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Por que o Brasil tem crescido tão pouco?

Veículo: Valor Econômico

Seção: Economia

O crescimento da economia brasileira em 2014 não deve chegar a 1%. Caso se confirme esta projeção, teremos crescido 1,7% ao ano nos quatro anos do Governo Dilma. É muito pouco se compararmos com o desempenho dos países desenvolvidos que mais sofreram com a crise financeira de 2008. Os EUA, por exemplo, cresceram 2,2% em média no período, incluindo a expectativa para 2014, enquanto a Alemanha cresceu 1,6% e o Reino Unido, 1,5%, taxas praticamente idênticas às do Brasil. É preciso mencionar ainda que o Brasil é um país em desenvolvimento, com renda per capita quatro vezes menor do que a dos países citados, de modo que a urgência de acelerar é nossa, se queremos nos aproximar do nível de renda dos países desenvolvidos no futuro.

Para tentar entender por que o crescimento do Brasil está tão baixo, rodamos um modelo econométrico em que o PIB é a variável que se quer explicar e a taxa de juros real, os gastos do governo, as exportações e a evolução do crédito são as variáveis explicativas. A ideia é captar não apenas o efeito da política monetária (taxa de juros) sobre o produto, mas também a política fiscal (gastos do governo) e parafiscal (crédito de bancos públicos, incluindo o BNDES), além da demanda externa (exportações).

Nas variáveis explicativas, consideramos o juro real de um ano, medido pela razão entre a taxa prefixada de um ano e a inflação projetada pela pesquisa Focus do Banco Central. Os gastos do governo referem-se ao crescimento em termos reais dos gastos do governo federal. As exportações são o crescimento do volume exportado pelo Brasil. Finalmente, tratamos a variação do crédito da seguinte maneira: chamamos de "adição líquida" o crescimento do estoque de crédito líquido do pagamento de juros. A variação dessa "adição líquida" é o quanto as pessoas têm a mais para consumir. Essa é a variável considerada no modelo. O curioso é que, ao contrário do que a intuição sugere, essa variável tem subtraído desempenho da atividade ao invés de acrescentar. Isso porque o crescimento do estoque de crédito vem se reduzindo enquanto o pagamento de juros continua elevado de modo que a "adição líquida" à renda das famílias tem sido negativa.

Os dados utilizados são trimestrais, de 2004 para cá. O modelo explica bem o comportamento do PIB entre 2004 e 2010, mas é falho a partir daí. A partir de 2011, o modelo projeta um crescimento bem maior, em torno de 3% ao ano, do que o que de fato ocorreu (1,7% ao ano). Diante desse resultado, concluímos que alguma coisa aconteceu nesse período mais recente que não está sendo captada por nenhuma das variáveis explicativas.

Colocamos então uma variável binária no modelo, com valor "zero" entre 2004 e 2010 e valor "1" a partir de 2011. O resultado do modelo após a inclusão dessa variável fica próximo do que de fato ocorreu, ou seja, um crescimento médio de 1,7% no período recente enquanto a variável binária adquire grande significância estatística. Isso mostra que alguma coisa que não foi captada pelas demais variáveis do modelo aconteceu no período recente.

Como entender o significado dessa variável no período do Governo Dilma? Ela pode estar associada a algum fator externo, porém, julgamos que os efeitos da crise internacional deveriam ser majoritariamente captados pelas exportações, que constam no modelo. A variável binária pode estar, alternativamente, captando efeitos domésticos e aí existem bons candidatos para explicá-la. O governo Dilma alterou para pior a política macroeconômica. O combate à inflação foi flexibilizado e a política fiscal, afrouxada. Esses fatores constam no modelo e deveriam produzir efeitos de expansão da atividade, mas a piora na qualidade da política econômica gerou um efeito negativo sobre as expectativas dos agentes, tanto em relação à inflação quanto à sustentabilidade do endividamento público.

Ademais, houve uma crescente intervenção na economia através de regras discricionárias, que geram incertezas. Com a confiança abalada, os empresários investiram menos. Os consumidores também se retraíram apesar da manutenção do desemprego baixo e do crescimento da renda. Julgamos que o excesso de endividamento e a consequente subtração da renda disponível com o serviço da dívida contribuíram para isso.

É notório que o Brasil tem um crescimento potencial baixo. Isso está ligado ao baixo investimento em capital físico, notadamente em infraestrutura, e à baixa escolaridade do trabalhador brasileiro. Ademais, o ambiente econômico não favorece o crescimento da produtividade por causa de fatores como excesso de burocracia, carga tributária elevada, mercado e trabalho muito regulado, falta de segurança, dificuldades logísticas e por aí vai. No entanto, mesmo diante de todas essas dificuldade, julgamos que o Brasil tem condições de crescer um pouco mais do que vem crescendo ultimamente. Para isso é preciso restabelecer a confiança na estabilidade das condições macroeconômicas, tornar o país mais amigável ao investimento através de regras claras e estáveis e buscar acordos comerciais com países desenvolvidos. Dessa forma, removendo os fatores que abalaram a confiança dos agentes, o crescimento econômico tende a ser maior, mesmo diante de todas as limitações estruturais que temos.

Isso nos dá esperança de revertermos o quadro atual em um curto espaço de tempo. O elemento confiança é fundamental em qualquer economia, pois trata-se de um organismo vivo e, portanto, sujeito à decisão das pessoas. É isso que torna tão fascinante o estudo da economia.

 



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