Notícias

Para analistas, deflação no atacado se acentuou em junho

Veículo: Valor Econômico

Seção: Economia

A retração das cotações de commodities relevantes para o Brasil, como soja e milho, ao longo do mês de junho acelerou a deflação dos preços agropecuários que já havia sido observada em maio, de acordo com economistas ouvidos pelo Valor. A normalização da oferta de produtos in natura após a estiagem no início do ano também deve ter contribuído para dinâmica de preços mais favorável no atacado, que deve ter reflexos positivos sobre a inflação de alimentos no varejo até meados de agosto, afirmam.

A estimativa média de 17 consultorias e instituições financeiras ouvidas pelo Valor Data aponta que o Índice Geral de Preços - Mercado (IGP -M) passou de deflação de 0,13% em maio para queda de 0,59% neste mês, influenciado principalmente pela perda de fôlego dos componentes agrícolas. As projeções para o indicador, que será divulgado amanhã pela Fundação Getulio Vargas (FGV), vão de retração de 0,5% a deflação de 0,67%. Se confirmada a estimativa média dos economistas, a inflação acumulada em 12 meses pelo índice cederia mais de um ponto percentual, de 7,84% em maio para 6,41% em junho.

 

 

Alessandra Ribeiro, economista da Tendências Consultoria, estima deflação de 0,52% para o IGP-M em junho, em função da evolução recente dos preços no atacado, principalmente. Para o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), que tem peso de 60% no índice, a projeção da consultoria é de deflação de 1,1%, queda mais intensa do que o recuo de 0,65% observado em maio.

Alessandra comenta que boa parte desse movimento virá dos produtos agropecuários, que devem passar de queda de 0,68% no mês passado para redução de 3,10% em junho. "Há uma combinação de fatores que levaram a esse recuo mais forte no mês passado. Além da influência da queda de preços de commodities, há também produtos específicos que estão devolvendo as altas observadas nos meses anteriores, como a batata inglesa", afirma.

A normalização da oferta doméstica de produtos in natura, após a estiagem que prejudicou essas culturas no início do ano, também contribuiu para a deflação de produtos agropecuários neste mês, comenta Leonardo França Costa, economista da Rosenberg & Associados, que projeta deflação de 3,79% para esses preços no mês.

Já os produtos industrializados devem ter deflação um pouco menor do que a observada em maio, afirma Costa. No mês passado, o IPA industrial caiu 0,64% e agora deve recuar 0,37%, de acordo com suas estimativas. A principal explicação para essa variação, diz, é a forte retração de 6,1% do minério de ferro no mês passado, que não deve se repetir. "O minério atingiu o piso e em junho ainda deve ter queda, mas bem menos intensa".

Para Alessandra, da Tendências, é pouco provável que os preços no atacado continuem a mostrar deflação tão intensa nas próximas divulgações do índice, e por isso o IGP-M tende a voltar a campo positivo ainda em julho, embora com variação modesta.

Ainda assim, os reflexos da forte descompressão de preços agropecuários vista entre maio e junho no atacado devem ser observadas no varejo ao menos até meados de agosto, afirma.

Para junho, a economista estima alta de 0,3% do Índice de Preços ao Consumidor (IPC-M), menos da metade do avanço de 0,68% no mês passado. Alessandra afirma que, além da desaceleração dos preços de alimentação, também começam a se dissipar os efeitos dos aumentos da tarifa de energia elétrica que ocorreram no mês interior, o que contribui para variação mais modesta do índice, que representa 30% do IGP-M. Costa, da Rosenberg, estima deflação de 0,05% dos preços de alimentação e bebidas neste resultado, forte desaceleração em relação a alta 0,81% registrada em maio.

Apesar do momento mais favorável para os preços de alimentos ao consumidor e a surpresa positiva com o IGP-M nos últimos dois meses, os economistas não veem espaço, neste momento, para revisão do IPCA no ano. Alessandra, da Tendências, comenta que até agosto a inflação no varejo deve seguir em desaceleração, por causa de alimentos e bebidas.

No entanto, diz Alessandra, o comportamento um pouco mais favorável da inflação de alimentos no terceiro trimestre pode ser ofuscado pelas altas das tarifas de energia elétrica. Por enquanto, a Tendências mantém estimativa de alta de 6,3% do IPCA em 2014.

A Rosenberg estima avanço semelhante do índice e Costa afirma que qualquer "espaço" deixado por uma alta menor dos alimentos tende a ser usado pelo governo para aumentar preços que têm sido represados, como o da gasolina.

 



Compartilhe:

<< Voltar

Nós usamos cookies em nosso site para oferecer a melhor experiência possível. Ao continuar a navegar no site, você concorda com esse uso. Para mais informações sobre como usamos cookies, veja nossa Política de Cookies.

Continuar