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Baixo ritmo de crescimento e câmbio estável devem segurar alta de preços

Veículo: Valor Econômico

Seção: Economia

 

Silvia Costanti/Valor / Silvia Costanti/Valor

Fábio Romão, da LCA Consultores: "O câmbio vai ajudar o varejo mais à frente"

 

O desconto nas tarifas de água em São Paulo e o arrefecimento do choque de alimentos não são os únicos fatores que podem ajudar a inflação a encerrar o ano abaixo do teto da meta. Segundo economistas, a fraqueza da atividade e a estabilização do câmbio em patamar mais próximo de R$ 2,20 podem mitigar reajustes de preços, cenário que, conjugado aos ganhos de renda mais modestos, reforçam projeções abaixo de 6,5% para a alta do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2014.

Fabio Romão, da LCA Consultores, cortou ligeiramente a estimativa para a alta do IPCA no ano, de 6,4% para 6,3%. A mudança incorporou o impacto da redução de 30% nas contas da Sabesp para incentivar a economia de água, mas é reforçada pelo ambiente de baixo crescimento, pela cotação menor do dólar, pelas deflações de alimentos no atacado e pela correção mais tímida dos salários. O economista aponta o câmbio como o de maior relevância para o seu cenário inflacionário, que não contempla estouro da meta ao fim do ano.

"O câmbio está ajudando os preços industriais no atacado e vai ajudar o varejo mais à frente", afirma Romão, referindo-se ao recuo de 0,64% dos produtos industriais no IGP-M de maio. Já os efeitos do ritmo mais lento da atividade no varejo podem ser observados nos artigos de vestuário e devem, finalmente, chegar à inflação de serviços no segundo semestre.

A LCA trabalha com alta de 8,1% para o grupo que reúne itens como cabeleireiro, costureira e aluguel neste ano, pouco menor do que o índice de 8,73% registrado em 2013. Estão nessa conta, segundo Romão, os efeitos defasados da desaceleração da renda real dos ocupados nas seis principais regiões metropolitanas do país - que deve crescer mais perto de 2% pelo segundo ano seguido em 2014, após longo período de sete anos de avanço na ordem de 3,5% - e também, impactos do menor dinamismo da economia.

O coordenador do Índice de Preços ao Consumidor-Semanal (IPC-S) da Fundação Getulio Vargas (FGV), Paulo Picchetti, ressalta que a dinâmica inflacionária deste ano está longe de ser confortável, mas afirma que, caso fosse mudar sua previsão de avanço de 6,4% para o IPC-S neste ano, seria para baixo. Picchetti argumenta que a perda de força da atividade é visível em todos os indicadores, inclusive no mercado de trabalho.

No caso dos produtos industrializados, que já estão rodando abaixo da inflação geral, Picchetti também prevê estabilidade em nível baixo, já que o aumento dos juros encarece o crédito e dificulta a aquisição de bens duráveis. O câmbio, no entanto, tem potencial para comprometer a trajetória mais benigna destes preços, diz.

A moeda americana já deu sinais de que pode sair da trajetória mais comportada vista até agora. Nesta semana, alcançou o valor mais alto desde 3 de abril, ao redor de R$ 2,28. Ontem, o governo anunciou a retirada do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para mais operações de captação e financiamento externo, decisão vista como indício de preocupação com a depreciação cambial.

A despeito da recente desvalorização, que foi pequena, Elson Teles, do Itaú Unibanco, afirma que o câmbio permanece em patamares mais baixos do que o previsto e, caso continue nesse nível, pode reduzir um pouco a inflação no último trimestre. O banco mantém a estimativa de que o dólar encerrará 2014 cotado a R$ 2,45. A projeção para o PIB foi cortada de 1,4% para 1%, mas Teles comenta que há dúvidas a respeito do impacto do arrefecimento da atividade sobre o IPCA. "O desemprego ainda está muito baixo, o que acaba impactando a inflação de serviços, que ainda é preocupante", diz o economista do Itaú. Mesmo assim, Teles aponta que o balanço de riscos para a inflação diminuiu um pouco nos últimos 30 dias.

Para Flávio Serrano, do BES Investimento, a retração da demanda doméstica observada no primeiro trimestre poderia gerar benefícios para a inflação, mas isso não vai acontecer, porque o governo deve reagir com mais medidas de estímulo e o desemprego em nível baixo seguirá pressionando os preços de serviços. Para afetar as expectativas dos formadores de preços e agentes econômicos, diz, é preciso que a atividade entre em recessão, ou mostre desaceleração mais expressiva que a atual.

 



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