Notícias

Copa do Mundo não puxa encomendas da indústria em abril

Veículo: Valor Econõmico

 

Seção: Economia

 
Luis Ushirobira/Valor / Luis Ushirobira/ValorDutra, da Metalplan, teve resultado diferente da média: abril foi mais forte e garantirá produção maior em maio

A Copa do Mundo pode alterar o calendário de produção de alguns setores, mas varejo e indústria não avaliam que o evento terá impacto substancial sobre a atividade no segundo trimestre. Para grande parte das associações industriais e empresas ouvidas pelo Valor, abril foi morno, ainda que em alguns casos um pouco melhor do que março, e maio não deve mostrar reação mais expressiva, de acordo com o ritmo de encomendas observado até agora.

No setor de calçados, a percepção é que a atividade teve desempenho fraco em abril e a perspectiva é de manutenção desse patamar em maio. As empresas do setor de vestuário podem se beneficiar caso o clima esfrie mais e a demanda do varejo aumente. Em Manaus, na produção de eletrônicos, houve maior dinamismo até março, mas abril mostrou desaquecimento, que deve ser mantido em maio. Já no ramo de material de construção o primeiro trimestre foi fraco. Pesquisa do setor mostra que a maioria das empresas espera vendas "regulares" em abril. No varejo, as pesquisas mostram redução da intenção de consumo das famílias.

Depois de um fevereiro "razoável", março foi fraco e abril parece ter sido ainda pior, afirma Heitor Klein, presidente-executivo da Abicalçados, que reúne fabricantes do setor. Ele afirma que a Copa está elevando as importações de calçados esportivos, nos quais as empresas nacionais perderam participação. Klein também credita à desaceleração da demanda a expectativa de que abril foi ruim para o setor, sem perspectiva de reação em maio. Ele avalia que a inflação e o endividamento elevado das famílias inibem aumento do consumo desses bens.

Abril também parece não ter sido promissor para as indústrias têxteis e de confecção. Segundo Fernando Pimentel, diretor-superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), o varejo do setor perdeu velocidade no início do segundo trimestre e o mercado ficou parado no quarto mês do ano. Para Pimentel, maio pode ser mais forte se houver queda de temperatura e isso aumentar as vendas, que ainda podem ser ajudadas pelo Dia das Mães.

A Döhler, fabricante de cama, mesa e banho de Joinville (SC), relata que o mercado ficou um pouco mais retraído em abril, após um início de ano aquecido. Segundo o diretor Carlos Alexandre Döhler, a empresa vai operar normalmente em junho e julho, com paradas na produção somente durante os jogos do Brasil, mas manifestações relacionadas à Copa podem tornar o varejo mais conservador. "Essa questão da Copa vai tirar um pouco de consumo", diz.

Enquete da ACSP aponta que 83% dos brasileiros não pretendem mudar hábitos de compras durante o evento. Dos 13% que planejam aumentar o consumo no período, a grande maioria vai gastar mais com itens de baixo valor, como roupas e adereços (51%) e alimentos e bebidas (28%). Apenas 10% pretendem adquirir TVs e outros eletrônicos. "O levantamento não inclui a movimentação de turistas, mas a experiência com a Copa das Confederações já mostrou que o efeito sobre o comércio é tímido", diz Emilio Alfieri, economista da associação, para quem os consumidores estão reticentes.

A confiança caiu oito pontos em março, segundo medição nacional da ACSP, principalmente por causa do aumento da inflação de alimentos e por incertezas causadas pelo risco de racionamento de energia e água, avalia Alfieri.

Sondagem mensal da Confederação Nacional do Comércio, Bens e Turismo mostra que o índice de Intenção de Consumo das Famílias caiu 0,3% em abril. "A inflação ainda é alta e a inadimplência não deve mais desacelerar, o que deixa os consumidores mais inibidos", afirma o economista Bruno Fernandes. Ele projeta alta de 5,3% do varejo em 2014, mas não acredita que o ritmo mais forte do primeiro trimestre se mantenha entre abril e junho. A Copa, afirma, deve ser pouco relevante como impulso. "O nível de endividamento alto e o crédito mais caro é que vão ditar o ritmo de consumo".

No Polo Industrial de Manaus, a Copa elevou a produção até meados de março, com destaque para televisores, mas abril já foi de desaquecimento, tendência que deve ser mantida em maio, diz Wilson Périco, presidente do Centro das Indústrias do Estado do Amazonas (Cieam). "Tudo que tinha como objetivo atender a demanda do evento já foi fabricado", afirma.

Grandes varejistas de moda se mostraram preocupadas com o "efeito Copa" em suas apresentações de resultados do primeiro trimestre. Para a Renner, o evento esportivo gera ambiente de incertezas para as vendas no segundo trimestre, afirmou o diretor financeiro Laurence Beltrão. A Guararapes, controladora da Riachuelo, vendeu 6,7% a mais no primeiro trimestre ante igual período de 2013, considerando apenas as lojas abertas há mais de um ano. Em relatório de desempenho, no entanto, a companhia ressaltou que o ritmo não deve ser mantido no segundo trimestre devido aos prováveis feriados durante os jogos.

Levantamento da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) também mostrou que 58% das empresas do setor preveem perdas na produção por causa da Copa, e só 33% vão tentar recompor as horas de trabalho perdidas. Para o presidente da associação, Humberto Barbato, como a produção em março foi fraca, o nível de estoques acima do desejado no setor subiu 8 pontos percentuais em componentes e 17 pontos em bens finais. Por isso, ele avalia que o setor não antecipará produção em maio, e aproveitará os feriados para um ajuste.

Na contramão das outras empresas e associações, a Metalplan teve resultados mais fortes em abril e registrou aumento nas encomendas no mês passado, o que deve garantir produção maior em maio. Segundo o diretor da fabricante de compressores de ar, Edgard Dutra, a Feira Mecânica 2014, no próximo mês, também traz boas perspectivas.

No caso de material de construção, a expectativa é que a necessidade de finalizar as obras para a Copa e as eleições em outubro acelerem as vendas de materiais para obras de infraestrutura, afirma Walter Cover, presidente da Abramat, que reúne os fabricantes do setor. No entanto, o resultado do primeiro trimestre decepcionou. As vendas cresceram apenas 1% entre janeiro e março", diz.

 



Compartilhe:

<< Voltar

Nós usamos cookies em nosso site para oferecer a melhor experiência possível. Ao continuar a navegar no site, você concorda com esse uso. Para mais informações sobre como usamos cookies, veja nossa Política de Cookies.

Continuar