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Mercado está atento a sinais e projeções do BCE

 

Veículo: Valor Econômico

Seção: Economia

Se há uma convergência de opiniões no mercado, trata-se da expectativa de que o Banco Central Europeu (BCE) adote medidas mais agressivas para combater o risco de deflação na zona do euro e impulsionar, de fato, a atividade econômica. Isso significa partir para a mais não convencional das ferramentas: um programa amplo de compras de ativos. A questão para os agentes, há vários meses, é "quando", não "se".

A reunião de hoje, embora não deva trazer esse anúncio, será possivelmente a mais importante dos últimos seis meses, mas o foco estará nas projeções de inflação e nas sinalizações de Mario Draghi, diretas ou indiretas. Como em outras ocasiões, essa seria uma preparação mais explícita para uma ação iminente.

A sucessão de dados ruins, como os PMIs (índices de gerentes de compras) de ontem, está colocando mais e mais pressão sobre a autoridade monetária, podendo redundar em perda de credibilidade, no limite. Com a inflação em trajetória cadente, quase zero, há que se perguntar como o BCE defenderá a estabilidade de preços e sua meta, próxima a 2%, em um cenário de queda contundente dos preços de petróleo e outras commodities.

Como guia, temos os discursos recentes de Draghi (em 27 de novembro) e de Vitor Constancio, vice-presidente do BCE (no dia 28). Draghi reiterou uma avaliação já bastante conhecida do quadro atual na zona do euro: "Embora as medidas [já tomadas] tenham sido bem sucedidas na melhoria do acesso dos bancos ao crédito privado e em combater a fragmentação financeira, as condições de financiamento mais amplas - principalmente o custo dos empréstimos dos bancos - foram excepcionalmente lentas na resposta à orientação acomodatícia da política monetária que foi introduzida. Como consequência, as dinâmicas monetária e de crédito têm seguido uma tendência negativa prolongada até muito recentemente".

Em outras palavras: ainda que seja necessário esperar os resultados das medidas recentes, está claro que a resposta da economia não está sendo positiva como se esperava. Constancio, por sua vez, disse que "durante o primeiro trimestre do próximo ano seremos capazes de avaliar melhor" se o crescimento do balanço (do BCE) está em linha com o esperado.

O mercado leu como uma indicação clara de que este é o período (até março) com o qual o BCE trabalha para anunciar um QE amplo para a região, que está sendo estudado por uma equipe do banco central.

Outros pontos concernentes a comunicação do BCE serão muito observados nesta reunião, mas, sem dúvida, as projeções atualizadas para a inflação serão definitivas para guiar os preços dos ativos e há consenso de que haverá redução dos números.

Em setembro, o BCE previa que a inflação ao consumidor harmonizada seria de 0,9% em 2014, 1,1% em 2015 e 1,4% em 2016. O PIB cresceria 0,9%, 1,6% e 1,9%, respectivamente, nesses três anos. Faz tão pouco tempo, mas já não são mais factíveis essas previsões. A inflação, por exemplo, caiu para 0,3% em novembro e deve cair ainda mais em dezembro. O crescimento do PIB no terceiro trimestre do ano foi de apenas 0,2%.

Mas o ponto fundamental é que os preços de petróleo que embasavam as projeções de níveis de preços derreteram nos últimos três meses. O BCE projetava preços médios de US$ 107,4 para o barril neste ano, US$ 105,3 em 2015 e US$ 102,7 em 2016. O preço atual do barril em Londres é de US$ 69,9 e em Nova York, US$ 67,38.

Mesmo com a redução das projeções de inflação, muitos analistas acham que esse movimento (de queda) deve continuar na revisão de março de 2015. Isso porque o BCE ainda incorporará preços futuros acima do patamar em que o petróleo se estabilizará nos números que serão publicados hoje.

Assim, março é atualmente a melhor aposta para o QE europeu, além do fato de que o BCE incluirá, neste mês, as projeções para o ano de 2017.



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