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Discurso do presidente do BCE causa baixa do euro

 

Veículo: Folha de São Paulo

Seção: Economia

Em discurso, Mario Draghi deu a entender fortemente que acredita que relaxamento monetário mais intenso possa ajudar na recuperação da zona do euro, o que alimentou as esperanças dos investidores de que o Banco Central Europeu (BCE) esteja se aproximando de um programa em larga escala de compra de títulos nacionais.

Em uma de suas mais fortes declarações em defesa da aquisição de títulos, Draghi afirmou que comprar papéis de dívida dos governos ajudaria a aumentar os preços dos ativos de maior risco, o que por sua vez "liberaria recursos de capital para empréstimos adicionais".

A visão de que compras de ativos poderiam ajudar na criação de crédito e beneficiar domicílios e empresas em uma região abalada por problemas de confiança e baixo investimento é um claro sinal de que o presidente do BCE acredita que ação adicional é necessária.

Draghi também indicou que o BCE agiria já a partir do começo do ano que vem, afirmando que as autoridades econômicas precisavam reconduzir a inflação à sua meta "sem mais demora".

O euro caiu acentuadamente diante do dólar, em resposta às declarações, recuando em 0,8% para US$ 1,2437, e em 1% diante do iene. As ações europeias subiram, com alta de 1% no índice FTSE EuroFirst e de 1,5% nas ações da Alemanha.

Os dirigentes de bancos centrais, entre os quais o presidente do BCE, alertaram que medidas de política monetárias, sem outras providências, não gerariam uma recuperação autossustentável para a zona do euro, a menos que os políticos promovam reformas em suas economias e elevem seus gastos fiscais.

Draghi repetiu essas preocupações sexta-feira em Frankfurt, mas aceitou que o BCE ainda tinha um papel a desempenhar na promoção do crescimento. O banco central faria "o necessário para elevar a inflação e as expectativas inflacionárias o mais rápido possível", ele disse.

"Se, em sua trajetória atual, a nossa política não for efetiva o bastante para atingir esse objetivo, ou se emergirem novos riscos em termos de perspectivas inflacionárias, reforçaremos a pressão e ampliaremos ainda mais os canais por meio dos quais intervimos, alterando o montante, ritmo e composição de nossas compras", disse o presidente do BCE.

O banco central já está adquirindo pacotes de empréstimos reembalados em forma de títulos lastreados por ativos, e títulos garantidos, mas pode expandir suas aquisições para incluir outros ativos se as aquisições atuais não bastarem para aumentar em mais um trilhão de euros o balanço do BCE.

As especulações giram em torno da possibilidade de que o banco central adquira títulos empresariais, e de que realize aquisições em larga escala de títulos nacionais de dívida, um procedimento conhecido como relaxamento quantitativo.

Draghi sinalizou que era improvável que o BCE agisse no mês que vem, afirmando que as autoridades econômicas ainda esperavam que o banco central atingisse a meta de expansão de seu balanço em um trilhão de euros por meio das medidas existentes - a aquisição de títulos lastreados por ativos e títulos garantidos -, que acabam de ser implementadas.

Mas ele expressou preocupação com a possibilidade de que a inflação baixa esteja começando a afetar as expectativas. É "essencial" reconduzir a inflação à sua meta, ele disse, e "sem demora". A inflação geral, calculada em 0,4%, é de pouco mais de um quinto da meta de BCE, que fala em inflação próxima mas abaixo de 2%.

O presidente do BCE identificou a queda da taxa central de inflação a 0,7% como particularmente preocupante, afirmando que ela era indicativa de demanda mais fraca. A confiança é frágil e está sujeita a perturbações repentinas, enquanto o índice dos executivos de compras, divulgado na quinta-feira, apontava para recuperação fraca nos próximos meses ao registrar a primeira queda em novos pedidos à indústria em quase 18 meses.

Ainda que a fraqueza da recuperação na zona do euro seja conhecida, existem preocupações no sentido de que a compra de títulos nacionais de dívida pouco faça para aliviar o alto desemprego ou promover o crescimento.

Uma pesquisa respondida por mais de metade dos participantes do Congresso Bancário Europeu, no qual Draghi discursou, estimava que o relaxamento quantitativo não estimularia a economia da zona do euro. Draghi parecia menos cético.

Embora haja dúvidas sobre a dimensão do efeito, não há dúvida de que as aquisições de ativos elevarão os preços dos ativos de maior risco, ele disse.

"Não temos precedentes, e portanto nem dados empíricos, para uma economia como a nossa, cuja estrutura financeira é diferente da norte-americana ou da japonesa. Mas não existe questão quanto ao sinal que os efeitos portarão: ele é claramente positivo", disse Draghi.



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