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Bolsas perdem volume aqui e nos EUA

Veículo: Valor Econômico

Seção: Economia

O volume de negócios na bolsa brasileira vem caindo gradualmente desde o segundo semestre do ano passado e deve piorar ainda mais em julho. Nas últimas semanas, vários pregões registraram volume total inferior a R$ 5 bilhões por dia, algo que não se via com frequência desde 2007. Ao longo de 2013, a média diária de volume da Bovespa esteve sempre acima da casa dos R$ 6 bilhões.

Segundo analistas, as férias de verão no Hemisfério Norte e a Copa do Mundo no Brasil são fatores extras num quadro já existente de redução progressiva de volume, no Brasil e no exterior. Eles se somam a outras causas, domésticas e externas, para explicar o esfriamento do mercado de renda variável nacional nos últimos meses.

Entre as razões externas, o estrategista-chefe de renda variável para América Latina do J.P. Morgan, Pedro Martins Júnior, cita a redução da volatilidade nos mercados acionários globais. Ele acredita que o motivo do marasmo nas bolsas internacionais é a baixa dispersão das expectativas econômicas. Embora isso seja bom do ponto de vista econômico, a estabilidade dos indicadores desestimula as transações em bolsa.

 

 

O índice VIX, que mede a volatilidade dos mercados e funciona como um termômetro do sentimento dos investidores, encerrou junho em 11,5 pontos - em uma escala que vai de 0 a 100 -, indicando que as bolsas estão oscilando muito pouco e que os investidores estão praticamente parados em suas posições.

Essa falta de atitude também se refletiu na redução dos volumes negociados nas bolsas americanas nos últimos dois meses, indicando que o fenômeno de queda de liquidez observado na Bovespa não é um fato isolado.

Segundo dados divulgados pela New York Stock Exchange (Nyse), o volume médio negociado em junho foi 21% inferior ao do mesmo mês do ano passado. No acumulado do segundo trimestre, a queda de volume alcançou 12% ante igual período de 2013.

O diretor-executivo da UBS Wealth Management, Francisco Levy, acredita que a redução do volume de negócios em Wall Street está ligada ao atual cenário de investimentos nos Estados Unidos. Além do início das férias de verão no Hemisfério Norte, ele lembra que muitos dados econômicos divulgados no país nos últimos meses vieram piores que o esperado.

O inverno foi um dos principais vilões para a economia americana no primeiro trimestre e, entre os indicadores que mais pesaram nos mercados, está a contração de 2,9% do Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA nos primeiros três meses de 2014.

"O investidor tem na cabeça que as bolsas americanas já estão em níveis bem altos, mas a perspectiva para os Estados Unidos segue boa. Então ele não quer se desfazer das posições. Para o novo entrante, ele não quer comprar porque as ações já estão nas máximas", diz. Além disso, a proximidade das férias faz com que os agentes "fiquem de molho".

O sócio da NCH Capital James Gulbrandsen também avalia que o volume menor das bolsas americanas reflete a falta de estímulos para os investidores no momento. "Os índices estão batendo recordes atrás de recordes. Os investidores provavelmente não estão acreditando na supervalorização das ações e optaram por ficar um tempo de lado", afirma.

Gulbrandsen acrescenta que a Copa do Mundo também prejudicou o movimento nas bolsas americanas. "Surpreendentemente, os americanos estão cada vez mais interessados em futebol e acompanhando todos os jogos. Está tudo meio parado nos Estados Unidos e isso acaba se refletindo nos negócios."

Ele espera que os volumes aumentem depois da Copa e das férias no Hemisfério Norte, porém eles só devem voltar aos níveis normais quando houver uma correção mais acentuada nos ativos.

Na quinta-feira, o índice Dow Jones fechou acima dos 17 mil pontos pela primeira vez na história, registrando o 14º recorde de pontos neste ano. O S&P 500, por sua vez, já bateu 25 recordes consecutivos somente em 2014.

Já entre os fatores internos que enxugaram os negócios na Bovespa estão a incerteza sobre o rumo do país após as eleições presidenciais, em novembro, e o baixo crescimento da economia.

Os especialistas lembram que as pesquisas sobre a corrida presidencial até geraram alguns picos de negócios nos meses de março e abril, quando a Bovespa chegou a movimentar mais de R$ 10 bilhões em apenas um dia.

 

 

Esses picos podem voltar a aparecer nos dias de divulgação de pesquisas, especialmente se houver mudança significativa nas intenções de votos dos três principais candidatos: Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB).

Porém, a tendência é que o mercado se acomode na maioria dos pregões até a definição do quadro eleitoral, em novembro. Martins, do J.P. Morgan, acredita que os investidores ficarão na retranca porque a dispersão das projeções está muito grande, gerando incertezas. "As possibilidades de composição de cenários após as eleições são muito variadas, o que faz com que o investidor se retraia."

A fraqueza da economia também tira fôlego da Bovespa. "Existem muitas indefinições em relação às perspectivas de crescimento da economia. E a bolsa depende basicamente de crescimento. A evolução da economia é que faz o lucro das empresas aumentar", observa o estrategista de renda variável para América Latina do Credit Suisse, Andrew Campbell.

O Credit Suisse espera um crescimento de apenas 1,2% do PIB brasileiro neste ano e de 1,5% em 2015. "Os indicadores divulgados ao longo do segundo trimestre dão sinais de desaceleração da economia. Os resultados das empresas nesse trimestre poderão decepcionar", afirma Campbell, ao explicar por que muitos investidores preferem ficar fora do mercado.

"A bolsa apenas reflete o fato de o Brasil estar parando. Não há apetite por risco no mercado, nem por novos investimentos por parte das empresas", diz o estrategista da Fator Corretora, Paulo Gala. Ele destaca que, por conta da grande incerteza política e econômica no país, não houve nenhuma oferta inicial de ações (IPO) neste ano e apenas uma subsequente, da operadora Oi, para permitir a entrada da Portugal Telecom.

Campbell ressalta que o ano mais fraco em emissões de ações também se reflete no volume mais baixo da bolsa. "O IPO, por si só, gera um grande volume. Nos dias seguintes à oferta, há uma grande quantidade de transações no mercado secundário com os papéis."

Martins aponta ainda a competição da renda variável com a renda fixa. Desde abril de 2013, a taxa básica de juros (Selic) subiu 3,75 pontos percentuais, para 11% ao ano. Essa situação eleva o custo de oportunidade da Bovespa, deixando as ações menos atraentes.

Outro fator que contribuiu para reduzir os negócios foi a Copa do Mundo. A Bovespa deixou de funcionar em 12 de junho devido ao feriado decretado na cidade de São Paulo por causa da partida de estreia da seleção brasileira. Nos outros jogos do Brasil, como o de sexta-feira, a bolsa fechou mais cedo. E, mesmo em pregões normais, muita gente largou as telas de negócios para acompanhar de perto as disputas na televisão.

O investidor estrangeiro continua aplicando recursos na Bovespa, fato que ajuda a explicar por que o Ibovespa ainda sustenta alta de 4,5% em 2014. Apenas em junho, o fluxo para ações ficou positivo em R$ 1,374 bilhão. Neste ano, os estrangeiros mantêm saldo líquido de R$ 12,2 bilhões na bolsa brasileira, montante que já supera os R$ 11,7 bilhões deixados aqui ao longo de todo o ano passado.

Mas é possível perceber que, a despeito do viés positivo, as compras brutas de ações pelos estrangeiros caíram nos últimos meses. Em abril, somaram R$ 77,2 bilhões. Em maio, caíram para R$ 70 bilhões e, em junho, recuaram para R$ 61,7 bilhões. A queda desde abril foi de 20%.

Na sexta-feira, o Ibovespa fechou em alta de 0,34%, aos 54.055 pontos, com volume de apenas R$ 1,381 bilhão. Foi o menor giro da bolsa desde o pregão seguinte ao Natal (26/12) de 2011 (R$ 1,287 bilhão). A Bovespa fechou mais cedo, às 14h30, devido ao jogo do Brasil.

 



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