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Após alta pela manhã, juros futuros perdem força e terminam em queda

Veículo: Valor Econômico

Seção: Economia

Depois de uma alta firme pela manhã, na esteira do avanço do retorno dos títulos do Tesouro norte-americano (Treasuries), os juros futuros perderam força ao longo da tarde e encerraram o pregão desta quarta-feira em queda. Pesou sobre a curva a termo a tendência de enfraquecimento da atividade doméstica e, por tabela, de inflação menos pressionada nos próximos meses, o que lança dúvidas sobre um novo ciclo de aperto monetário em 2015.

Segundo o economista Rogério Braga, sócio e gestor da Quantitas, o vaivém das taxas hoje foi basicamente um movimento técnico. Após a queda expressiva dos prêmios recentemente, uma ala de investidores se apoiou na alta do rendimento real (yield) da T-note de 10 anos, que estourou o teto de 2,60%, para comprar. O indicador que dava sustentação ao movimento era o índice atividade do setor de serviços do Instituto para Gestão da Oferta (ISM, na sigla em inglês) nos Estados Unidos, que avançou de 55,2 pontos em abril para 56,3 pontos em maio, acima das expectativas.

O ensaio de  abertura da curva pela manhã veio a despeito de mais um sinal de que a atividade doméstica fraqueja. A produção industrial brasileira caiu 0,3% em abril em relação a março, um pouco acima da média de queda de 0,2 % apurada pelo Valor Data com 21 instituições financeiras e consultorias. Foi o segundo tombo seguido na margem, já que em março a produção havia recuado 0,5% ante fevereiro. O PIB subiu apenas 0,2%  na margem no primeiro trimestre. Pode ter retraído no segundo trimestre. 

“O mercado de juros está muito ‘vendido’ e alguns players se aventuraram a comprar com Treasuries e dólar para cima, mas não conseguiram sustentar o movimento e as taxas acabaram fechando”, afirma Braga, que não vê nada no cenário interno que dê suporte a um movimento de abertura da curva a termo. “A inflação na ponta está perdendo força e os índices de confiança são muito ruins. O mercado de trabalho pode começar efetivamente a desaquecer. Alguns economistas já começam a falar em queda da Selic no ano que vem”. 

Aqui e ali, ouviram-se rumores de que a ata do Copom pode ter um tom um pouco mais leve do que o previsto, o que pode ter ajudado a derrubar os juros no fim do pregão. Em todo caso,  a temporada especulações sobre a intenção do BC ao incluir a expressão “neste momento” no comunicado da decisão do colegiado de manter a taxa Selic congelada em 11% pode ganhar um capítulo decisivo amanhã. 

O descolamento do mercado local do movimento dos Treasuries foi evidente ao longo da tarde. Enquanto o rendimento real da T-note se mantinha acima de 2,60%, as taxas locais murchavam. Nem a manutenção do dólar em alta serviu de suporte para as taxas. Tanto o Banco Central quanto o governo, contudo, parecem querer podar qualquer fôlego altista da moeda americana no curto prazo. 

O governo reduziu para 180 dias o prazo médio mínimo dos empréstimos externos ao país sujeitos à alíquota de 6% de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Desde 5 de dezembro de 2012, estavam sujeitas a esse patamar de tributação as operações com prazo médio mínimo de até 360 dias. 

O IOF veio para conter o tal “tsumani” cambial gerado pela política  expansionista do Federal Reserve. O mundo mudou, o Fed iniciou o ‘tapering’ e a normalização da política monetária americana, apesar da recuperação errática da economia dos Estados Unidos, está a caminho. Por aqui,  a ordem é derrubar as barreiras e abrir as portas para a entrada de dólares. 

Mantega negou que o objetivo seja impedir uma depreciação do real e, por tabela, minar o fôlego das pressões inflacionárias. “A inflação está caindo, principalmente de alimentos. Em todos os indicadores econômicos há uma queda da inflação. Isso é muito importante para a economia brasileira”, afirmou o ministro.

Para Braga, da Quantitas, não se vê no curto prazo fator doméstico que possa dar fôlego aos juros futuros. Apenas um aumento das taxas de retorno dos Treasuries e do dólar, na esteira de dados fortes da economia americana, como o  número de novos empregos (payroll) de maio (na sexta-feira), seria capaz de fazer o mercado abandonar o posicionamento “vendido” e realinhar as taxas. 

Com máxima de 11,91%, DI janeiro/2017 fechou a 11,78% (ante 11,80% ontem, após ajustes). DI janeiro 2016 a 11,43% (ante 11,47%). DI janeiro/2015 negociado a 10,85%, estável. 

 



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