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Varejo aumenta vendas em agosto, mas tendência de desaceleração se mantém

Veículo: O Estado de São Paulo
Seção: Economia

Depois de dois meses em queda, o varejo voltou a crescer em agosto. Segundo dados da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as vendas subiram 1,1% ante julho, recuperando parte do faturamento perdido em junho e julho, quando a Copa do Mundo e o excesso de feriados atrapalharam o resultado do setor.

Economistas concordam, no entanto, que o resultado positivo é muito mais um "rebalanceamento" de um primeiro semestre fraco do que uma mudança de tendência, que continua sendo de desaceleração, em um quadro ainda rígido de preços altos e, principalmente, crédito caro.

 

Sintoma disso são os resultados anualizados das vendas. Comparado a agosto do ano passado, o volume vendido teve queda de 1,1%, e, em 12 meses, acumula crescimento de 3,6%, já abaixo de 2013, quando as vendas cresceram 4,3%.

"A conjuntura econômica não vai bem. Aliado a isso, estamos em um ano de eleição, o que deixa as famílias mais cautelosas no consumo. A renda também está mais comprometida em razão de endividamento e o crédito não cresce na mesma velocidade que antes", disse Juliana Vasconcellos, gerente da coordenação de serviços e comércio do IBGE. Devido a esse cenário, Juliana disse que a alta de 1,1% em agosto na comparação com julho, na série livre de influências sazonais, não pode ser considerada uma recuperação do comércio. Em oito meses do ano, cinco foram de queda.

"O consumo ficou reprimido por causa da Copa do Mundo, que desviou a atenção do consumidor. é normal que as famílias voltem a consumir mais, depois de meses de demanda reprimida, mas ainda é cedo para afirmar que o comércio está em recuperação", disse ela.

"Os principais destaques de agosto vieram de setores que vinham mostrando desempenho muito fraco nos últimos meses, como eletrodoméstico, vestuário e equipamentos de informática", afirmou Mariana Oliveira, analista da Tendências Consultoria. São segmentos que sofrem mais diretamente os efeitos de juros e crédito, explica Mariana, fatores que pioraram do ano passado para cá. A Tendências prevê crescimento de apenas de 2,1% das vendas neste ano.

Uma simulação feita pela Confederação Nacional do Comércio (CNC) apontou que as parcelas de um empréstimo, hoje, são 8,6% mais caras que há um ano: financiar uma compra de R$ 1.000, em agosto de 2013, resultava em parcelas de R$ 36,70 ao mês, ao longo de 48 meses. Em agosto deste ano, o mesmo financiamento sairia por R$ 39,91, em um prazo de 47 meses. Os números levaram em consideração as taxas de juros anuais do mercado, que, segundo o Banco Central, saíram de média de 36,6% ao ano em agosto de 2013 para 43,1% em agosto deste ano.

"No curto prazo, o que ajudou nessa alta de agosto foi a inflação, especialmente no segmento de bens duráveis, que foi próxima de zero e ajudou o setor a tirar um pouco a corda do pescoço", disse o economista da CNC, Fábio Bentes. A variação da inflação dos bens duráveis, calculada pela entidade a partir do deflator da própria PMC, que é a diferença entre as vendas nominais e as reais, foi de apenas 0,1% de julho para agosto. "A má notícia é que, na comparação anual, o resultado é de queda, e aí é efeito relacionado ao encarecimento do crédito mesmo."

Na avaliação da CNC, o resultado deste ano "será o pior crescimento para o comércio desde 2003", segundo Bentes. "De 2003 para a frente, o setor entrou numa era de ouro, crescia a uma média de quase 8% ao ano, e injeção de crédito ao consumidor foi justamente o combustível que alimentou isso. Agora, é também o encarecimento desse combustível que responde pela desaceleração."

Apesar de crescer a taxas menores, o comércio hoje trabalha em patamar inteiramente novo, diz Bentes. O varejo dobrou de tamanho nesse período. Em 2004, estima Bentes, o faturamento do comércio ampliado, considerado material de construção e também cadeia automotiva, somou R$ 661,8 bilhões. Em 2013, atingiu R$ 1,2 trilhão, descontada a inflação do período.



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