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Reajustes de energia colocam em risco teto da meta de inflação

Veículo: Folha de São Paulo

Seção: Economia

Os primeiros dados da inflação oficial de julho (medidos pela prévia do IPCA, o IPCA-15) mostram que os preços estão, de modo geral, comportados e a tendência de queda dos alimentos tende a se intensificar, o que assegura uma taxa ainda menor para o IPCA fechado de julho –a ser divulgado no início de agosto.

O IPCA-15 registrou alta de 0,17% em julho, segundo o IBGE (Instituto Brasileira de Geografia e Estatística) informou nesta terça (22). A taxa acumulada em 12 meses ficou em 6,51%.

Mas a trégua do avanço dos preços é passageira e ainda há risco de estouro da meta do governo neste ano (6,5%), segundo analistas. E um dos itens de maior incerteza é a energia elétrica, que pode ser o fiel da balança.

A energia já foi o principal impacto de alta no índice prévio de junho e deve avançar ainda mais até o fim do ano, com a previsão de novos reajustes.

Com o reajuste de 18% das tarifas da Eletropaulo (as de maior peso no IPCA), a energia elétrica subiu 1,35% no IPCA-15 de julho. A previsão é de que esse aumento seja ainda mais intenso no IPCA fechado, já que parte do aumento não foi ainda incorporado pelo IPCA-15.

Com altas maiores neste ano por conta dos reajustes mais salgados autorizados pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) neste ano para a maioria das distribuidoras em razão do custo extra da energia com o uso mais intensivo das térmicas, a energia subiu 6,39% neste ano –acima do IPCA-15 até julho (4,17%).

Em 12 meses, a energia residencial soma uma alta de 7,95%, acima dos 6,51% do índice geral –que neste mês rompeu o teto da meta e se situou no maior patamar desde junho de 2013.

O indicador acumulado mostra que o benefício da redução das tarifas de energia em 16% no ano passado já ficou para trás diante da necessidade de reajustes maiores para as distribuidoras não quebrarem com o aumento do custo da energia comprado das usinas.

E os aumentos só não são maiores porque o governo federal empurrou a maior parte da conta para 2015 e 2016, depois das eleição presidencial deste ano. O diretor-geral da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), Romeu Rufino, confirmou nesta terça-feira (22) a operação do governo para injetar mais R$ 6,5 bilhões no setor elétrico por meio de financiamento bancário e do estatal BNDES. No início do ano, as distribuidoras de energia tiveram acesso a um empréstimo bancário de R$ 11,2 bilhões.

Segundo analistas, essa conta será paga pelo consumidor a partir do ano que vem e a inflação de 2015 já entrará o ano com esse "peso adicional".

A inflação também só não superará a meta deste ano porque outros preços controlados pelo governo foram contidos neste ano eleitoral –algo que costuma ser praxe em todos os anos de pleitos. Um dos exemplos é a tarifa de ônibus, congeladas em importantes capitais, como São Paulo.

Também não aumentaram o preços das passagens Recife, Distrito Federal, Fortaleza, Salvador e Curitiba. Com isso, os ônibus subiram 3,48% neste ano, abaixo da inflação média.

A expectativa é que esses aumentos represados também ocorram em 2015, segundo analistas. Ônibus e energia são dos itens de maior peso no orçamento das famílias.

Outra ajuda à inflação deste ano foram os descontos para quem consume menos água em São Paulo em razão da seca do principal reservatório que abastece as regiões metropolitanas de São Paulo. A taxa de água e esgoto registra queda 3,84% neste ano até julho, sob o impacto da forte retração de 27,01% das contas em São Paulo.

PREVISÕES

Apesar dessa contenção de reajustes de preços e tarifas administrados, as consultorias esperam um IPCA muito perto do teto da meta neste ano. A Rosenberg & Associados prevê 6,3% -e conta com a freada dos alimentos para tal.

A LCA espera uma taxa baixa também no IPCA fechado em junho (0,07%) diante da expectativa de queda de artigos de vestuário com as liquidações, nova deflação de alimentos e de de passagens aéreas, além do recuo dos preços de serviços pessoais –ambos num refluxo após os aumentos durante a Copa.

Em junho, só os grupos habitação (alta de 0,48%, puxada por energia) e despesas pessoais (1,74%, impulsonada por hotéis) registraram taxas superior às de junho, segundo o IPCA-15.

NOVA RODADA DE REAJUSTES

Segundo o IBGE, vários altas de tarifas terão impacto na inflação de julho. Entre eles, estão, além do aumento da Eletropaulo (o de maior peso), reajustes de energia em Porto Alegre (23% em parte da região metropolitana), pedágio em São Paulo (5,29%), água e esgoto em Fortaleza (7,3%), água e esgoto em Salvador (7,8%) e correios em nível nacional (para cada serviço foi aplicado um percentual de aumento).

Esses reajustes vão ser um contraponto à previsão de queda de alimentos e transportes, que devem se repetir em no IPCA de julho e já asseguraram uma inflação "comportada" pela prévia do IPCA-15.

*

Veja, abaixo, outros reajustes já autorizados pela Aneel neste ano, além do da Eletropaulo, que peso na inflação prévia de junho

SUDESTE

SÃO PAULO

Eletropaulo
6,7 milhões de residências, escritórios e indústrias em 24 municípios da região metropolitana de São Paulo, incluindo a capital
18,06% para residências
19,93% para indústrias

Bragantina
122 mil unidades de consumo, 15 municípios (5 na região de Bragança Paulista, SP, e 10 em Minas Gerais)
14,98% para residências
14,43% para indústria

Vale Paranapanema
167 mil unidades de consumo, em 27 municípios (região de Assis)
18,98% para residências
21,31% para indústria

CNEE (Companhia Nacional de Energia Elétrica) mil unidades de consumo, em 15 municípios (região de Novo Horizonte e Catanduva)
16,93% para residências
16,64% para indústrias

Caiuá-D (Caiuá Distribuição de Energia)
230 mil unidades de consumo, em 24 municípios (região de Presidente Prudente)
14,42% para residências
13,39% para indústrias

MINAS GERAIS

Cemig (Companhia Energética de Minas Gerais)
18,2 milhões de clientes, em 774 municípios
14,24% para residências
12,41% para indústria

Bragantina
122 mil unidades de consumo, 15 municípios (5 na região de Bragança Paulista, SP, e 10 em Minas Gerais)
14,98% para residências
14,43% para indústria

Energisa Minas Gerais
407 mil residências em 66 municípios de Minas e do Rio de Janeiro
5,8% para residências
3,75% para indústrias e consumidores de alta tensão

RIO DE JANEIRO

Energisa Minas Gerais
407 mil residências em 66 municípios de Minas e do Rio de Janeiro
5,8% para residências
3,75% para indústrias e consumidores de alta tensão

Energisa Nova Friburgo
96 mil residências e comércios no município de Nova Friburgo, no Rio de Janeiro
13,66% para residências
7,94% para Indústrias e consumidores de alta tensão

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SUL

RIO GRANDE DO SUL

AES Sul
1,2 milhões de clientes, em 118 municípios
28,99% para residências
30,29% para indústria

PARANÁ

Copel
4,22 milhões de clientes, em 396 municípios (3 deles apenas na área rural)
23,89% para residências
26,28% para indústrias

Cocel
Município de Campo Largo
42,02%, em média

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NORDESTE

PERNAMBUCO

Celpe (Companhia Energética de Pernambuco)
3,2 milhões de clientes, em todos os municípios pernambucanos
17,69% para residências
17,86 para indústrias

SERGIPE

Energisa Sergipe
630 mil clientes, em 63 municípios
12,17% para residências
11,31% para indústrias

CEARÁ

Coelce (Companhia Energética do Ceará)
Mais de 3 milhões de clientes, em 184 municípios
17,02% para residências
16,16% para indústrias

BAHIA

Coelba (Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia)
5,3 milhões de clientes, em 415 municípios
14,82% para residências
16,04% para indústrias

RIO GRANDE DO NORTE

Cosern (Companhia Elétrica do Estado do Rio Grande do Norte)
Mais de 1,2 milhão de clientes, em 167 municípios
11,40% para residências
15,78% para indústrias

_

CENTRO-OESTE

MATO GROSSO DO SUL

Enersul
909 mil unidades de consumo, em pelo menos 10 municípios
9,4% para residências
14,11% para indústrias

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NORTE

TOCANTINS

Celtins
574 mil residências, empresas e indústrias do Tocantins
10,98% nas tarifas dos consumidores residenciais
10,43% para industriais 

 



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