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Dólar cai após BC estender intervenção

Veículo: Valor Econômico

 

Seção: Economia

Daniel Wainstein/Valor / Daniel Wainstein/ValorCâmbio será ponto delicado para a inflação neste ano, diz Paulo Gala, da Fator

 

O mercado de câmbio reagiu ontem ao anúncio da extensão do programa de intervenção no câmbio pelo Banco Central, que tinha previsão para acabar em 30 de junho. A notícia, divulgada na sexta-feira à noite, levou o dólar a fechar em queda de 0,84% a R$ 2,2310, descolando do movimento de alta da moeda americana no exterior.

Em comunicado, o BC informou que prorrogará o programa de oferta de swaps cambiais, mas não anunciou as condições de atuação na nova etapa. A decisão acaba com uma incerteza que rondava o mercado e levou à alta do dólar na semana passada, que chegou a fechar em R$ 2,2840 em 4 de junho.

Analistas veem na atitude do BC uma preocupação com a inflação, que continua pressionada, perto do teto da meta de 6,5%.

Apesar da expectativa de maior liquidez no cenário internacional, após o anúncio de medidas de estímulo pelo Banco Central Europeu (BCE), boa parte do mercado defende que o BC mantenha a venda diária de swaps, dado o cenário de maior volatilidade à frente, diante do quadro de incertezas com as eleições no Brasil em outubro e da normalização da política monetária nos EUA.

Lançado em 22 de agosto de 2013, o programa de intervenção no câmbio começou com a oferta equivalente a US$ 500 milhões em contratos de swap de segunda a quinta-feira, além do leilão de linha com compromisso de recompra de US$ 1 bilhão às sextas-feiras. Em 18 de dezembro, o BC estendeu o programa reduzindo a oferta de swaps para US$ 200 milhões por dia, enquanto os leilões de linha passaram a ser realizados de acordo com a demanda. A venda de swaps é uma forma de o BC oferecer hedge sem precisar vender dólares das reservas internacionais.

 

 

Para o estrategista da Fator Corretora, Paulo Gala, o BC deve manter a venda diária de swaps dado que o câmbio será um ponto-chave para a inflação neste ano, que acumula alta de 6,37% em 12 meses encerrados em maio. Ele lembra que o cenário interno não é favorável, diante da expectativa de crescimento baixo e da desconfiança dos investidores com a capacidade do governo em entregar a meta de superávit primário de 1,9% neste ano.

O diretor de câmbio da corretora NGO, Sidnei Nehme, também vê a decisão do BC de estender o programa como um sinal claro de que a autoridade monetária está preocupada com o impacto de uma alta do dólar na inflação, diante da interrupção do ciclo de aperto monetário, ao mesmo tempo em que vê um fluxo cambial cadente.

Essa visão foi reforçada por um conjunto de ações promovidas pelo governo na semana passada. O BC dobrou o volume de contratos de swap cambial, que venceriam em 1º de julho, ofertados no leilão de rolagem de US$ 250 milhões para US$ 500 milhões. O governo ainda reduziu o prazo para as captações externas com isenção do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 360 para 180 dias.

Na avaliação do economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC) e ex-diretor do Banco Central, Carlos Thadeu de Freitas, essa estratégia de manter o real apreciado no curto prazo é perigosa, pois como o déficit em conta corrente é elevado e há uma possibilidade de escassez de liquidez, com os juros subindo nos EUA, a taxa de câmbio não pode ficar muito valorizada.

 

 

Outros agentes do mercado destacam que se o BC interromper a venda diária de swaps passando e agir somente quando necessário, o mercado poderia passar a testar o limite de volatilidade tolerado pelo BC. "A questão da definição do volume de venda diária de swaps é importante para passar segurança para o mercado", afirma o tesoureiro de um banco estrangeiro.

O BC conta com uma importante munição para controlar as intervenções no câmbio que é rolagem dos swaps. O estoque nesses instrumentos cambiais soma US$ 87,073 bilhões. Em maio, o BC deixou vencer US$ 4,65 bilhões, realizando, na prática, uma compra líquida de dólares, resultado do total colocado via leilões do programa de intervenção e o montante liquidado.

Ontem, apesar da queda do dólar, os juros futuros apresentaram ligeira alta na BM&F, acompanhando o retorno dos títulos do Tesouro americano (Treasuries).

 



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