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Por que o Fed vigia salários e a capacidade ociosa

Veículo: Valor Econômico

Seção: Economia

Fábricas norte-americanas que ficaram ociosas durante a recessão agora estão em pleno funcionamento. Edifícios comerciais e residenciais têm menos espaços vazios. O desemprego está caindo e os salários e benefícios crescem lentamente. Esses são sinais de uma economia que ainda se cura de uma recessão profunda que deixou a economia com capacidade ociosa: - a diferença entre os recursos disponíveis e os que estão sendo usados. Segundo muitas medidas, essa diferença diminuiu consideravelmente, mas não por completo, mesmo cinco anos após o início da recuperação.

As condições ainda não voltaram ao que era normal antes da crise financeira de 2008. O grau e a velocidade desse progresso são importantes para o Federal Reserve, o banco central americano, em sua decisão sobre quando começar a elevar as taxas de juros. Se a diferença diminuir rapidamente, as pressões inflacionárias poderiam se intensificar: as empresas podem precisar aumentar os preços para cobrir os custos de turnos extras e contratação de mais empregados, e um mercado de trabalho mais forte poderia, por sua vez, incentivar aumentos salariais mais rápidos.

Mas se essa diferença continuar se reduzindo lentamente, os aumentos de preços devem continuar pequenos, permitindo que o Fed mantenha o juro baixo por mais tempo. As autoridades do Fed, em especial a presidente, Janet Yellen e alguns aliados, têm se concentrado no mercado de trabalho ocioso, ou seja, até que grau os trabalhadores do país não encontram emprego pleno. Eles citam dados sugerindo que há muito espaço para melhorar, como a ainda elevada taxa de desemprego de 6,2%, o grande número de pessoas que trabalham em tempo parcial e prefeririam emprego em tempo integral, e o pequeno aumento salarial dos últimos anos.

Essas autoridades são a favor da manutenção dos juros de referência de curto prazo perto do zero, até meados do próximo ano, para incentivar um maior crescimento, o que resulta em mais empregos e ganhos salariais. "Uma série de indicadores do mercado de trabalho sugere que ainda há uma subutilização significativa [...] da mão de obra", afirmou o Fed em um comunicado após sua reunião mais recente, refletindo a visão de consenso. Mas alguns formuladores de políticas do Fed dizem que a economia avançou tanto que eles talvez tenham que começar a elevar os juros no início do ano que vem, ou talvez até no fim deste ano, para evitar um salto da inflação. "A economia está atingindo nossa meta desejada mais rápido que imaginávamos", disse Richard Fisher, presidente do Fed regional de Dallas, Texas, em pronunciamento no mês passado. Outros setores da economia revelam um panorama mais heterogêneo, com alguns mostrando melhora significativa em relação aos piores dias da recessão, mas outros nem tanto. Por exemplo, a avaliação mensal do Fed da produção industrial mostra que as fábricas, as minas e os serviços públicos, em conjunto, recuperaram quase todo o terreno perdido.

Em junho, as empresas desses setores estavam usando 79,1% da sua capacidade, uma alta considerável em relação aos 66,9% vistos no auge da recessão, em junho de 2009, e só um ponto percentual abaixo da média de longo prazo, de 80,1%, verificada entre 1972 e 2013. Juntos, esses setores representam pouco mais de um décimo da atividade econômica total dos EUA. A taxa de vacância dos edifícios comerciais continua bem acima da média de 15,4% de 1985 a 2005, chegando a 16,8% no primeiro trimestre de 2014. E no aquecido mercado de apartamentos residenciais, que se beneficiou da alta da demanda por imóveis de aluguel após a crise imobiliária, a taxa de vacância caiu para 4% no primeiro trimestre, ante uma média de 5,6% entre 1985 e 2000. Certamente, a ociosidade pode diminuir tanto com um aumento da demanda quanto com uma redução da capacidade, como ocorre quando fábricas são fechadas ou as companhias aéreas eliminam rotas. Seja como for, um possível resultado é mais poder de formação de preços.

O Fed vê a inflação fraca dos últimos anos como um sintoma da ociosidade. Seu indicador de inflação preferido está abaixo da meta de 2% há mais de dois anos. Mas ele tem acelerado recentemente, chegando mais perto dessa meta. O problema para as autoridades do Fed é que a ociosidade no mercado de trabalho é mais difícil de medir. Eles concordam que o número de empregos está crescendo mais rápido que o esperado, mas discordam sobre o quanto ele ainda tem que avançar antes que a inflação se torne um risco. "Se há uma ociosidade limitada no mercado de trabalho, os salários deveriam avançar", escreveu Robert Valetta, consultor de pesquisa do Fed de San Francisco num relatório de julho. As autoridades do Fed gostariam de ver maior crescimento dos salários durante algum tempo, mas se o aumento for demasiado e se outros indicadores mostrarem que a ociosidade está acabando depressa em toda a economia, o debate sobre quando subir o juro poder mudar rapidamente.

 



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