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Pioram previsões do BC para PIB, inflação e investimento

Veículo: Valor Econômico

 

Seção: Economia

As previsões do Banco Central para a inflação pioraram desde dezembro, apesar das elevações da taxa básica de juros em janeiro e fevereiro. Sem nova alta da Selic, atualmente em 10,75% ao ano, em vez de cair para 5,6%, como se esperava no fim do ano passado, a inflação anual do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiria para 6,1% em 2014. As projeções fazem parte do Relatório Trimestral de Inflação, divulgado ontem.

A variação do índice seria maior que em 2013, quando foi de 5,91%, mesmo com o Produto Interno Bruto (PIB) crescendo modestos 2% este ano. Em relação ao relatório de dezembro, que considerava variação do PIB em 12 meses só até setembro de 2014, a projeção relativa ao nível de atividade também piorou, pois o BC trabalhava com crescimento de 2,3% no período, igual ao observado em 2013. Do lado da demanda, a queda de ritmo será puxada pelos investimentos, que devem avançar só 1%, ante 6,3% no ano passado. No relatório de dezembro, a previsão era de expansão de 3,7% em quatro trimestres até setembro. Do lado da oferta, o setor agropecuário puxará o recuo, pois crescerá só 3,5%, ante 7% em 2013.

 

 

O "cenário de referência" do relatório, que pressupõe manutenção do juro básico, considera taxa de câmbio em R$ 2,35. Mesmo se a Selic seguir a trajetória que era esperada pelo mercado em meados de fevereiro, as novas projeções apontam inflação mais alta em 2014. O IPCA avançaria 6,2% no chamado cenário de mercado, que pressupõe juro básico de 11% ao ano e dólar a R$ 2,48 no último trimestre.

No relatório de dezembro, considerando as trajetórias de câmbio e juros então esperadas pelo mercado, o BC projetava inflação de 5,6% em 2014.

Em relação a 2015, o novo relatório também pinta um quadro pior, pois a variação projetada do IPCA passou de 5,4% para 5,5% no cenário de referência e de 5,3% para 5,5% no cenário de mercado.

Mesmo num horizonte um pouco mais longo de tempo, as projeções não vislumbram recuo da inflação para 4,5%, ponto central do intervalo da meta fixada pelo governo. Em 12 meses até março de 2016, até onde vão as projeções, o BC calcula inflação de 5,4% e 5,2%, respectivamente em cada cenário.

O risco de a inflação ultrapassar 6,5%, teto do intervalo de tolerância, também está mais alto. Em dezembro, a probabilidade de estouro do limite em 2014 era calculada em 27% e 28%, respectivamente em cada cenário, percentuais que subiram para 38% e 40%.

Questionado sobre a eficácia da política monetária, o diretor de Política Econômica do Banco Central, Carlos Hamilton Araújo, reconheceu que a inflação ainda está alta. Mas procurou demonstrar que os aumentos de juros são a melhor resposta que a instituição pode oferecer contra a inflação e que a economia vem sim respondendo ao aperto monetário iniciado em abril do ano passado.

Ele argumentou que, no acumulado de 12 meses, a inflação medida em fevereiro de 2014 por diversos índices é menor que a verificada um ano antes. "Se a Selic estivesse em 7,25% ao ano teríamos esse quadro de melhora da inflação? Acredito que não", afirmou.

Além disso, os aumentos já ocorridos de juros ainda não surtiram todo o seu efeito, acrescentou o diretor, durante entrevista em que também foi questionado sobre a redução do ritmo de elevação da Selic na última reunião do Comitê de Política Monetária do BC. E voltou a destacar que, "em momentos como o atual, a política monetária deve se manter especialmente vigilante" para evitar risco de persistência dos níveis elevados de inflação.

A piora das projeções para o IPCA foi influenciada pela expectativa de que os preços administrados e monitorados por contrato subam mais que o esperado antes. Em vez de 4,5%, eles deverão subir 5% em 2014. A energia elétrica, especificamente, deverá aumentar 9,5% este ano e não mais 7,5%.

O Banco Central reconhece, no relatório, que os preços administrados e monitorados estão desalinhados e em patamares baixos. Hamilton admitiu que o represamento de reajustes dificulta a coordenação de expectativas inflacionárias pelo BC. "É um vento contrário porque certamente as expectativas de inflação trabalham com a correção desses preços em algum momento".

Falando de fatores inflacionários, o diretor do BC voltou a bater forte no distanciamento entre reajustes salariais e os ganhos de produtividade das empresas no Brasil. "A inflação dos salários ainda está muito elevada", disse ele, lembrando que, em 12 meses até fevereiro, os rendimentos do trabalho cresceram 9% em termos nominais e 1,9% em termos reais. Para os próximos trimestres, o BC espera moderação da inflação de salários, o que segundo ele "é importante".

 



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