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BC americano vê riscos globais e não dá pistas sobre juro

 

Veículo: Valor Econômico

Seção: Economia

Quem esperava uma ata mais incisiva da reunião que selou o fim do programa de compras de ativos do Federal Reserve (Fed), no sentido de indicar aos mercados os próximos passos da autoridade monetária, ficou a ver navios.

O comunicado da reunião, que tinha sido interpretado como "hawkish" (mais inclinado ao aperto de juros), foi amenizado pela série de riscos apontados pelos membros do comitê, deixando a impressão de que tudo está em aberto e a mudança do "guidance" da política monetária - propriamente a expressão de que os juros ficarão ultrabaixos por um tempo indeterminado - não é, necessariamente, iminente.

Os mercados esperavam que em dezembro viessem mudanças e que o banco central americano usaria a oportunidade da conferência de imprensa com a presidente Janet Yellen e a publicação das projeções para esclarecer ou sinalizar com que espaço de tempo para o início do ciclo de aperto os agentes poderiam trabalhar.

Isso pode, de fato, acontecer, como pode ser postergado.

A leitura mais cautelosa da economia global, somada a questões internas dissonantes como a baixa inflação e a recuperação do mercado de trabalho, compuseram um quadro de dependência ainda mais explícita dos acontecimentos antes que se tome uma decisão de mudança da postura acomodatícia da política monetária que vigora há sete anos.

De fato, quando se olha ao derredor, há poucas boas notícias vindas da economia global. É, portanto, natural que o Fed tenha dado ênfase ao tema.

"Observou-se que se as condições econômicas ou financeiras estrangeiras se deteriorarem ainda mais, o crescimento econômico no médio prazo pode ser mais lento do que o esperado", disse a ata, mas fez a ressalva de que muitos participantes consideram que "os efeitos dos desenvolvimentos recentes sobre a economia doméstica tendem a ser bastante limitados".

É mesmo o que se espera, mas os EUA não são uma ilha em se tratando de globalização da economia. Em um momento em que o Japão entra novamente em recessão técnica e amplia seu programa de estímulos, a zona do euro está na iminência de partir para um "quantitative easing" e a China desacelera para encontrar um patamar mais baixo e sustentável de crescimento, é bastante custoso imaginar um mundo sem solavancos.

Daí, as ressalvas de que existem "riscos adicionais de baixa" para as perspectivas das economias fora dos EUA, bem como da tendência de fortalecimento do dólar, embalado pela disparidade das políticas tocadas pelos BCs dos países centrais.

O dólar forte, aliado à queda das commodities (petróleo em especial) e recuo dos preços de importação (fruto da demanda externa morna) foram citados pelo Fed como motivadores da queda da inflação americana. Mas os membros do Fomc "continuaram a esperar que a inflação volte para a meta de 2% no médio prazo". Uma questão crítica que foi colocada é o alerta, de muitos participantes da reunião, de que o comitê deve permanecer "atento a indícios de uma possível mudança para baixo nas expectativas de inflação no prazo mais longo".

O debate está na avaliação do que explica a redução das expectativas de inflação pelo mercado ou, em outras palavras, se os preços de energia e alimentos estão desempenhando papel fundamental no comportamento dos preços dos títulos. Outro ponto é que o mercado de trabalho se comporta melhor do que muitos membros do Fomc previam. O equilíbrio desses dois polos é que dará o rumo para as decisões daqui para frente.



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