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O tempo fica feio lá fora

 

Veículo: Folha de São Paulo

Seção: Economia

O clima não está bom lá fora. Se este final de ano é um prenúncio do que está por vir, 2015 deve ser um ano tumultuado na economia mundial.

Há sinais de fumaça. Por exemplo, o comércio exterior do Brasil no vermelho, o preço do minério de ferro em baixa, o crescimento claudicante da América Latina, a confirmada estagnação europeia, a valorização mundial do dólar.

São indícios fortes de que minguam os fatores que favoreceram, mas não determinaram, o crescimento brasileiro na década passada. Não se trata de dizer que esse ambiente turvo vai travar o país. Mas vai tornar nossa vida mais difícil, tanto mais porque a economia está desarrumada e porque se estragaram alguns instrumentos que nos permitiriam lidar melhor com essa transição. Isto é, temos juros em alta devido à inflação e quase nenhuma capacidade de fazer dívida nova, por exemplo.

O fumacê não é apenas recente nem só imediato.

Faz mais de ano sabe-se que virá uma alta de juros nos EUA, o que tende a dar uma enxugada na oferta de crédito mundial, com risco de algum tumulto no caminho dessa transição. Faz uns quatro anos, pelo menos, cantava-se que a China cresceria menos e de um outro modo: consumindo mais, investindo mais, o que viria a modificar sua cesta de compras no exterior, suas importações (não compraria tanto ferro, por exemplo).

Desde 2012, a tendência se tornou visível; é ora notória. O aumento da oferta de "commodities" ou recursos ditos naturais (petróleo, minérios), estimulada pela explosão de preços na década passada, contribui para as pressões de baixa recentes.

No caso do petróleo, a alta da produção pelo mundo, o crescimento menor do consumo e a queda de braço político-comercial dos últimos meses derrubou os preços. Não se sabe até quando isso dura, mas o colapso do valor do barril está levando crise grave a Rússia e Venezuela, para mencionar casos piores.

No ano que vem, a baixa do petróleo pode ser um alívio para o Brasil, caso se pense apenas no comércio externo (pois estamos com déficit no comércio de combustíveis) e no curto prazo. Mas o preço baixo pode turvar ainda mais o futuro da Petrobras. A empresa extrai um petróleo caro e já estava avariada por ter sido usada como instrumento de política econômica ruim, pela corrupção e talvez agora sofra por ter um plano de investimentos ambicioso demais.

O aumento do preço das commodities elevou o preço das exportações brasileiras, nossa "renda em dólar". Assim, o país teve condições de bancar o excesso de consumo, sem dúvida notável depois de 2008. A vastidão do crédito barato ajudou a financiar nossos deficit externos e também a baixar as taxas de juros domésticas.

O conjunto dessa obra da segunda metade da década passada contribuiu para a valorização do dólar. Para elevar salários em setores pouco produtivos da economia. Mas ajudou também a avariar a indústria.

Essa roda da fortuna deve girar ao contrário agora. A transição deve ser complicada, devido a exportações menores, real mais desvalorizado e menos crédito em um momento em que o Brasil tende a ser relativamente menos atrativo devido ao baixo crescimento e a contas em desordem. 



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