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Analistas projetam que PIB do 2º tri poderá ser negativo

Veículo: Valor Econômico

Seção: Economia

O desempenho um pouco acima do previsto do volume de vendas do varejo em maio levou a expectativas menos negativas para a trajetória da atividade no mês, mas não melhorou o cenário para o segundo trimestre. Segundo economistas, o comércio foi afetado por fatores pontuais no período, enquanto a produção industrial deve ter acentuado sua tendência de deterioração em junho. Por isso, estão mantidas as perspectivas de que o Produto Interno Bruto (PIB) tenha desacelerado na passagem do primeiro para o segundo trimestre, feitos os ajustes sazonais, com relevante possibilidade de queda.

A média de 18 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data aponta que o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) recuou 0,3% em maio sobre o mês anterior, feitos os ajustes sazonais, seguido de alta de 0,12% em abril. As estimativas para o indicador do BC que funciona como um termômetro mensal para o PIB vão de estabilidade até redução de 0,7%. O IBC-Br será divulgado hoje pela autoridade monetária.

 

 

Após o resultado da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) de maio, do IBGE, Natalia Cotarelli, do banco BI&P, mudou sua previsão para a variação do IBC-Br no mês, de queda de 0,5% para retração de 0,3%. Tanto o aumento de 0,5% das vendas do varejo restrito (que não inclui automóveis e material de construção) como o recuo de 0,3% do comércio ampliado no período vieram um pouco acima das expectativas, diz Natalia, mas os dois setores foram impulsionados por questões temporárias, com destaque para a Copa do Mundo e o Dia das Mães. Por isso, a economista avalia que o consumo das famílias não deve se recuperar no segundo trimestre.

Do lado da indústria, cuja produção diminuiu 0,6% entre abril e maio, Natalia espera retração ainda maior em junho, de 1%. Ela menciona que a expedição de papelão ondulado medida pela associação de empresas do setor encolheu 2,1% no mês passado, de acordo com a série dessazonalizada pelo banco, enquanto o consumo de energia elétrica ficou 0,9% menor, também segundo o ajuste sazonal do BI&P. Já o fluxo pedagiado de veículos pesados nas estradas, calculado pela Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR) em parceria com a Tendências Consultoria, recuou 4,3%.

Por último, a economista cita a confiança do empresariado como outro sinal ruim para o setor, que vai na direção de nova retração dos investimentos no período de abril a junho. Calculado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), o Índice de Confiança da Indústria (ICI) atingiu no mês passado seu menor patamar desde maio de 2009, chegando a 87,2 pontos, com redução de 3,9% sobre maio. O quadro de fraqueza do setor industrial é consistente com a estimativa de retração de 0,1% para o PIB no segundo trimestre, diz Natalia.

Para Alessandra Ribeiro, da Tendências, a atividade industrial será a principal influência negativa sobre o PIB no período de abril a junho. A projeção anterior da consultoria de expansão de 0,2% para a economia no segundo trimestre está em processo de revisão, e deve ficar entre estabilidade e recuo de 0,2%. Em maio, Alessandra estima que o IBC-Br encolheu 0,4%, a despeito do comportamento um pouco mais positivo das vendas no varejo.

Segundo a economista, a demanda das famílias deve mostrar pequena melhora nos próximos meses como reflexo da perda de fôlego da inflação de alimentos, de uma ligeira recuperação do crédito e do estancamento da queda da confiança dos consumidores. Já o cenário para a indústria, mesmo passados os efeitos dos feriados da Copa do Mundo, continua desanimador. "A disputa eleitoral acirrada tem se refletido em paralisia de decisões", o que se traduz em menos produção e investimentos em capital fixo, levando a um quadro que aponta para expansão abaixo de 1% do PIB em 2014.

O Itaú divulgou ontem previsão de recuo de 0,7% no indicador PIB mensal na passagem de abril para maio. Em relatório, o banco afirma ainda que, mantido o nível atual em junho, o segundo trimestre terá recuo de 0,4% ante o primeiro. Na semana passada, o banco revisou de 1% para 0,7% a projeção para o PIB de 2014.

O banco Fator também cortou recentemente, de 1% para 0,8%, sua previsão para o crescimento deste ano. Para os economistas José Francisco de Lima Gonçalves e Júlia Araújo, o PIB recuou 0,2% entre o primeiro e o segundo trimestres e, como resultado de uma mudança do ajuste sazonal, o avanço de 0,2% nos primeiros três meses do ano deve se transformar em retração de 0,1%. "Confirmada a estimativa, volta a discussão da chamada recessão técnica", afirmam em relatório. Gonçalves e Júlia observam que uma nova estimativa deve ser feita assim que todos os dados de junho forem conhecidos, mas de qualquer forma, os sinais são de desaceleração significativa da atividade. "As perspectivas para o início do terceiro trimestre também são desanimadoras, como pode ser visto, por exemplo, nas quedas observadas nas sondagens de expectativas realizadas pela FGV no mês de julho e nos dados do mercado de trabalho", acrescentam.

 



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