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Copa reduz número de dias úteis e derruba as vendas do varejo

Veículo: Valor Econômico

Seção:E conomia

O "efeito Copa" mostrou mais um impacto negativo sobre a economia no mês de junho. De acordo com a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), as vendas do varejo restrito no período caíram 0,7% em relação ao mês anterior, já feito o ajuste sazonal, e subiram apenas 0,8% sobre junho do ano passado, depois de crescerem 4,7% em maio, na mesma comparação.

A contribuição dos jogos para a retração, para economistas ouvidos pelo Valor, vai desde a redução no número de dias úteis à antecipação da compra de alguns produtos, como televisores. Ao lado do recuo nos indicadores da indústria entre abril e junho, o desempenho do varejo reforça as estimativas de retração do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre.

 

 

Nove dos dez segmentos do varejo ampliado, que inclui material de construção e automóveis, apresentaram queda nas vendas em junho, em relação a maio. No caso do grupo de móveis e eletrodomésticos, diz Fernanda Consorte, do Santander, o Mundial antecipou a demanda - movimento refletido nas vendas de maio desses produtos, que apuraram alta de 1,8% sobre abril - e foi, por isso, um dos principais responsáveis pela queda de 2% vista no intervalo. Em outras atividades, como material de construção, cuja queda foi de 3,9%, os jogos teriam adiado a decisão de compra.

Essa dinâmica, em paralelo ao desempenho fraco do comércio neste ano - que dificilmente tem conseguido colher altas superiores a 1% nas vendas nas comparações com meses imediatamente anteriores -, explica, para ela, o quadro predominantemente negativo do levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em junho.

Mesmo o desempenho positivo do segmento de supermercados, de 0,6%, frustrou a projeção de alguns economistas. Para Mariana Oliveira, da Tendências Consultoria, o comportamento mais favorável dos preços no período, especialmente do grupo de alimentos e bebidas - que teve deflação de 0,11% no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no intervalo - apontava para uma contribuição maior desse ramo para o comércio.

"A Copa acabou criando um ambiente de paralisia na economia e afetou as decisões de consumo", avalia Mariana. Essa constatação, para ela, se traduz de certa forma no recuo de 0,9% nas vendas do grupo de artigos de perfumaria e farmacêuticos. Mesmo com a perda de fôlego da atividade nos últimos meses, esse segmento - que reflete muitas vezes a compra nas farmácias, por impulso, de "miudezas", que não pesam tanto no orçamento - vinha mostrando desempenho positivo na PMC.

Para Flavio Serrano, do BES Investimento, a desaceleração paulatina dos ganhos de renda das famílias desde o início do ano também contribuiu de forma importante para o resultado. "O alívio da inflação de alimentos não foi suficiente para se sobrepor a essa perda de fôlego e estimular o consumo nos supermercados, por exemplo", argumenta. A queda de 1% no ramo de calçados e vestuário, sempre na comparação com o mês anterior, também é consequência dessa trajetória descendente na curva dos ganhos de renda, avalia.

Para Juliana Vasconcellos, gerente da coordenação de serviços e comércio do IBGE, a redução de dias úteis teve importância fundamental para a retração do varejo em junho. "Dia útil é algo importantíssimo para o comércio. Tivemos feriados em várias partes do país por conta da Copa do Mundo. No Rio de Janeiro, por exemplo, a cada jogo no Maracanã havia um feriado. Isso afetou o comércio como um todo", disse a especialista do IBGE. No caso de veículos e motos, a queda expressiva de 12,9% contra maio deu-se também em razão da menor disponibilidade de crédito e renda.

O comportamento das vendas de veículos, aliás, foi a principal surpresa negativa da pesquisa para Serrano, do BES. O economista não esperava um tombo tão significativo do grupo e, por isso, estimava redução de 2,2% no varejo ampliado sobre maio. A queda foi de 3,6%. "O resultado da pesquisa reforça a ideia de desaceleração generalizada da economia e de que o PIB do segundo trimestre ficou próximo a zero, ou ligeiramente negativo", avalia.

Fernanda, do Santander, projeta queda de 0,3% no PIB entre abril e junho, mas, justamente por conta do efeito atípico da Copa, não acredita que o resultado indique que a economia brasileira esteja em recessão. "O cenário aponta para uma estagnação".

A Rosenberg & Associados e os bancos Brasil Plural e Fator também destacaram em relatório o impacto da Copa sobre os número negativos do varejo em junho. Para o Plural, além do ambiente mais restritivo criado pelos jogos, o desempenho reflete ainda a queda da confiança do consumidor e o esfriamento do crédito e do mercado de trabalho nos últimos meses.

 



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