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Inflação recua em julho, mas ainda é cedo para comemorar

Veículo: Valor Econômico

Seção: Economia

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou em apenas 0,01% em julho, de acordo com estatísticas divulgadas na sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O número é alentador, mas será necessário aguardar mais dados antes de concluir que a dinâmica da inflação de fato mudou.

A variação de preços apurada em julho foi menor do que o já baixo 0,1% esperado pelos analistas econômicos privados, de acordo com a média das projeções coletadas pelo Valor Data. Também é inferior ao 0,03% observado em julho de 2013, que, para muitos, parecia um piso difícil de ser batido. O índice de difusão, que mostra o quanto a inflação está disseminada, recuou de 69,3% para 58,5% entre junho e julho.

Os preços do grupo alimentação diminuíram 0,15% em julho, com um impacto positivo de 0,04 ponto percentual no IPCA. Há sinais de um movimento duradouro de acomodação da inflação desses itens, graças à safra recorde colhida no Brasil e em outros países, como os Estados Unidos. Os preços internacionais dos alimentos caíram pelo quarto mês seguido, assinalou a coordenadora de índices de preços do IBGE, Eulina Nunes dos Santos.

Ainda assim, a situação não é confortável. A inflação acumulada em 12 meses segue alta, em 6,5%, exatamente no teto admitido pelo regime de metas de inflação. O recuo do IPCA deve muito à queda dos preços de passagens aéreas, de quase 27%, que deu uma ajuda de 0,14 ponto percentual ao índice. Os núcleos de inflação continuam pressionados.

De uma semana para cá, o Banco Central passou a afirmar que estão acontecendo progressos na luta contra a inflação. O presidente da instituição, Alexandre Tombini, destacou em pronunciamento na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado que o índice de preços no atacado recuou por três meses seguidos e, segundo avaliação da Fundação Getúlio Vargas (FGV), poderá voltar a cair em agosto. Nos últimos 20 anos, notou, houve deflação no atacado por três meses seguidos apenas em três outras ocasiões: em 1998, 2005 e 2009.

Também na semana passada, na divulgação do Boletim Regional, o diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton Araújo, lembrou que em março o IPCA havia chegado a 0,92% e que, se caísse a 0,15% em julho como muitos analistas esperavam, a inflação mensal teria encolhido a um sexto. Para ele, a deflação nos índices de atacado deverá puxar para baixo o IPCA de agosto e possivelmente os de meses seguintes.

Alguns economistas privados já vinham chamando a atenção para a queda dos preços no atacado, que tende a favorecer o recuo da inflação no varejo. Mas eles ainda se mantinham céticos sobre a hipótese de o IPCA convergir a passos mais largos para o centro da meta de inflação, de 4,5%.

Como o próprio Banco Central já afirmou em mais de uma oportunidade, o repasse das quedas de preços do atacado ao varejo depende de fatores como o grau de aquecimento da economia e das expectativas de inflação. Os sinais são de que a economia caminha abaixo de seu potencial, o que tende a ajudar. As projeções de inflação, no entanto, seguem contaminadas pelas incertezas sobre a política fiscal, os reajustes de combustíveis e tarifas de energia elétrica e a evolução da taxa de câmbio.

Recentemente, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, deu indicações de que um novo aumento no preço dos combustíveis está no radar. Segundo ele, esses ajustes são anuais. O empréstimo de R$ 6,6 bilhões às distribuidoras de energia elétrica fechado na semana passada significa, na prática, que parte da solução dos desequilíbrios tarifários está sendo adiada e que a dose do inevitável ajuste será ainda mais forte no futuro.

O dólar voltou a subir na semana passada e o mercado financeiro tem questionado de forma crescente as intervenções do Banco Central no mercado futuro, que chegam perto de US$ 100 bilhões. Para muitos, a ação apenas adia a correção na taxa de câmbio e traz mais incerteza para a inflação. A politica fiscal segue expansionista.

Esses são fatores que dificultam, mas não impedem que a inflação caia. As expectativas são fortemente influenciadas pela inflação corrente. Uma sequência de bons indicadores mensais, como foi o IPCA de julho, poderá mudar o humor dos economistas privados e facilitar o combate à alta generalizada de preços da economia.

 



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