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Dólar recua, mas alívio tende a ser temporário

 

Veículo: Valor Econômico

Seção: Economia

A sinalização do Federal Reserve (Fed, banco central americano) de que o aumento da taxa básica nos Estados Unidos deve ser gradual tende a ajudar a dar algum alívio aos mercados financeiros emergentes, inclusive ao brasileiro. O cenário, contudo, continua sendo de cautela e instabilidade, dados os riscos ainda presentes no exterior, com a crise cambial na Rússia ainda não resolvida e o enfraquecimento do preço do petróleo.

Ontem, a recuperação do rublo após o anúncio de medidas pelo governo russo para conter a forte desvalorização da moeda, e o tom mais "dovish" (menos favorável ao aperto monetário) do comunicado do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) trouxeram um alívio para os mercados emergentes, após o movimento de venda generalizada de ativos de maior risco nos últimos dias.

 

 

No mercado local, o dólar fechou em queda de 1,40%, cotado a R$ 2,6959, após cinco pregões consecutivos de alta. O recuo da moeda americana contribuiu para reduzir a pressão sobre as taxas dos contratos futuros de juros, que fecharam perto do nível do pregão anterior. O contrato para janeiro de 2017 estava em 12,98%, de 12,97% na véspera. O DI de janeiro de 2016 ficou em 12,92%, estável. A ideia de uma dose mais forte de alta de juros, de 0,70 ponto, continua embutida nos preços.

A divulgação do comunicado do Fed veio após o fechamento do mercado à vista de dólar e dos juros futuros. Mas chegou a tempo de afetar o contrato futuro de dólar para janeiro de 2015, que fechou em queda de 0,87%, a R$ 2,724. Essa reação pode se refletir nos mercados na sessão de hoje. Mas, na visão dos analistas, o alívio deve se apenas pontual.

Para a economista do Banco UBS Brasil Marianna Costa, a instabilidade vinda das questões ligadas à Rússia deve prosseguir. "Essa inclinação dos investidores à aversão ao risco deve continuar, mesmo com o Fed", diz. "A questão da Rússia está em aberto e um grande receio é de que haja um controle de capital, dado que o aumento de juros relevante não gerou tanto efeito", afirma.

Já o economista-chefe da Bradesco Asset Management, Fernando Honorato, concorda que o efeito do Fed tende a ser limitado sobre os mercados. "A [Janet] Yellen conseguiu equilibrar bastante bem os riscos e indicou que toda a mudança da política monetária acontecerá de forma muito suave e apenas quando o Fed tiver certeza da recuperação", diz. "Mas mesmo assim, acho que o dólar continuará sendo o grande vitorioso nos próximos meses."

 

 

Para ele, o fato de os Estados Unidos serem hoje o único país do mundo em que há crescimento com inflação baixa e que poderá abrir o processo de normalização da política monetária entre os desenvolvidos deve garantir a continuidade da alta do dólar. "A intensidade pode ser um pouco mais gradual. Mas o movimento continuará, o que impedirá um alívio ao câmbio no Brasil", diz.

Ele observa que é essa dinâmica global que explica o fato de o real ter perdido tanto em relação ao dólar nos últimos meses, mesmo pagando juros tão mais altos e ter uma equipe econômica dizendo que atuará para afastar o risco de "downgrade". "Enquanto o dólar não parar no mundo, o 'carry trade' não virá", diz. Além disso, a situação da Rússia, que deve seguir pressionada com a queda do preço do petróleo, deve impedir que os emergentes percebam uma recuperação relevante nos próximos meses.

A economista-chefe da Arx Investimentos, Solange Srour, também vê o real pressionado nos próximos meses, uma vez que o cenário continua sendo de recuperação da economia americana, contrastando com uma desaceleração da economia global, principalmente na Europa e Japão.

Com o cenário global ainda inspirando cautela, Solange não vê espaço para o Banco Central reduzir o volume ofertado nos leilões diários de swap cambial, que somam US$ 200 milhões. "Diminuir o volume agora será bem arriscado", afirma. Os investidores aguardam para os próximos dias os parâmetros para a renovação do programa do BC.



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