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Fed revela disposição para subir juros em meados de 2015

 

Veículo: Valor Econômico

Seção: Economia

Andrew Harrer/Bloomberg

As autoridades do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) deram um pequeno passo em direção a elevar os juros de curto prazo em 2015 ao introduzir palavras em seu comunicado de política monetária assegurando que serão pacientes em distanciar-se das taxas próximas a zero.

Ao fazê-lo, no entanto, o comunicado pós-encontro do Fed expôs o nervosismo que as autoridades do BC sentem quanto a suas próximas ações e sobre como comunicá-las. Também mostrou divisões internas sendo criadas dentro do Fed com a perspectiva de aumento nos juros nos próximos meses.

Durante semanas antes do encontro de política monetária, as autoridades debateram se retirariam a garantia de que as taxas permaneceriam baixas por um "tempo considerável" e como o fariam. Os termos do comunicado vinham sendo um indicador importante deixado pelas autoridades por meses para convencer o público de que as taxas não iriam subir tão cedo nem rapidamente.

Algumas autoridades temiam que retirar essa garantia pudesse abalar os mercados e, de forma não intencional, levar alguns investidores a acreditar que o Fed elevaria os juros antes do que o planejado. Em vez de retirar inteiramente as tão acompanhadas palavras "tempo considerável", o Fed introduziu a palavra "paciência" e ainda comunicou que ela significava efetivamente a mesma coisa.

As ações dos EUA ampliaram os ganhos depois da divulgação do comunicado do Fed, às 14 horas de Nova York. O índice Dow Jones subia mais de 165 pontos, para os 17.324 pontos, tendo avançado quase 100 pontos nos minutos seguintes ao comunicado.

Na entrevista coletiva pós-encontro, a presidente do Fed, Janet Yellen, disse ser improvável que o BC eleve os juros pelo menos até a primavera americana. "O comitê considera improvável começar o processo de normalização por pelo menos o próximo par de encontros", disse Yellen, "Essa avaliação, é claro, depende totalmente de dados".

Embora algumas autoridades regionais do Fed quisessem começar a elevar os juros na primavera, figuras fundamentais do banco central, como o presidente da regional de Nova York, William Dudley, indicaram que o momento mais provável para o Fed agir seria em meados de 2015, desde que a economia siga o rumo esperado pelas autoridades monetárias.

Três autoridades do Fed divergiram: o presidente do Fed de Dallas, Richard Fisher, o presidente do Fed da Filadélfia, Charles Plosser, e o presidente do Fed de Minneapolis, Narayana Kocherlakota. Plosser e Fisher são conhecidos como "hawks" (falcões), pela disposição favorável a elevar rapidamente os juros, enquanto Kocherlakota é conhecido como "dove" (pombo), por preferir esperar.

O Fed "julga que pode ser paciente no início da normalização da postura da política monetária", disseram as autoridades no comunicado pós-encontro. Acrescentaram também que a nova descrição de sua posição foi "consistente" com as garantias anteriores, de que os juros vão continuar baixos por um "tempo considerável".

O Fed está pesando em sua avaliação uma combinação de dados econômicos. Embora o mercado de trabalho esteja melhorando e o Fed se aferre às previsões de aceleração do crescimento econômico nos próximos dois anos, a inflação depara-se com um novo movimento descendente que as autoridades disseram estar acompanhando de perto.

Nas previsões divulgadas com o comunicado do Fed, 15 das 17 autoridades monetárias previram que elevarão os juros em 2015. A mediana das estimativas das autoridades - ou seja, metade das estimativas foi menor e a outra metade, maior - é de juros de 1,125% no quarto trimestre de 2015. Elas apontam um caminho bem gradual de aumentos, uma vez que se iniciem. A mediana das estimativas dos juros para 2016 é de 2,5% e para 2017, de 3,625%.

Essas estimativas são um pouco mais baixas do que as projetadas pelo Fed em setembro, o que significa que mesmo com as autoridades ainda esperando elevar os juros no próximo ano, elas veem uma abordagem suave quando começarem a elevá-los. As estimativas - embora preliminares e sujeitas a mudanças - implicam que as autoridades do Fed têm em mente quatro elevações de 0,25 ponto percentual em 2015.

Por trás da inclinação a elevar os juros está a convicção cada vez maior de que a economia dos EUA se fortaleceu, mesmo enquanto o resto do mundo está às voltas com crescimento baixo ou em desaceleração. As autoridades do Fed projetaram que a economia doméstica vai crescer a um ritmo entre 2,6% e 3% em 2015 e que o índice de desemprego vai cair para 5,2% ou 5,3%.

Isso colocaria o indicador em uma faixa que as autoridades classificam de "pleno emprego", situação na qual o desemprego é baixo, mas não tão baixo a ponto de alimentar inflação.

Dados econômicos recentes pouco ajudaram a dissuadir as autoridades do Fed desse ponto de vista.

"As condições do mercado de trabalho continuaram melhorando, com ganhos sólidos no emprego e índice de desemprego menor", de acordo com o comunicado.

Há, no entanto, vários fatores imprevisíveis que podem alterar o rumo do Fed. O mais óbvio é a inflação. A queda nos preços do petróleo pressiona para baixo os índices de preços ao consumidor. O Departamento do Trabalho divulgou na quarta-feira, horas antes do comunicado do Fed, que os preços ao consumidor caíram 0,3% em novembro em comparação ao mês anterior, maior queda mensal desde que a crise financeira de 2008 balançou a economia mundial.

Os integrantes do Fed se atêm à ideia de que a pressão de queda da inflação será aguda, mas de vida curta. As autoridades projetam inflação de 1% a 1,6% em 2015, uma grande revisão para baixo em comparação às estimativas anteriores. No entanto, a veem voltando a ficar entre 1,7% e 2% em 2016 e entre 1,8% e 2%, em 2017.

"O comitê continua a monitorar os desenvolvimentos da inflação de perto", segundo o comunicado.



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