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Mercado vê Selic a 11% agora e câmbio pode ser gatilho em 2015

 

Veículo: Valor Econômico

Seção: Economia

O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) deve manter inalterada, em 11%, a taxa Selic na quarta-feira, ao final de sua penúltima reunião do ano. Para quase todos, esse juro deve ser reprisado no encontro de 2 e 3 de dezembro. De 37 economistas de instituições financeiras e consultorias ouvidos pelo Valor Data na semana passada, apenas dois apresentavam cenário alternativo para o caso de vitória, do candidato do PSDB a Presidente, Aécio Neves. Menos de 3,5 milhões de votos creditados adicionalmente à candidatura de Dilma Rousseff derrubaram essa possibilidade e renderam à presidente mais quatro anos de governo. O segundo mandato tem início em 1º de janeiro de 2015. O mesmo levantamento mostra, que para 2015, 26 profissionais ou 72% da amostra vê, no máximo, aumento da Selic de até 1,5 ponto percentual – 10 analistas projetam Selic a 11%, outros 9 a 12% e  mais 8 trabalham com taxa básica de 12,5% ao final de 2015. Um participante da pesquisa vê Selic em alta a 13% e dois consideram corte ou Selic abaixo de 11% em dezembro do próximo ano.

A pesquisa das projeções pré-Copom, publicada sistematicamente pelo Valor e Valor PRO com opiniões de profissionais do sistema financeiro, é resultado de  trabalho feito em conjunto com os jornalistas Lucinda Pinto e Antonio Perez, especialistas em taxa de juros e editores do Valor PRO. Edição semelhante a essa que você lê agora foi divulgada na edição de sexta-feira, 24, do Valor, com o título “Mercado vê Selic estável este mês, mas diverge sobre rumo futuro”. Por uma falha operacional, as estimativas enviadas por algumas instituições não constavam da tabela que está republicada abaixo. O texto, porém, tem uma atualização, considerando o encerramento das eleições no país. Mas as informações utilizadas são as repassadas originalmente pelos economistas.

André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, está convencido de que não há espaço para subir o juro ainda mais em 2015, porque as condições globais serão ainda de farta liquidez e a economia mundial deflacionista por conta de um fraco crescimento. “Medidas para controlar a inflação devem passar por outros instrumentos fora do poder do Banco Central. Por exemplo, a concessão de crédito pelos bancos públicos e um aperto fiscal mais crível e forte.”

O Banco Pine está entre as instituições que admitem elevação da Selic, em 2015, até 12,5%. Marco Maciel, economista-chefe da instituição,esclareceu, na semana passada, que sua expectativa é apolítica e baseada no horizonte mais longo de tempo utilizado pelo BC no Relatório de Inflação do terceiro trimestre, necessário para a convergência da inflação do IPCA para 5%. “O nosso cenário conta com a o início do aperto monetário a partir do primeiro trimestre do ano que vem. E assumimos que, para ajudar a eficácia da política monetária, a política fiscal praticada seria contrativa, caracterizada pela recomposição de tarifas e receitas públicas e pelo congelamento de gastos correntes como proporção do PIB real (idealmente) ou nominal (na melhor das hipóteses)”, esclarece Maciel.

Thaís Zara, economista-chefe da Rosenberg & Associados, que respondeu ao Valor nesta segunda-feira e conhecendo, portanto, o resultado da eleição presidencial, supõe que ocorrerão  algumas correções na direção de maior ortodoxia da condução da política econômica. “Partindo dessa hipótese, podemos ter alta dos juros logo no início do ano, para conter o repasse da depreciação cambial à inflação e ajudar a contrabalançar a inflação de administrados, que deve ser maior. Cremos que pode ir a 12%. Se não houver essa guinada, juros ficam como estão”, diz.

A taxa de câmbio pode ser o fator exclusivo a interferir na orientação da taxa básica de juro daqui para frente, na opinião de Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, que espera manutenção em 11% para o encerramento deste ano e contempla, para 2015, um intervalo de 11% a 12,5%, não demonstrando expectativa com mudança relevante caso o comando do BC não seja substituído no segundo mandato da presidente Dilma Rousseff. “Manter o BC atual vai significar manter o discurso de sempre, de que a desaceleração da economia mundial vai baixar os preços, que nossa desaceleração vai ajudar, etc, etc,etc. Ou seja, o mesmo de sempre e que nunca deu certo nesses quatro anos. O que pode fazer o BC atual ficar mais preocupado é a escalada do câmbio que terá um gatilho adicional com a vitória da Dilma. Esse cenário cambial bem mais adverso pode levar o BC a se preocupar com a inflação e de fato subir os juros ano que vem, mas creio que vai ser menos e mais tarde do que precisaria”, pondera Vale.

Este economista  não descarta uma elevação da Selic pelo BC como resposta a um impacto do câmbio nos preços livres, que seria revertido mais à frente com a Selic encerrando o ano de 2015 a 11%. Se a oposição tivesse vencido, pondera Vale, a percepção de que os preços administrados seriam um problema no ano que vem, acabaria por incentivar trazer a Selic de fato para 4,5%, numa ação harmônica de política monetária e política fiscal. “O BC atual, do governo Dilma, está sozinho no combate à inflação, mas não parece ter autorização por parte do governo para fazer o trabalho dele mais o da política fiscal, o que exigiria uma taxa de juros muito mais elevada.  Essa tem sido claramente a política preconizada pela presidente, que não admite taxa de juros muito elevada, mesmo com todos os riscos que isso traz. Nossa preocupação maior é com o que virá de 2016 para frente. A perspectiva, com Dilma, é de inflação cada vez mais pressionada.”



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