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Bovespa e dólar recuam, em dia de PIB dos EUA e dados do BC brasileiro

Veículo: Valor Econômico

Seção: Economia

SÃO PAULO  -  A leitura final do desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos no primeiro trimestre veio pior que a previsão dos analistas e afetou, em maior ou menor grau, todos os mercados brasileiros. Mas notícias do Brasil, tanto na bolsa, quanto no câmbio e nos juros, ajudam nas tendências dos negócios.

O principal efeito ocorreu no câmbio, com o dólar operando em forte queda frente ao real. No mercado de moedas, no entanto, também há forte influência da decisão do Banco Central (BC) de manter as condições do programa de intervenção no câmbio, que foi estendido até 31 de dezembro. 

Nos juros, a queda das taxas dos títulos do Tesouro americano ajuda a dar o tom do recuo. Mas a apatia da economia brasileira continua provocando ajudando na queda das taxas. 

No mercado de ações, o Ibovespa opera de lado sob influência do PIB dos EUA, na expectativa de um cenário com taxas de juros menores por mais tempo. Novamente, a nota de crédito do BC afeta os bancos, que recuam. 

No exterior, as bolsas em Nova York caíram em reação ao desempenho econômico americano, mas reagiram posteriormente e operavam no campo positivo, diante da perspectiva de avanço econômico no segundo trimestre.

Bolsa

O Ibovespa iniciou os negócios com investidores discutindo o desempenho da economia dos Estados Unidos, mas a nota de crédito do BC se mostrou uma notícia mais forte. Junto com Petrobras, contribui para manter o índice em queda. O Ibovespa recuava 0,53% às 13 13h52, para 53.994 pontos.

Os papéis dos principais bancos brasileiros estão entre as maiores baixas do índice. Bradesco PN cedia 2,7%, Itaú PN recuava quase 2% e Banco do Brasil declinava 0,2%.

De acordo com um analista de mercado, o movimento pode ser reflexo dos resultados da nota de crédito, que apesar de trazerem uma melhora no que se refere a spread, ainda levantam preocupações em torno de inadimplência e do crescimento de crédito, que continua fraco. Enquanto o spread médio das operações de crédito subiu 0,4 ponto para 12,9 pontos percentuais, a inadimplência das operações de crédito cresceu 0,1 ponto para 3,1% e as concessões de crédito subiram 2% em maio.

Petrobras também adota viés negativo, depois de ter oscilado pela manhã. A PN, por exemplo, chegou a subir. Ontem, as ações mergulharam, com queda superior a 3%, afetadas pela notícia de que o Conselho Nacional de Política E nergética (CNPE) aprovou a contratação direta da empresa para explorar o volume excedente de petróleo de campos do pré-sal que tinha sido objeto de cessão onerosa em 2010.

Para Raphael Figueredo, da Clear Corretora, uma parte do mercado acredita que o papel caiu demais. O fato é que o mercado não mostra unanimidade, mas tende para uma avaliação negativa do fato. O Morgan Stanley cortou a recomendação para a empresa para neutra. Já o Goldman Sachs diz que a compra do petróleo excedente na cessão onerosa pela Petrobras não é negativa para a companhia. Apesar de preferir uma avaliação independente do potencial das reservas e de considerar que o pagamento de R$ 2 bilhões vai pressionar o balanço da empresa neste ano, a equipe de análise afirma que os termos econômicos do acordo não são ruins. 

No caso do resultado do Produto Interno Bruto (PIB) abaixo do esperado nos Estados Unidos, a visão que predominou até a queda mais forte dos bancos era praticamente neutra para o Ibovespa, que operava de lado. O PIB dos EUA recuou 2,9% no primeiro trimestre em termos anualizados, ante previsão de queda de 2%. 

Juros

Os juros futuros se afastaram das mínimas do dia no início da tarde, mas sem abandonar a trajetória de queda. O recuo dos juros dos títulos do Tesouro americano e do dólar e os dados de confiança da indústria no Brasil definem esse movimento. Mas, segundo operadores, as taxas já estão em níveis considerados baixos, o que acaba limitando uma queda mais expressiva.

A confiança da indústria caiu 3,4% na prévia de junho, segundo a “Sondagem da Indústria de Transformação”, elaborada pela FGV. Se confirmado esse recuo, o indicador terá ao menor nível desde maio de 2009.

Também continua pesando sobre os negócios o resultado do Caged, mostrando geração líquida de 58.836 vagas em maio, e que veio bem abaixo do esperado (90,2 mil novos postos de trabalho), reforçando o clima de preocupação.

No exterior, os juros dos títulos do Tesouro americano intensificam a queda, sob efeito do resultado mais fraco do que o esperado do PIB americano.

Operadores observam, entretanto, que o espaço para quedas adicionais começa a ficar limitado. O prêmio de risco que os contratos de longo prazo carregam já está bastante magro. E isso significa que, para continuar derrubando essas taxas, o mercado precisaria afastar por completo o risco de um aperto monetário no ao que vem - o que não parece ainda viável.

Embora o quadro geral de atividade já tenha acendido uma luz amarela, a inflação inspira cautela. A lém disso, a dúvida sobre quem gerenciará a política monetária no ano que vem não autoriza uma aposta mais firme em um corte de juros ou mesmo na estabilidade da taxa no ano que vem. “Mas o prêmio já diminuiu muito, o que confirma que tem gente confiante nesse cenário”, diz um operador.

O DI janeiro/2017 tinha taxa de 11,40%, ante 11,45% ontem. O DI janeiro/2016 era negociado a 11,12%, de 11,15%.

Câmbio

O dólar opera em forte queda frente ao real, com o mercado repercutindo a decisão do BC de manter as condições do programa de intervenção no câmbio, que foi estendido até 31 de dezembro. A queda maior que a esperada do PIB dos Estados Unidos no primeiro trimestre também contribuía para a desvalorização da moeda americana frente às principais rivais.

Perto das 14 horas, o dólar comercial cedia 0,81%, para R$ 2,2070, enquanto o contrato futuro para julho recuava 0,85%, para R$ 2,2095.

O BC informou ontem à noite os detalhes da continuidade do programa de leilão de câmbio, que tinha previsão para acabar em 30 de junho e foi estendido até 31 de dezembro de 2014.

De acordo com comunicado, assinado pelo diretor de Política Monetária, Aldo Mendes, a autoridade monetária decidiu manter a venda de US$ 200 milhões por meio da oferta de 4 mil contratos de swap cambial ofertados nos leilões diários, com as operações de venda de dólares com compromisso de recompra, também conhecidas como “leilão de linha”, sendo realizadas em função das condições de liquidez do mercado de câmbio. Com isso, o BC manteve as condições do modelo do programa em vigor.

A autoridade monetária ainda reforçou que “sempre que julgar necessário, poderá realizar operações adicionais de venda de dólares através dos instrumentos ao seu alcance”.

O BC já havia anunciado em 6 de junho que estenderia o programa, mas ainda não tinha comunicado os detalhes da oferta na nova etapa.

Lançado em 22 de agosto de 2013, o programa de intervenção tem como objetivo de oferecer hedge e liquidez para os agentes do mercado.

Para Daniel Cunha, estrategista da XP Investimentos, apesar do principal fator para a definição da tendência do câmbio ainda vir do cenário externo e da expectativa com relação à normalização da política monetária nos Estados Unidos, a atuação do BC tem impacto indireto na taxa de câmbio. “O BC mostrou um comprometimento com o programa e não reduziu o volume de oferta diária como muita gente esperava”, afirma.

O estrategista da XP destaca que a decisão levanta a interpretação do mercado é de que o câmbio deve servir como uma variável para conter as expectativas de inflação pelo menos até as eleições de outubro.

Segundo o ex-presidente do BC e sócio da Tendências Consultoria, Gustavo Loyola, as atuação da autoridade monetária a fim de impedir que o câmbio se deprecie mais fortemente tem haver com o controle da inflação, dado que ele não quer mais usar o instrumento de política monetária e aumentar a taxa básica de juros. “O BC tem usado o câmbio para tentar conter as pressões inflacionárias”, afirma.

Apesar da atuação do BC ajudar a manter o dólar em um patamar mais baixo, há um entendimento no mercado de que o BC estaria confortável com manutenção do câmbio dentro da banda entre R$ 2,20 e R$ 2,30, que não prejudicaria a indústria e nem contribuiria para aumentar a pressão inflacionária. “Há uma percepção psicológica do mercado de que o BC se sente mais confortável com o câmbio dentro dessa faixa. Não quer dizer que ele persegue esse patamar, mas isso é bem visto pelo BC”, afirma Cunha, da XP.

Apesar de estender o programa, o BC conta com um importante instrumento para ajustar a atuação do câmbio que são os leilões de rolagem dos contratos de swap a vencer. Hoje o BC conta com um estoque de US$ 89,073 bilhões nesses instrumentos cambiais. Ao optar por rolagens parciais ou integrais a autoridade monetária também inf luencia na liquidez no mercado cambial.

Em maio, o BC liquidou cerca de US$ 4,65 bilhões em swaps, quase o dobro dos contratos que deixou de renovar em abril, que somaram US$ 2,233 bilhões. Além disso, deixou vencer um volume de cerca de US$ 3,5 bilhões em linha de venda dólares com compromisso de recompra.

Hoje, o BC renovou mais 10 mil contratos de swap do lote de US$ 10,60 bilhões que vence em 1º de julho, cuja operação somou 494,5 milhões. Com a rolagem de hoje resta US$ 1,810 bilhão a ser renovado.

A autoridade monetária ainda vendeu mais cedo todos os 4 mil contratos de swap cambial ofertados no leilão do programa de intervenção, cuja operação somou US$ 198,2 milhões.

No exterior, a moeda americana operava em queda frente às moedas emergentes após a divulgação da queda maior que a esperada do desempenho do PIB dos Estados Unidos no primeiro trimestre, que caiu 2,9% em termos anualizados, na terceira leitura do indicador. Essa foi a queda mais acelerada desde o primeiro trimestre de 2009. De acordo com a pesquisa do “The Wall Street Journal”, os analistas esperavam um recuo de 2% no período.

Mercados Internacionais

A leitura final do desempenho econômico dos Estados Unidos no primeiro trimestre veio pior que a previsão dos analistas, derrubando inicialmente as bolsas em Nova York. Os mercados, porém, reagiram posteriormente e operam no positivo, diante da perspectiva de avanço econômico no segundo trimestre. Na Europa, os mercados fecharam em queda, com o PIB fraco dos EUA pesando mais.

O Departamento do Comércio informou que o PIB dos EUA caiu 2,9% no primeiro trimestre, em números anualizados. O resultado veio abaixo do número anterior, de recuo de 1,0% na segunda leitura, e também foi pior que a expectativa dos economistas, de queda de 2,0%. Apesar do resultado ruim, analistas destacam que a leitura foi um “ponto fora da curva”, com a atividade econômica bastante prejudicada pelo inverno rigoroso, e esperam uma reação.

O economista Eric Green, do Banco TD, por exemplo, disse que os sinais são favoráveis e o crescimento poderia se aproximar de 4% no segundo trimestre. Os três primeiros meses do ano foram “um trimestre para esquecer”, nas palavras do economista-chefe do banco americano Regions Financial, Richard Moody.

Também hoje, o Departamento do Comércio informou que os pedidos de bens duráveis tiveram queda de 1,0% em maio ante o mês anterior, em números sazonalmente ajustados, quando a previsão dos analistas era de estabilidade. Já o Departamento de Energia informou que os estoques de petróleo dos EUA aumentaram em 1,7 milhão de barris na última semana, quando a previsão era de queda de 1,2 milhão de barris.

Perto das 14 horas, em Nova York, o Dow Jones subia 0,14%, o Nasdaq avançava 0,31% e o S&P 500 tinha elevação de 0,26%.

Na Europa, a Bolsa de Londres fechou em queda de 0,76%, enquanto Frankfurt e Paris recuaram 0,67% e 1,26%, respectivamente. Mais cedo, o Instituto GfK informou que a confiança do consumidor na Alemanha subiu de 8,6 pontos em junho para 8,9 em julho.

 



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