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No Sul, planos mantidos apesar da frustração

 

Veículo: Valor Econômico

Seção: Economia

Sem esconder a frustração com a reeleição da presidente Dilma Rousseff, executivos de grandes empresas de varejo disseram ontem que pretendem manter suas estratégias de expansão em 2015 apesar da expectativa de um cenário mais difícil para o setor. Em seminário promovido pela Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) de Porto Alegre, eles cobraram mudanças na política macroeconômica no próximo governo, com foco na redução dos gastos públicos, dos juros e da inflação, mas não chegaram a apontar para um cenário de desastre à frente.

O presidente executivo da rede Quero-Quero, Peter Furukawa, disse que espera abrir "pelo menos" dez lojas em 2015, sem contar eventuais aquisições. A varejista de materiais de construção, móveis e eletrodomésticos controlada desde setembro de 2008 pela gestora de fundos Advent, possui 238 pontos nos três Estados do Sul e pretende adquirir uma rede de maior porte para ganhar musculatura, mas devido aos preços "exorbitantes" e aos "esqueletos" embutidos nas empresas prospectadas o avanço tem se concentrado na compra de pequenas lojas, disse o executivo.

Focada nas pequenas cidades do interior, a Quero-Quero não revela o faturamento, mas segundo Furukawa o crescimento dos últimos anos tem sido "consistente" e "melhor do que o esperado". A inadimplência (considerando atrasos superiores a 180 dias) está na mínima histórica de 1,6% e as vendas em mesmas lojas devem avançar 6% nominais em 2015, projetou. Mesmo assim, ele fez um comentário amargo sobre a política macroeconômica do próximo governo: "Sempre pode ficar pior. Se não tivermos cuidado, nossa democracia pode virar uma ditadura da plebe."

O presidente do grupo Boticário, Artur Grynbaum, confirmou que a taxa de crescimento das vendas em 2015 deverá ser menor do que os 16% previstos para este ano, que por sua vez já é uma revisão para baixo da projeção inicial de 18%. Ele afirmou que não é possível fazer uma estimativa mais precisa até que se conheça quais serão os principais "atores" da equipe econômica do segundo mandato da presidente Dilma. "Ela poderia falar já", cobrou o executivo, que mesmo diante do cenário mais "duro" afirmou que o mundo "não vai acabar" em 2015.

Segundo Grynbaum, os investimentos de R$ 650 milhões nos últimos três anos, incluindo a fábrica inaugurada em setembro em Camaçari (BA), provam que o grupo vê o futuro com otimismo. Mesmo assim, o empresário deu algumas sugestões de como o varejo deve se comportar nos próximos dois anos para enfrentar uma tendência de vendas estáveis com despesas crescentes: aumentar a produtividade com controle de custos e não usar capital de giro para financiar expansão de lojas, mas recorrer a linhas de financiamento de longo prazo e custos mais baixos, como as do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Conforme o diretor-presidente da Lojas Renner, José Galló, a estratégia de crescimento da empresa não será alterada porque ela foi feita para cenários "bons e não tão bons". "O que você faz é ajustes operacionais", afirmou. Questionado se planejava reduzir o ritmo de abertura e novas lojas em 2015, o executivo disse que não há nenhuma decisão tomada a este respeito e que o orçamento para o ano que vem ainda está em elaboração.

Para Galló, o consumo no país "não tinha como seguir crescendo" como nos últimos anos, depois que a demanda reprimida dos "35 milhões a 40 milhões" de brasileiros que tiveram ganhos de renda e entraram no mercado foi atendida. Segundo ele, agora o consumo voltou a um padrão de "normalidade" e o varejo que não apresentar um modelo de negócios competitivo "vai ficar pelo caminho".



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