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As razões para o comportamento benigno

Veículo: Valor Econômico

Seção: Economia

O Índice de Preços ao Produtor (IPP), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra um comportamento muito benigno da inflação da indústria. Os preços de saída da fábrica (critério que incorpora descontos nos valores de tabela eventualmente oferecidos pela indústria na negociação com seus clientes) subiram 0,61% no acumulado do ano até julho. E estão em deflação há cinco meses consecutivos, período em que acumulam queda de 1,25%.

Apesar de baixo, esse aumento no ano supera, um pouco, a alta de 0,59% no mesmo índice registrada em 2011. Naquela ocasião, o dado dos primeiros sete meses foi influenciado por uma deflação menor (1,12%), mas concentrada em dois meses.

A diferença entre os dois períodos é que há três anos a influência do câmbio no resultado foi mais forte. Entre o fim de 2013 e os primeiros sete meses deste ano, o real se valorizou em 2,6%. Entre o fim de 2010 e os primeiros sete meses de 2011, a valorização foi de 6,6%. Ou seja, aparentemente, o câmbio influenciou mais a queda de preços naquele período que agora. Em 2011, o câmbio ainda estava em trajetória de apreciação em relação a 2010. Agora, ele está mais próximo de uma estabilidade, apesar de algumas altas (como em janeiro) e de baixas (como em junho).

Se o câmbio explica menos do comportamento estável dos preços, a fraca atividade econômica aparece como a grande explicação. O cenário de demanda fraca e de Produto Interno Bruto (PIB) negativo no período - o resultado do segundo trimestre será anunciado na sexta-feira, mas espera-se uma retração em relação ao primeiro trimestre - reduziu o espaço para reajustes de preço e provavelmente provocou maiores negociações entre indústria e varejo ou entre indústria e indústria.

Do total de 23 setores pesquisados pelo IBGE, 10 acumulam pelo menos dois meses de deflação, mas 5 deles já estão em queda há cinco meses. Entre esses 5, está a indústria de alimentos, com retração de 2,88% nos preços. O segmento de bebidas (apesar de uma pequena alta em julho) também tem deflação de 2,57% até julho.

No total, dez setores estão com deflação no acumulado do ano. O problema é que, fora alimentação, bebidas e fumo, poucos desses setores têm impacto mais direto na cesta básica de consumo das famílias, o que pode retardar - ou até impedir - que essa inflação benigna dos preços industriais se transforme mais rapidamente em inflação comportada nos Índices de Preços ao Consumidor (IPCs). O caminho, que passa pelas cadeias intermediárias de produção na indústria, pode ser mais demorado. Mas já começou a ser trilhado.

Produtos têxteis e de vestuário estão com deflação há dois meses e os de calçados (com um mês de queda forte nos preços, 1,38% em julho) acumulam a menor inflação nos primeiros sete meses do ano da série do IPP, que começa em 2010. Estranho também é a inflação de automóveis. Apesar da forte queda nas vendas de veículos, os preços do segmento de veículos automotores acumulam alta de 2,14%, a maior para os primeiros sete meses do ano de toda a série do IPP.

 



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