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Adiar racionamento trará déficit severo em 2015

Veículo: Valor Econômico

 

Seção: Economia

A aproximação do fim da temporada de chuvas e o baixo nível dos reservatórios, principalmente nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, tornam o racionamento de energia cada vez mais necessário, na avaliação de analistas. Para eles, se o governo não adotar medidas de redução obrigatória de uso de energia neste ano, o impacto em 2015 será grande. Para os analistas do Citi Research e do BTG Pactual, é praticamente certo que as metas traçadas por órgãos oficiais e por consultores para evitar o racionamento não serão atingidas. O UBS afirma que os argumentos do governo federal não são convincentes para explicar por que o risco de déficit no abastecimento de energia ainda é considerado baixo.

"Entendemos que o governo brasileiro ainda não abriu um diálogo com o mercado, incluindo grandes consumidores de energia, o que aumenta nossa preocupação de que não vai decretar ou planejar um racionamento de energia, mesmo se for necessário", escreveu a analista Lilyanna Yang, do UBS.

Antonio Junqueira e João Pimentel, analistas do BTG Pactual, acreditam que quanto mais riscos o governo aceitar ao evitar um programa de racionamento, mais crescem as possibilidades de um apagão. "A falha em implementar imediatamente o racionamento torna claro que as decisões até agora foram políticas, e não técnicas", acrescenta a equipe do Citi.

O banco Brasil Plural foi o primeiro a dar como certa a economia obrigatória de energia. No mês passado, os analistas Francisco Navarrete, Tatiane Shibata e Arthur Pereira escreveram em relatório que a possibilidade de racionamento é de 100%. Para a instituição, não há como as usinas termelétricas funcionarem em plena capacidade o tempo todo para suprir o sistema, a utilização de biomassa pode ser comprometida para a geração por conta da má safra e os números utilizados para calcular a probabilidade de contenção da oferta de energia são otimistas demais.

"Por critérios técnicos, o Brasil já deveria ter posto em ação um regime de racionamento moderado em março, de 5% nas regiões Sudeste e Centro Oeste", afirmam os analistas do Citi. O BTG Pactual sugere um racionamento de igual proporção por um período de seis meses.

O mercado aposta que o governo vá segurar qualquer medida de economia compulsória de energia até ao menos o período eleitoral, em outubro. Esse temor se justifica porque as perdas políticas de uma medida impopular como o racionamento podem ser grandes, em uma votação que vai determinar quem será o presidente do país.

O BTG lembra que a seca atual é a pior na história recente do Brasil, comparada à de 2000/2001. Na época, o programa de racionamento levou os eleitores a mudarem sua posição em relação aos governantes, diz o banco. "Vemos como real o risco de os tomadores de decisão brasileiros adiarem esse plano, mesmo que indicadores técnicos sugiram que ele seja necessário", afirmam Junqueira e Pimentel.

Além disso, as casas de análise comentam que não há meios de se justificar a falta de um racionamento, caso ele realmente se prove imprescindível. Yang, do UBS, por exemplo, afirma que adiar a economia de energia aumenta as chances de que o quadro seja mais crítico no futuro.

"Os números divulgados pelo governo federal divergem dos apresentados por Mario Veiga, da firma de consultoria PSR. O governo continua rejeitando os riscos de racionamento", diz Lilyanna. O BTG concorda: "As autoridades estão abertamente otimistas demais. Nos últimos meses, as declarações foram de 'mesmo que não haja uma gota de chuva, não haverá racionamento' à apresentações avançadas que mostram baixo risco."

Se a falta de iniciativas do governo for muito adiante e as chuvas não vierem, é grande a possibilidade de um racionamento severo em 2015, de cerca de 20%, diz o Citi. "As eleições são em outubro, perto demais [do menor nível na série histórica], que é em novembro", lembra o banco.

 



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