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BB cresce menos no crédito do que bancos privados

 

Veículo: Valor Econômico

Seção: Economia

 

Luis Ushirobira/Valor

Ivan Monteiro, vice-presidente do BB: Demanda mais fraca por empréstimos levou banco a reduzir previsão de alta da carteira de crédito neste ano

O Banco do Brasil (BB) desacelerou no crédito. Em balanço apresentado ontem, o BB mostrou que avança mais devagar nos empréstimos do que seus principais concorrentes privados. O banco teve um lucro líquido de R$ 2,78 bilhões no terceiro trimestre, valor 2,8% maior do que em igual período do ano passado.

O estoque de crédito no Brasil do maior banco do país cresceu 1,5% de junho a setembro, com R$ 611,8 bilhões. Em termos percentuais, o BB aumentou menos o saldo de empréstimo do que Itaú Unibanco, Bradesco e Santander individualmente. Juntos, eles tiveram uma expansão de 3%. No acumulado de 12 meses, o BB cresceu mais do que seus pares, com 14,1%.

A comparação do saldo dos empréstimos leva em conta apenas aqueles créditos desembolsados no país e que são classificados de acordo com a metodologia do Banco Central. Avais, fianças e títulos privados - outras formas de emprestar dinheiro usadas pelos bancos - não estão incluídos nessa conta.

Mais devagar no crédito, o BB perdeu espaço no mercado de empréstimos no Brasil. A fatia do banco controlado pelo governo passou de 21,3% em junho para 21,1% em setembro. Apesar de a retração ser pequena, essa é a primeira vez desde março de 2012 que o BB viu sua parte encolher.

Questionado pela reportagem sobre qual deve ser a participação de mercado do BB nos próximos trimestres, Ivan Monteiro, vice-presidente de finanças do banco, disse que a instituição não tem uma meta para isso.

Em nota enviada ao Valor, o BB considera que teve um crescimento do crédito bastante parecido com o dos demais bancos se forem incluídas nas contas as operações no exterior e eliminadas as aquisições de carteiras feitas pelos concorrentes. "Em termos nominais, o crescimento da carteira do BB é superior à do maior privado, em cerca de R$ 500 milhões."

Durante entrevista a jornalistas, Monteiro disse ontem que o BB encontrou menor demanda por parte de empresas e consumidores ao longo deste trimestre. Esse quadro, porém já mostrou sinais de recuperação em outubro, segundo o executivo.

Mesmo assim, o banco revisou para baixo sua previsão de crescimento da carteira de crédito ampliada no país, que inclui também avais, fianças e outros títulos.

No início do ano, o banco previa fechar 2014 com expansão entre 14% e 18%. Agora, o intervalo vai de 12% a 16%, sendo que até setembro o crescimento era de 13,1%.

Entre as pessoas físicas, a linha que mais cresceu foi a de financiamentos imobiliários com alta de 63,2% em 12 meses e de 9,3% no trimestre, para R$ 25,7 bilhões.

Quase sem atuar fora das agências, o BB tem encontrado mais dificuldade para crescer no crédito consignado, cujo estoque se retraiu 0,5% no trimestre, mas cresce 2,3% em 12 meses. Esse é um obstáculo que a partir do começo do ano ficará de lado. Por meio de uma parceria anunciada em agosto com o banco Votorantim, o BB terá mais um canal de vendas.

Para as pessoas jurídicas, o maior crescimento veio de empréstimos para o governo, que somaram R$ 26,7 bilhões, com alta de 69,7% em 12 meses e de 24,1% no trimestre.

Para analistas, o menor crescimento traz ganho ao BB. "Vemos [a revisão] positivamente, uma vez que isso pode ajudar o banco a preservar capital", disse o Deutsche Bank.

Em relatórios, os analistas mostraram uma preocupação maior com a qualidade dos ativos do BB. O índice de atrasos acima de 90 dias atingiu 2,09% no terceiro trimestre ante 1,99% no segundo trimestre e 1,97% um ano atrás.

"Uma potencial deterioração da qualidade de crédito permanece como uma de nossas maiores preocupações, dado o crescimento acima da média no crédito nos últimos dois anos", afirmou o Goldman Sachs.

O BB, porém, afirma que o crescimento dos calotes não está no radar. De acordo com Monteiro, a tendência do índice de inadimplência é de estabilidade ou "até decréscimo". "Nossa prioridade é continuar a trabalhar com linhas de menor risco", disse.

Os atrasos nos pagamentos tiveram impacto no resultado do banco. As despesas de provisão com crédito somaram R$ 4,57 bilhões no terceiro trimestre, com alta de 16,9% ante igual período de 2013.

Os gastos administrativos também tiveram elevação, de 8,9%, para R$ 8,1 bilhões. O maior peso veio das despesas de pessoal, causadas pelo reajuste salarial de 8,5% aplicado aos bancários em outubro.

Do lado dos ganhos do banco, a margem financeira líquida do BB cresceu 2,9% na comparação com o terceiro trimestre de 2013, para R$ 7,96 bilhões. O valor foi classificado pelo Credit Suisse como "menor do que o esperado", sob o impacto de um custo de captação mais alto.

Segundo Monteiro, o custo de funding mais elevado se deve à elevação da taxa Selic. O BB tem buscado driblar esse efeito com instrumentos de captação mais baratos, como letras de crédito.



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