de que o desempenho da economia no quarto trimestre não deve ter sido espetacular, após ter saído da recessão técnica no terceiro trimestre. Cada vez mais se consolida a expectativa de que o PIB vai fechar o ano com variação ao redor de 0,1%, como indica a pesquisa Focus, realizada pelo Banco Central (BC) junto a cerca de 100 instituições financeiras e consultorias. Nesta semana foi o Banco Mundial que endossou o número, revisando para baixo a previsão anterior de crescimento de 1,5% da economia brasileira em 2014.



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