Notícias

Estrangeiros esperam pragmatismo

 

Veículo: Valor Econômico

Seção: Economia

Bancos internacionais manifestam expectativa de que a presidente reeleita Dilma Rousseff esclareça rapidamente seus planos para melhorar o desempenho da economia e aponte uma equipe "pragmática". Em nota a investidores, o Société Générale diz que a confiança dos investidores continua a ser elemento-chave para a recuperação e "é provável que práticas políticas e administrativas vão ser tratadas pelo governo Dilma no segundo mandato para reforçar o sentimento e apetite dos investidores".

Para o Royal Bank of Scotland , o governo reeleito terá muito trabalho pela frente, lembrando que auxiliares de Rousseff já disseram que a presidente tentará recuperar a confiança dos mercados financeiros, com o anúncio de um ministro da Fazenda "mais pragmático" para o segundo mandato.

Reconhecendo que errou ao projetar maior probabilidade de vitoria de Aécio Neves, o Royal Bank of Canada mantém a projeção de R$ 2,55 por dólar até o fim do ano e diz que trabalhará agora com dois possíveis cenários.

Primeiro, o de que o PT adotará uma atitude mais favorável ao mercado, "o mais rápido possível". O elemento-chave nesse cenário é a nomeação de uma equipe econômica "pragmática". Ele acredita que o Banco Central manterá o aperto monetário por algum tempo e que o mais provável é que as operações de swap cambial passem de US$ 100 bilhões para algo entre US$ 150 bilhões e US$ 175 bilhões nos próximos seis meses.

Neste cenário, a nova equipe econômica provavelmente ganhará a confiança do mercado e o câmbio pode baixar a R$ 2,35 em seis meses. O banco canadense considera haver 60% de chance de que este cenário prevaleça.

O segundo cenário é o de que o PT mantenha as atuais políticas. A principal preocupação é de que ocorra uma escalada no escândalo da Petrobras. Neste cenário, o banco projeta o dólar a R$ 2,75, podendo chegar a R$ 3. E considera que não ficará surpreso se os problemas na Petrobras deflagrarem redução do rating de crédito.

A consultoria Capital Economics também publicou nota ontem na qual avalia que a reeleição diminui as esperanças de mais reformas no Brasil. A consultoria argumenta que Dilma, no seu primeiro mandato, apresentou os mais fracos resultados de qualquer presidente desde os anos 90 e que, na ausência de importantes mudanças para o segundo mandato, a tendência é de que o mesmo desempenho possa se repetir nos próximos quatro anos.

Para a consultoria, a expectativa no mercado financeiro é de que os próximos passos da presidente, caso ocorram, sejam em direção ao combate à alta inflação e à deterioração no setor fiscal. A Capital Economics diz que esses problemas só podem ser resolvidos com nova onda de reformas, embora considere que uma grande mudança parece improvável com Dilma.

Ao mesmo tempo, a Capital Economics destaca que novos desafios econômicos devem emergir durante o segundo mandato. A consultoria destaca que a economia brasileira continua a sentir os efeitos do fim do "boom"' global das commodities e acrescenta que o próximo problema pode derivar da rápida acumulação de divida privada na ultima década. Para a consultoria, sem reformas o Brasil ficará limitado "ao novo normal", com crescimento em torno de 2% ao ano, metade do que estima que o nível de desenvolvimento do país seria capaz de alcançar.

O UBS avalia que governo e empresas brasileiras deverão pagar mais por crédito no exterior, num primeiro momento em reação à reeleição. Para o banco, o mercado de crédito para títulos de dívida soberana provavelmente vai reagir negativamente à vitória do PT, com os "spreads podendo aumentar para mais de 260 pontos-base sobre os títulos do Tesouro americano nos próximos dias.

A percepção dos analistas do banco é que os "spreads" também tendem a aumentar para títulos de dívida corporativa. A primeira leitura é que a política econômica seguirá inalterada no geral no longo prazo e que o Brasil continuará a enfrentar um ambiente difícil na política fiscal, crescimento econômico anêmico e menor confiança dos empresários.

"Como resultado, os fundamentos de crédito de companhias brasileiras serão provavelmente afetados negativamente", diz o banco em nota a clientes.

Para o UBS, muito dependerá das indicações sobre o futuro das políticas econômica e fiscal do país. Mas seus analistas, no geral, têm pouca expectativa de mudanças no segundo mandato de Dilma. Acham que a presidente e seu partido, o PT, vão ajustar a política econômica apenas "na margem". O UBS projeta crescimento de apenas 1% para o Brasil em 2015, com persistência de inflação alta e vê a possibilidade de o desemprego começar a subir moderadamente.

O banco suíço também considera que os fundamentos da balança de pagamentos continuarão a provocar mais desvalorização do real.



Compartilhe:

<< Voltar

Nós usamos cookies em nosso site para oferecer a melhor experiência possível. Ao continuar a navegar no site, você concorda com esse uso. Para mais informações sobre como usamos cookies, veja nossa Política de Cookies.

Continuar