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O desafio de vender produtos manufaturados no exterior

Veículo: Valor Econômico

 

Seção: Economia 

 
Divulgação / DivulgaçãoMárcia Nejaim: "Inovação, design e sustentabilidade valorizam nossa imagem lá fora"

 

O custo Brasil é um dos principais empecilhos para o produto brasileiro competir no mercado internacional. Com qualidade de alguns produtos industrializados reconhecida no exterior, como calçados, têxteis, alimentos e máquinas, ainda assim, fabricantes brasileiros enfrentam uma dura batalha para negociar suas mercadorias nos mercados tradicionais do exterior. "Não podemos competir com o calçado fabricado no Vietnã", afirma gerente de Sustentabilidade da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), Márcia Nejaim.

Para a executiva, agregar valor para tornar os produtos mais atraentes aos olhos de consumidores exigentes é uma forma de ganhar competitividade. Outras estratégias eficientes para vencer a concorrência impõem inovação, design e ações de sustentabilidade. "São recursos para poder brigar no mercado internacional com mercadorias diferenciadas." O esforço para valorizar artigos manufaturados mereceu reconhecimento em recente premiação de 25 peças brasileiras, de um total de 108 candidatas, com o IF Design Awards, um dos mais importantes prêmios internacionais de design e selos de qualidade do mundo.

A aposta em manufaturados de maior valor agregado é também reconhecida como a melhor estratégia pelo professor de Planejamento Estratégico de Marketing Internacional do curso de Relações Internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), Reynaldo Cunha. Na sua opinião, "o País precisa resolver problemas que afetam diretamente a sua percepção de imagem, como os de infraestrutura, logística ou economia". E deve, acima de tudo, "mudar sua postura no mercado internacional", diz.

"O maior problema na visão dos clientes estrangeiros é o fato de os empresários brasileiros trabalharem ao sabor de situações favoráveis, oportunidades de mercado, quando, de seu lado, o que os importadores esperam é consistência, perenidade e relações de longo prazo", estima Cunha. Exemplo de caso malsucedido é o da cachaça Sagatiba. O produto absorveu investimentos vultosos do empresário Marcos de Moraes, filho do ex-rei da soja Olacyr de Moraes, para fazer seu début no mercado inglês como um sofisticado ícone internacional, mas a empresa fabricante acabou sendo vendida para a italiana Davide Campari-Milano.

O professor da ESPM considera conveniente que exportadores brasileiros façam parcerias com empresas estrangeiras para que entendam a dinâmica do mercado e possam assim construir uma denominação de origem. Para ele, isso torna-se "imperioso" quando há barreiras comerciais envolvidas. Caso contrário, "até mesmo marcas nacionais consagradas, como é a cachaça, se perdem institucionalmente".

Com estratégias de marketing, aos poucos, o produto manufaturado brasileiro ganha espaço no exterior, especialmente marcas tradicionais, consagradas nos mercados de países de desenvolvidos. A gerente da Apex explica que o esforço de divulgação beneficia 70 segmentos da economia. Países como Angola e África do Sul estão propensos a comprar máquinas agrícolas, softwares e artigos têxteis nacionais, diz.

Mas se muitos produtos manufaturados produzidos no Brasil já conseguem se impor no exterior graças à boa qualidade, questões ligadas ao meio ambiente dificultam a sua aceitação pelo consumidor estrangeiro. A nova legislação ambiental, mais rigorosa no que se refere ao desmatamento dos biomas, ainda é vista com desconfiança em relação a sua eficácia. "Podemos trabalhar institucionalmente nossa imagem de país sustentável associando-a à existência de um parque industrial competitivo, capaz de oferecer tecnologia de ponta, como os aviões da Embraer ou os equipamentos médicos e de laboratório da Fanem ", explica Fábio Galvão, gerente de Marketing da Apex.

"Brasilidade vende. O artigo brasileiro provoca uma reação alegre em qualquer comprador; nunca é pejorativo", segundo acredita a a estilista Serpui Marie, que já integrou dezenas de missões de negócios e cuja produção é em grande parte comercializada em algumas das mais luxuosas butiques do mundo. A estilista cita os EUA e a Europa como tradicionais parceiros, mas inclui Coreia, Japão e Emirados Árabes, que, segundo ela, admiram os materiais inusitados que usados nas coleções de bolsas, joias e calçados - madrepérola, conchas, cobras-do-mar e palha brasileira, entre outros. Ela adverte, no entanto, que "é preciso fazer um malabarismo danado porque os preços não são competitivos".

Fábio Faria, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), entidade que atua em prol da expansão do comércio exterior, considera "o custo Brasil um grande problema". Ele cita como ônus, a carga tributária, o câmbio, a mão de obra, os insumos, a falta de logística, a energia elétrica. "Tudo isso se tornou muito caro", explica. Por conta desses fatores, o preço do produto acabado aumenta quase 20% em setores como de máquinas e componentes para a telefonia celular, que já têm boa aceitação.

 



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