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Pílulas do dia seguinte

 

Veículo: Folha de São Paulo

Seção: Economia

O pessoal do mercado choveu no molhado, ou secou na crise hídrica, já que a Bolsa fica por aqui na São Paulo esturricada. A reação à reeleição de Dilma Rousseff foi previsível, estereotipada e, em si mesma, nem foi extravagante nem acontece em um contexto de debandada, de fuga de capitais, nem de longe.

Claro que o caldo pode engrossar, em breve, caso a presidente demonstre desconexão da realidade.

Um relatório do banco JPMorgan de ontem, por exemplo, dizia que, caso a presidente reafirme a política econômica do primeiro mandato, o tumulto pode ser grande o suficiente para se espalhar por outros emergentes. "Chantagem", alguém dirá. Talvez. Mas não é gratuita.

Por ora, no entanto, lida-se apenas com o último muxoxo do pessoal da finança em relação à campanha eleitoral.

O dólar foi ao patamar mais alto em "cinco anos" ou mais, dizia-se. Nem a isso foi. A gente sabe que R$ 2,50 valem menos que R$ 2,50 valiam em 2008, por exemplo. Dada a inflação, o preço real do dólar está mais ou menos pela mesma de agosto de 2013, consideradas as médias do mês. Um dia de cotação não conta.

Sim, subidas rápidas para níveis mais altos e duradouros podem criar problema. Obviamente tais variações importam. Podem dar em inflação, desorganizam negócios e podem até pegar alguém de calça curta, embora o Banco Central venha oferecendo vasta proteção contra variações cambiais.

Isto posto, o clima não está bom. Não vai melhorar com discursos simpáticos. Um bordão da campanha de Dilma, "governo novo, ideias novas", apenas vai começar a ter algum sentido quando a presidente nomear uma equipe econômica que:

1) Seja comandada por alguém com ideias novas e diferentes daquelas de Dilma 1, pelo menos em relação à política macroeconômica (gasto público, inflação, juros);

2) Seja liderada por alguém que, por história pessoal, intelectual, profissional e temperamento, dê indícios de que apenas ficaria no cargo se tivesse alguma autonomia operacional.

Dilma criou problemas para si própria ao insinuar que o Banco Central não é o autônomo, por exemplo. Logo, terá certa dificuldade de nomear alguém com o perfil acima, a não ser que jogue uma parte da toalha.

Quanto a nomear um "empresário com boa interlocução com o mercado", o ato pode ser inútil, além de demonstrar uma incompreensão grande do que deve ser o papel das autoridades econômicas, quando não um perigo mesmo -ele pode ser apenas um despachante de lobbies. A economia não precisa de apenas conversa e amizades demais.

Outra vez, é óbvio que o governo deve conversar com todas as partes interessadas e relevantes, por puro e pragmático bom senso, para saber o que se passa no mundo fora do universo paralelo de Brasília.

Mas o mínimo que se espera de uma nova equipe econômica é que ofereça a perspectiva de que, em primeiro lugar, o básico da administração econômica não vá desandar (o governo parecerá capaz de pagar suas contas, a inflação será controlada etc.). Em segundo, que cesse a barafunda de intervenções. Em terceiro, que se apresente um programa de mudanças institucionais mínimo, que comece a limpar aberrações brasileiras. 



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