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Volatilidade cambial está no menor nível desde 2013

Veículo: Valor Econômico

Seção: Economia

O Banco Central voltou a demonstrar preocupação sobre "tensão e volatilidade" nos mercados de moedas, conforme a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada na semana passada. Mas essa leitura não é referendada por índices de volatilidade cambial: nem pela volatilidade realizada - que se refere às variações já ocorridas na taxa de câmbio - nem pela volatilidade implícita, que tenta capturar as expectativas para os movimentos no câmbio e que, por isso, pode ser entendida como um indicador do grau de "tensão" no mercado de moedas citado pelo BC na ata.

De acordo com dados da BM&F, o índice FX Vol - que mensura a volatilidade implícita nos contratos de opções de dólar de 21 dias úteis negociadas na bolsa - caiu no dia 23, último dado disponível, para 9,11% ao ano. Na prática, isso indica que o mercado projeta uma oscilação nessa magnitude para o dólar ao fim de um período de 12 meses.

 

 

O índice tem se mantido abaixo de 10% desde 18 de junho e opera agora nos menores níveis desde maio de 2013, antes de o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) sacudir os mercados ao sinalizar a redução dos estímulos monetários nos Estados Unidos.

A volatilidade realizada também está em níveis considerados amenos, pouco abaixo de 10%, na mínima em mais de um ano. Isso se reflete no movimento comportado do dólar, que tem oscilado entre R$ 2,20 e R$ 2,25.

É verdade que essa relativa calmaria no câmbio doméstico decorre em parte das intervenções do Banco Central, que mantém um estoque de quase de US$ 92 bilhões em swaps cambiais tradicionais no mercado. Mas a baixa volatilidade aqui também é explicada pelo marasmo do dólar lá fora.

O índice de volatilidade cambial do Deutsche Bank caiu na segunda-feira passada abaixo de 5% ao ano, batendo recordes de baixa desde 2001. Até então, o menor patamar de volatilidade havia sido registrado em 2007, antes da crise financeira internacional que se alastrou pelos mercados no ano seguinte. Na sexta-feira, esse índice de volatilidade ficou em 5,4%.

"Sem dúvida o câmbio é um ponto de tensão para o BC, mas falar em risco de volatilidade pareceu destoar, até porque a volatilidade está baixa principalmente por causa das atuações dele", diz Arnaldo Curvello, diretor de gestão de recursos da Ativa Corretora.

"É estranho o BC voltar a citar isso [a volatilidade nos mercados de moedas]. O dólar está travado perto de R$ 2,20 e pouco tem se mexido lá fora também. Parece mais uma justificativa para continuar atuando no câmbio", diz o operador de câmbio de uma corretora.

Os níveis historicamente baixos de volatilidade vistos atualmente, leitura contrária à do BC, têm sido destaque nos mercados financeiros, a ponto de chamar alertas de órgãos como o Instituto de Finanças Internacionais (IIF). Estudo recente divulgado pelo IIF destaca que os patamares atuais de volatilidade são os menores desde 1993.

Para a estrategista de câmbio para América Latina do Royal Bank of Scotland (RBS), Flavia Cattan-Naslausky, a baixa volatilidade no mercado está relacionada à manutenção da política monetária acomodatícia pelos bancos centrais dos países desenvolvidos, principalmente de Japão, Europa e Estados Unidos, que tem garantido a liquidez nos mercados e sustentado a boa performance das moedas emergentes.

A estrategista do RBS vê, no entanto, um aumento da volatilidade nos mercados a partir de outubro, quando está prevista a conclusão da retirada dos estímulos monetários pelo Federal Reserve, o que deve esquentar a discussão sobre quando a taxa básica de juros nos EUA será elevada.

Para Flavia, do RBS, o principal fator que pode mudar a perspectiva do mercado e promover uma alta das taxas dos títulos do Tesouro americano (Treasuries) é o comportamento da inflação nos EUA. "Apesar da melhora da atividade econômica não vemos, por enquanto, uma avanço da inflação."

Nesse cenário, a estrategista do RBS lembra que, apesar dos altos retornos com operações de "carry trade" - que buscam ganhar com a diferença das taxas de juros praticadas entre os países - com moedas emergentes são poucos os países que possuem fundamentos positivos. "Por isso, o risco de uma correção com uma mudança de cenário é expressivo", destaca Flavia.

No caso do Brasil, a incerteza com o quadro eleitoral é um fator a mais que contribui para elevar a volatilidade no mercado de câmbio à frente. A estrategista do RBS tem uma visão positiva para o real no curto prazo, dada a alta taxa básica no Brasil, de 11% ao ano, mas vê uma mudança de cenário a partir de agosto, com a aproximação das eleições, prevendo uma taxa de câmbio entre R$ 2,40 e R$ 2,50 para o fim de 2014, dependendo do resultado da eleição.

"Não vejo uma saída de capitais por conta disso, mas pode ser que tenha uma pausa no ingresso de recursos, com investidores buscando países com histórias melhores em relação aos fundamentos."

 



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