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Juro sobe com desconfiança sobre ajuste fiscal

 

Veículo: Valor Econômico

Seção: Economia

 
Sergio Zacchi/ValorPara Rosa, da SulAmérica, política fiscal põe grau de investimento em risco

 

Os juros futuros avançaram ontem na BM&F em meio à crescente desconfiança em torno de mudanças significativas na política econômica no segundo mandato da presidente Dilma Rousseff.

À demora na escolha do novo titular do Ministério da Fazenda somaram-se renovadas preocupações com a gestão das contas públicas. Segundo o projeto para alteração de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2014, enviando ontem pelo Palácio do Planalto ao Congresso Nacional, o governo deixa de ter uma meta de superávit primário para este ano - ou seja, de quanto tem que economizar para o pagamento de juros da dívida pública.

Era dado com certo que a meta de superávit estabelecida para o setor público consolidado em 2014, de 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB), não seria alcançada, o que exigiria uma alteração da LDO. Não estava na conta dos investidores, porém, o abandono de qualquer objetivo explícito e a ausência de sinais sobre o rumo daqui para frente. Já abaladas por declarações recentes do ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, a favor da flexibiliação do superávit primário e pela demora na indicação do novo ministro da Fazenda, as apostas em uma alteração substancial na economia esfriaram ainda mais.

 

 

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) longos, mais ligados à percepção de risco, avançaram. O derivativo com vencimento em janeiro de 2021 subiu de 12,45% para 12,61%, retomando a níveis de abril. Ressalte-se que liquidez foi reduzida por conta do feriado do "Dia do Veterano" nos Estados Unidos, o que deixou o mercado local sem a referência dos negócios com títulos do Tesouro americano (Treasuries). Também as taxas dos papéis públicos atrelados à inflação (NTN-Bs) - importantes termômetros de risco - se situam em patamares elevados. Ontem, o papel com vencimento em 2050 atingiu 6,24%.

E, sem sinais mais fortes de um aperto fiscal em 2015, é muito provável que o mercado mantenha os prêmios de risco em níveis elevados e volte a especular em torno da possibilidade de que o Brasil perca o grau de investimento, ou seja, o selo de "bom pagador" concedido pelas agências de classificação de risco. Analistas já trabalham com a possibilidade de que a meta de superávit primário no próximo ano não supere 1,5% do PIB.

 

 

"O governo usou mais um artifício para fechar as contas. Essa política fiscal é insustentável e tem que mudar para que o Brasil não corra o risco de perder o grau de investimento", diz Newton Rosa, economista-chefe da SulAmérica Investimentos, ressaltando que o governo terá que adotar, no mínimo, uma meta de superávit de 1% do PIB em 2015 e mostrar de forma clara como pretende alcançá-la.

Para o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, o caminho correto seria o governo admitir sem rodeios que não vai cumprir a meta de superávit primário neste ano e acenar com um resultado fiscal factível em 2015. "Mas o governo não parece acreditar que um ajuste fiscal seja necessário agora. Isso também dificulta a criação de uma equipe econômica mais séria e comprometida com uma política econômica crível", diz Vale.

Segundo o economista, "será sempre uma ilusão" acreditar que a presidente Dilma Rousseff "fará algo diferente do que fez ao longo de seu primeiro governo". E, sem mudanças, Vale prevê uma deterioração dos indicadores nos próximos meses, com piora da inflação e um dólar ascendente, aproximando-se do patamar de R$ 3 no ano que vem.



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