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Preocupação com o social e críticas ao sistema financeiro

Veículo: Valor Econômico

Seção: Economia

O papel de empresário, mas também de homem preocupado com os problemas sociais do país, deram a tônica da repercussão da morte de Antônio Ermírio de Moraes. Para o presidente do conselho de administração da Gerdau, Jorge Gerdau Johannpeter, "o Brasil perdeu um dos maiores líderes empresariais do século XX". Segundo o empresário, Antônio Ermírio se destacava por "sua versatilidade e capacidade de liderar, de forma técnica e diferenciada, o processo empresarial e industrial".

"Além disso, dedicou-se fortemente às causas sociais e estimulou o debate de temas chaves para o Brasil, contribuindo para importantes avanços do país. Ele foi um exemplo para todos os brasileiros, principalmente para a classe empresarial", acrescentou.

Em 1978, Antônio Ermírio, junto a Jorge Gerdau, José Mindlin, Severo Gomes, Paulo Villares, Cláudio Bardella, Laerte Setúbal Filho e Paulo Vellinho, lançou um manifesto histórico, conhecido como "Documento dos Oito", em que os empresários pediam mudanças na política econômica e a volta da democracia.

O presidente da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Benjamin Steinbruch, disse que a morte do empresário foi "uma grande perda". "Estudei com o Antônio Ermínio de Moraes Filho. Desde os seis anos frequento a casa do doutor Antônio. Tenho o maior respeito e admiração por ele, pela dona Regina e pelos filhos todos. Era um dos nossos líderes e esse momento é muito triste para nós."

Perguntado sobre os ensinamentos de Moraes, Steinbruch disse que há muitos e que já tomou muita "bronca". "Desde os seis anos a gente tomava bronca. Mas, mais do que qualquer coisa, [o maior ensinamento é sobre] o trabalho. Um homem sempre dedicado ao trabalho, com muita seriedade e sucesso."

A presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição pelo PT, em nota à imprensa, afirmou que o presidente de honra do grupo Votorantim "sempre acreditou no desenvolvimento do Brasil". O vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB), destacou "a dimensão" do empresário, durante o velório em São Paulo. "Os brasileiros conhecem a conduta, a dimensão, o tamanho de Antônio Ermírio de Moraes. O empresariado brasileiro e os brasileiros perdem muito com o seu falecimento", disse Temer.

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou nota assinada por seu presidente, Robson Braga de Andrade, lamentando a morte do empresário e reforçando sua importância como "um modelo de industrial e de cidadão por suas ações em favor do desenvolvimento e da redemocratização do país". "O Brasil precisa de mais cidadãos e empresários como ele", afirmou.

O ex-ministro da Fazenda Delfim Netto esteve presente no velório. "É uma enorme perda. Foi um grande empresário, que ajudou a construir o Brasil. Na verdade, a família Ermírio de Moraes tem ajudado a construir o Brasil há três gerações. É uma perda inestimável", afirmou o ex-ministro.

Para o também ex-ministro Mailson da Nobrega, Antônio foi um empresário diferente. "Ele destoou de sua geração, em que era muito comum que a segunda geração fizesse desaparecer o patrimônio dos pais. Pelo contrário. Ele ampliou, diversificou, consolidou e preparou o grupo para a perpetuação", disse o ex-ministro. "Além disso, deixa o legado de um empresário não preocupado somente com questões empresariais, mas também com questões no campo social."

O presidente do Itaú Unibanco, Roberto Setubal, também passou pelo velório. "É um exemplo de empresário para todos nós. Foi um grande brasileiro, com uma ética incomparável. Sempre acreditou muito no Brasil, sempre investiu muito no Brasil, e vai deixar saudades", afirmou. Em nota, Lázaro de Mello Brandão, presidente do conselho de administração do Bradesco, afirmou que o país perdeu um pioneiro na criação da economia brasileira moderna. "Foi-se um homem de crença e coragem na defesa dos valores do investimento, do emprego e da produção. Entusiasmado e empolgante, ele conduziu o grupo Votorantim ao mais alto patamar da iniciativa privada nacional", afirmou Brandão.

Professor de Universidade de São Paulo (USP) e autor da biografia do empresário, José Pastore destacou a "inteligência privilegiada" e as "profecias" do empresário. "A grande lição é a generosidade. Apesar de uma vida inteiramente dedicada ao trabalho, ele sempre encontrou tempo para ajudar os mais necessitados. Passou metade do tempo dele neste hospital [Beneficência Portuguesa, onde foi velado o corpo]. Falava que, para um homem rico, era fácil fazer um cheque, mas o importante era vir aqui e entregar seu tempo e se dedicar à administração do hospital. Isso é uma coisa admirável ", disse.

Pastore também comentou sobre as críticas de Moraes ao sistema financeiro. "Ele nunca se conformou com a ciranda financeira. Ele sempre disse que o importante era o país ganhar dinheiro produzindo. Com a produção, poderíamos ter mais bens nas prateleiras. Sem uma produção, não se poderia reduzir a inflação, enquanto que a pura especulação não gera nada e facilitaria a inflação. É uma teoria simples, mas objetiva."

 



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